Diários da Terapia 03 – Exorcismo

Não o meu, relaxem.

Todo mundo tem um hábito que pra outras pessoas pode parecer algo positivo, um sinal de organização ou seriedade, mas que na verdade é algo besta. O meu hábito assim é o de fazer listas. Seria uma beleza se eu seguisse as listas que faço, que as usasse como guia para um dia a dia mais organizado e produtivo, mas essa não é a realidade. Faço listas de inúmeras coisas pra fazer e elas morrem ali na lista.

Um dos objetivos hercúleos desse ano é colocar as coisas que tenho listadas em prática, e eu tenho listas de temas do Vira Página pra estruturar pauta e gravar, lista de exercícios pra melhorar a minha saúde física, lista de músicas para praticar baixo e violão, lista de coisas para consertar/montar/ restaurar, lista de estudos voltados a minha especialização profissional, e além dessas eu possuo uma lista particularmente vergonhosa: a lista de livros que eu parei a leitura na metade e preciso terminar.

Tem uns treze livros nessa lista, médios e grandes. Livros que parei de ler pois tinha uma leitura mais interessante, livros que eu parei de ler pois não estava no clima pra determinado estilo, livros que eu parei de ler porque achei chato. O livro do post em questão pertence a essa última categoria.

Lançado no Brasil é uma edição belíssima, Exorcismo é um livro escrito por Thomas B. Allen em caráter documental. Para a confecção da obra o autor entrevistou e visitou locais onde, no final da década de 1940 ocorreram fenômenos atribuídos a uma provável possessão demoníaca. Essa possessão se tornou famosa na época, baseando o romance O Exorcista, escrito por William Peter Blatty e o filme homônimo de 1974, um clássico do cinema de horror.

Além de entrevistas, Allen teve a sorte de encontrar a cópia de um diário da época dos acontecimentos, escrito por um dos padres que auxiliava o exorcista a pedido de seus superiores da igreja. O diário inclusive está transcrito integralmente no final do livro, seguido de outras referências bibliográficas, posfácio e notas adicionais dos capítulos.

Talvez o erro da publicação deste livro esteja no marketing. A Darkside é uma editora cujo carro chefe são publicações de terror, e esse livro foi vendido como tal, com reviews (talvez patrocinados) e descrições em sites de livrarias o taxando como uma obra de terror incrível. Não é esse o caso, e talvez nem tenha sido esse o propósito do autor.

Esqueça pirotecnias, cabeças girando, gente levitando e jatos de vômito verde pegajoso. Dentro do que pode ser possível em um tema assim, o que o livro entrega é um relato jornalístico do que talvez seja o mais famoso e bem documentado caso de possessão demoníaca da era contemporânea, desde as primeiras manifestações, passando pela abordagem sistemática de religiosos até a conclusão.

Quando você finalmente entra no clima e na velocidade devagar porém constante do desenrolar da história o livro se torna agradável de se ler, o que pra mim demorou um bom tempo e um número considerável de páginas, mas depois transcorreu de modo bem agradável. Inclusive é uma leitura recomendada aos mais medrosos ou impressionáveis, garanto que ela não lhe perturbará o sono.

Voltando ao trabalho da Darkside em cima da publicação, esse deve ser um dos livros mais luxuosos feitos por eles que eu possuo. De cara somos agraciados cum uma bela arte, simples e impactante em capa dura, com uma cruz branca com textura mais áspera que a capa. A parte interna de capa e contracapa vem com uma arte simulando um tabuleiro Ouija, que faz conjunto com um marca página no formato da placa onde se deposita a mão ao se fazer perguntas aos espítitos.

Parece ser um tabuleiro funcional? Sim.
Dá pra utilizar como um? Talvez.
Eu tentei? Não.
Eu pretendo tentar algum dia?…

Indo para o miolo do livro, temos páginas em papel pólen de excelente gramatura, levando até a pergunta: esse livro realmente merecia esse cuidado todo? O livro é de modo geral bem sóbrio, com artes simples no começo de cada capítulo, e uma página completamente negra marcando onde se localizam os diários e as notas sobre cada capítulo. O marca página acaba se tornado uma peça sobressalente, já que o livro possui um fitilho dourado para marcar a leitura.

No balanço geral Exorcismo é uma publicação interessante, porém mais voltada àqueles que gostam do assunto, não é um livro que seja muito a cara de um fã de terror mais geral. Aos colecionadores de publicações bonitas porém, temos aqui um prato cheio. Nota 6,5.

Godoka
30/06/2020