Como Nasceu o Baidu
Era uma vez…
… um vilarejo pacato no interior da China, próximo da província de Non-Xien Chi. Nesse momento você deve ter imaginado uma daqueles lugares rurais que aparecem nos filmes e, acredite, era exatamente assim que o vilarejo se parecia. As pessoas eram felizes, as crianças brincavam nas ruas até próximo do anoitecer e todos se conheciam, pois o vilarejo não era muito grande. É difícil de descrever com palavras um lugar de tanta paz e tamanha beleza bucólica.
Todas as famílias da área retiravam o seu sustento trabalhando no grande arrozal do vilarejo. E de fato era um belo e imenso arrozal, privilegiado por sua localização, nas planícies de Dao ku e utilizando toda a extensão leste do leito fértil do rio Noku. Todos os adultos da vila trabalhavam no arrozal, e se sentiam felizes trabalhando no arrozal. O fruto do seu trabalho era o suficiente para sustentá-los durante todo o ano sem problemas, mas também sem muitos luxos. Mas o luxo não fazia falta para os moradores do vilarejo.
Alguns jovens que queriam mais do que Dao Ku poderia oferecer se aventuraram nas grandes cidades da China, mas logo voltavam para suas casas. Para eles não havia maior felicidade que a que encontravam em Dao Ku. Mas essa não é uma história sobre felicidade.
As pessoas do vilarejo não se importavam com o progresso, mas o progresso se interessava em Dao Ku. E como acontece em toda grande cidade, ela precisa se expandir, assim como um tumor. E, de pouco em pouco, o verde que existia foi tomado pelo asfalto e pelo concreto. O silêncio e o canto dos pássaros foram trocados por sirenes e buzinas. O azul do céu foi ficando cada vez mais cinza.
O rio Noku, o grande e fértil rio Noku, de águas cristalinas e grandes peixes foi ficando cinza, e seus peixes desapareceram. E com a morte do rio Noku, o arrozal também se foi, dando lugar a uma área alagada e poluída, um pântano tóxico. Os felizes moradores do vilarejo se transformaram em assépticos trabalhadores de fábricas, apenas massa para produção. Mas essa história também não é sobre os moradores.
Os arquitetos do progresso tinham agora um problema a resolver: o que fazer com o pântano? “Não podemos drená-lo, muito menos utilizar a sua água.” disseram. E como não poderiam tirar algo dele, o transformaram em um grande esgoto, com todas as fábricas despejando seus detritos no outrora maravilhoso arrozal. E não só o que era líquido era dispensado no pântano, fábricas de eletrônicos dispensavam seus aparelhos velhos e chips defeituosos no pântano, aproveitando de seu solo movediço para encobrir seus crimes ambientais.
Mas um dia, o pântano voltou a ser lembrado, e não apenas pelos moradores da região, mas por toda a China! Quando o governo chinês ficou sem saber onde despejar a imensa quantidade de aves sacrificadas durante a epidemia da gripe aviária (que lá ficou conhecida como A Glande Feble do Flango), milagrosamente perceberam que a resposta estava em Dao Ku! E assim tonelada e mais toneladas de aves impróprias para consumo humano foram despejadas no arrozal.
Lembram que eu disse que essa não era uma história sobre os moradores do vilarejo? Pois bem, eu menti um pouco. Não é sobre todos, é claro, mas sobre uma moradora em específico, uma velha monja chamada Li. Li foi obrigada a trabalhar nas fábricas para conseguir se sustentar, era isso ou a prostituição, que não parecia um ideia muito lucrativa. Li, apesar de uma vida dedicada a alcançar a harmonia e a paz por meio da contemplação, não conseguiu se desvencilhar do enorme ódio pelo progresso que crescia em seu coração. Ódio por tudo que ela sempre amou ter sido tomado.
Então uma noite, quando sentia que não tinha mais muito tempo de vida, Li se dirigiu ao pântano, que se transformou em uma imensa massa podre com pedaços de celulares e computadores boiando aqui e ali. Munida de um pequeno galão de gasolina e uma caixa de fósforos de motel, Li ateou fogo em seu corpo e saltou em direção ao coração do pântano enquanto recitava uma antiga maldição. Por um breve momento nada aconteceu e o corpo carbonizado de Li foi absorvido pelo pântano.
Porém subitamente, o velho pântano começou a borbulhar, expelindo imensas nuvens de gás tóxico. Ratos saíam dos esgotos e enlouquecidamente saltavam para a morte em direção ao pântano, labaredas enormes de fogo azul emergiam e um imenso raio surgiu, não com a impressão de cair sobre o local, mas sim de ascender aos céus!
O tempo se passou, as pessoas esqueceram do ocorrido e o vídeo gravado pelo funcionário de uma das fábricas teve apenas 15.000 visualizações no YouTube. Só que tinha algo de diferente acontecendo dessa vez, algo que começou aos poucos e agora está tomando conta do mundo em proporções catastróficas. Não importa o que você vai instalar, não importa em qual site você faça seus downloads, ele sempre está lá, lhe espreitando, invadindo a segurança do seu computador. Não importa fugir, ele sempre te alcançara. Só existe duas formas de se livrar dele, uma é o fogo, mas é apenas temporário. A outra forma, e definitiva, é um antigo ritual de exorcismo budista a muito tempo esquecido…
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Não percam a próxima e arrepiante história: A Origem do NETFLIX!