DC: A Nova Fronteira
Porque nem só de lixo vive uma coleção safada.
Enquanto as feridas abertas pela Segunda Guerra Mundial cicatrizavam, a Guerra Fria fazia novas. A onda de paranoia que assolou os Estados Unidos e ficou conhecida como Caça às Bruxas não poupou ninguém, inclusive a tão respeitada Sociedade da Justiça. Obrigados a revelarem suas identidades para o governo, muitos resolveram aposentar suas identidades secretas e seus papéis no combate ao crime, alguns inclusive tirando algum proveito disso, como o Pantera. Praticamente apenas Superman e Mulher Maravilha foram poupados, contanto que aceitassem missões governamentais.
Mas a aposentadoria da velha guarda não impediu o surgimento de novos prodígios, como o velocista misterioso de Central City que tomou para si o nome de Flash, usado anteriormente por Jay Garrick. Em Gotham, o justiceiro mascarado apelidado de Batman age no limite da lei, causando tanta admiração quanto medo. Um grupo formado por quatro aventureiros que escaparam da morte por pouco se unem para encarar missões insólitas, se batizando de Desafiadores do Desconhecido, assim como quatro párias conhecidos como Patrulha do Destino.
Na Costa Oeste, o piloto de testes Hal Jordan é abduzido para um local no meio do deserto, onde um alienígena moribundo lhe entrega uma das mais poderosas armas do mundo. Sem saber o que fazer e se pode fazer algo, ele a guarda. Na cidade do homem morcego, outra estranha figura age, porém dentro da lei. O policial John Jones é um dos melhores da corporação, dotado de um instinto quase sobrenatural. Um dia, ao deter um culto que praticava sacrifícios humanos, John encontra um futuro aliado na figura do Batman, e descobre um mal tão grande que pode acabar com a vida humana na Terra, uma entidade que é conhecida apenas como O Centro.
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O meu primeiro contato com A Nova Fronteira não se deu com os quadrinhos, mas com o longa animado baseado neles. Lembro que uma colega de faculdade no meu primeiro ano me passou um pen drive com tal animação e uns discos de power metal. Os discos tiveram efeito posterior na minha vida, mas o impacto da animação foi imediato. Na época minha leitura de quadrinhos era ínfima, e meu conhecimento quanto à maioria dos personagens da DC era baseado no desenho da Liga da Justiça, então cenas como Hal Jordan matando um homem com um tiro na cabeça, ou a Mulher Maravilha comemorando com mulheres no Vietnan após as mesmas trucidarem seus algozes do sexo masculino foram um impacto e tanto.
O quadrinho escrito e desenhado por Darwyn Cooke e com cores de Dave Stewart só foi lido por este que vos escreve quase um ano depois, em scan. Além da trama irretocável, tem algo nos desenhos do Cooke que me passavam a impressão de estar assistindo a animação novamente. A Nova Fronteira acaba sendo, na minha opinião, uma das raras revistas lançadas depois dos anos 2000 que podem ser chamadas de clássico e figurar lado a lado de nomes como Piada Mortal, ou Crise Nas Infinitas Terras, por exemplo. Por mais que Liga da Justiça Ano Um seja uma ótima história, Nova Fronteira tem uma abrangência de eventos que a acaba legitimando como o início perfeito do Universo DC nos quadrinhos.
O primeiro encadernado apresenta como extra uma parte de Adventure Comics 466, de 1979. A curta história mostra exatamente a aposentadoria forçada da Sociedade Da Justiça nas mão do Comitê de Atividades Antiamericanas, um episódio vergonhoso do país. Assinada por Paul Levitz e Joe Stanton, é uma boa história curta. A revista parcialmente reproduzida no segundo encadernado é DC Showcase, de 1958, que marca a estreia de Adam Strange, hoje um personagem b mas que nos anos 60 era uma das principais estrelas da DC em suas aventuras no planeta Rann.
Saldo final: assim como a coleção Marvel original da Salvat foi adquirida por mim na empolgação de possuir títulos como Queda e Murdock e Arma X, Nova Fronteira é um dos poucos títulos que fariam a coleção DC da Eaglemoss valer a pena. Sim, valeria, já que, pra um leitor médio de quadrinhos ou até mesmo um adolescente que está começando a sua coleção, pagar quase 100 reais (visto que são dois encadernados) em uma história é um puta absurdo.