Vampiros de respeito

Osamu Tesuka recebeu, ainda em vida o apelido de “Manga no Kami” o Deus do Mangá. E ele absolutamente merece o titulo. O cara pavimentou o caminho que a galere seguiria depois.

A sua primeira obra que vi foi Don Dracula, uma comédia foda que veio pra cá há muito e muito tempo, tendo passado pela Rede Manchete e pela Gazeta ou CNT, salvo engano.

Drácula está de saco cheio de ser perseguido por caçadores de vampiros, e depois de sua esposa ser morta, resolve partir pro Japão, onde acredita estar seguro das superstições e simbologias cristãs.

Ele trás junto o criado escroto Igor e sua filha Sangria (Chocola no original). Ao mesmo tempo em que tenta se adaptar a vida na moderna Tóquio (pelo menos a moderna dos anos 70), com seus costumes e neuroses estranhas, Drácula tem que lidar com os ataques ocasionais de seu arqui-inimigo, o professor Van Hellsing e da adiposa Blonda, uma gordaça de quem Dracula sugou um pouco de sangue e ela se apaixonou.

Ele tem quase todos os clichês clássicos de vampiros, naqueles níveis bem cômicos. Só suga sangue de mulheres bonitas (exceto que confundiu Blonda com uma) tem medo de cruzes e alho, morre se for exposto ao sol, etc, etc. Seus poderes variam um pouco, dependendo da necessidade da trama, mas nada como Alucard de Hellsing por exemplo. Sua arrogância e busca incessante de mulher boa é o que normalmente o faz se ferrar e ele é a vitima da maioria das piadas do desenho.

Sangria está bem adaptada a vida no Japão e inclusive cursa uma escola noturna. Ela é bastante ciente das bobeiras do pai e frequentemente insiste que ele tem que parar de viver no século 18 e se adaptar.

Parte de “adaptar” é representado na figura de Igor o criado. Corcunda, careca, caolho e esforçado Igor serve aos Dracula fielmente embora reclame bastante e tenha sido contaminado com ideias modernas como “direitos trabalhistas”. Ele conduz a família de um lado ao outro da cidade em uma carruagem puxada por cavalos. Muito mais foda que dirigir uma droga de van.

Estou tentando entender uma coisa sobre Van Hellsing até hoje. Tenho minha teoria mas preciso confirmar. Mas já chego lá. Van Hellsing aqui é a mais absurda encarnação do personagem já vista. Um baixinho careca e nervosinho ele é até bastante inteligente e capaz, mas cada vez que está próximo de aplicar o golpe final, é acometido por um violento ataque de hérnia e obrigado a fugir. ENTRETANTO, sempre me pareceu outra coisa e isso é reforçado pelas reações tanto de Van Hellsing quanto dos outros personagens. O professor seria acometido por uma crise de diarreia nervosa. Isso ou hemorroida

Aparece de vez em quando uma figura esquisita, um tipo de morcego antropomórfico (eu queria usar essa palavra essa semana, mas não conseguia encaixa-la em conversas casuais), com uma espécie de sacola nas costas, óculos e guarda-chuva. Ele normalmente é o narrador da historia, mas se envolveu na trama umas duas vezes.

Incrível como esse desenho se mantém engraçado, datado aqui e ali, mas em aspectos irrelevantes. Como é praxe nos trabalhos de Tesuka, há momentos dramáticos e tristes misturados à comedia, como o episodio dos filhotes, que praticamente traumatizou um camarada meu.

São poucos episódios, 8 apenas, e é curioso que é uma das obras menos revisitadas de Osamu Tesuka. Não que haja muitos remakes ou coisas do tipo, pouca gente se arrisca a refazer trabalhos dele, mas tem muito menos destaque do que Black Jack, Kimba ou Astroboy.

É extremamente fácil achar os episódios dublados, com qualidades variadas por aí. Então você não tem absoluta desculpa alguma para não ver.

Fiquem com a abertura que é puro Disco!