Coleção Pocket Panini: Mulher-Hulk
Um post onde o prólogo é maior que a resenha em si.
Antes de falar sobre a HQ em questão, é preciso relatar como eu cheguei a ela (tá, não é PRECISO, mas eu acho bacana contar essas bobagens). Eu não lia Deadpool desde que Marvel 99 tinha se encerrado pela Abril. As coisas mudaram em 2002 e a Panini assumiu os títulos Marvel e DC no Brasil e em 2003, passando pela banca, eis que vejo que a Panini estava publicando uma mini-série do personagem escrita por Gail Simone e com a arte a cargo do estúdio Udon, aquele que tem traço de anime baixa renda e que desenhou Transformers, Robotech e aquela história NOJENTA do Wolverine com o Justiceiro anjo ainda nos anos 90.
Comprei, me diverti, foi bacana, maaaaas…Deadpool MORRIA NO FINAL! Eu fiquei sem entender direito e a coisa só piorou quando a Panini anunciou que, de fato, o personagem tinha batido com as 12 e que no mês seguinte começaria uma nova série derivada daquela história e com um novo personagem, o Agente X.
Pois bem, resolvi acompanhar! Basicamente Agente X era a MESMÍSSIMA coisa do Deadpool, só que sem o uniforme e a máscara. O comportamento era o mesmo, as piadinhas na mesma linha, os relacionamentos com os personagens coadjuvantes eram idênticos…ou seja, era o Deadpool com outro nome e com a cara do Vin Diesel com uma cicatriz em forma de X nas fuças. Na época, diziam que era porque Rob Liefeld e a Marvel estariam tretando pelos direitos do personagem. Recentemente descobri que não foi nada disso. O fato é que as vendas do Deadpool estavam despencando vertiginosamente (o final da fase do Joe Kelly é bem ruinzinho e o que vem depois é ladeira abaixo total) e a saída “GENIAL” da Marvel era mudar o título da revista e colocar um “X” pra deixar mais relacionável aos títulos dos X-Men. Já tinham feito isso com o Cable (outra “criação” do Liefeld) mudando o nome de sua revista para “Soldado X”, então agora Deadpool seria o “Agente X”.
Obviamente isso fez tanto efeito quanto tentar enxugar o chão de um navio naufragando com um rodo e a revista durou apenas 15 edições ( um run de pouco mais de um ano? Até que não foi tão mal…durou mais que muita coisa do Liefeld na Image) culminando com a volta do Deadpool e o Agente X, tendo sua identidade revelada como sendo de um sujeito que absorveu parte da mente de Wade durante uma explosão psiquica, jogado ao ostracismo pra sempre (quer dizer…não sei se a Marvel ainda usa o personagem).
Mas porque eu falei tudo isso se nada tem a ver com a Mulher-Hulk? Acontece que na edição 7 da revista americana, Gail Simone saiu do título e com ela o Udon. Eles só voltariam na edição 13 pra fechar a história e revelar quem era o Agente X, segredo que Simone tinha levado consigo. Então, entre essas edições, além de novos roteiristas também entraram novos artistas. E foi nas edições 10 e 11 americanas, que equivalem a edição 5 brasileira, que eu o conheci! O sujeito com o traço mais cartunesco, engraçado, diferente e genial que passou pela revista! O homem, a lenda, o mito, o pouco conhecido da galera…Juan Bobillo!
Juan Bobillo tem um traço tão diferente do que se espera de uma HQ de super-herói que seu trabalho só pode ser encontrado em 19 revista publicadas no Brasil. Mas foi justamente seu traço único e sua narrativa cheia de humor que me fisgou. Fiquei obcecado pelo sujeito e li e reli a edição 5 de Agente X a exaustão (a história é muito bacana, com um Superman genérico contratando o Agente X pra tentar matá-lo já que não quer se suicidar, mas a tarefa é praticamente impossível) e então, quando tomei contato com a internet, resolvi procurar outros trabalhos do sujeito que eu pudesse comprar. Foi quando me deparei com a edição 5 (o 5 parece ser um número cabalístico aqui…) da linha Pocket Panini , linha essa que eu nem sabia que existia até então. Ela trazia o primeiro run completo do Dan Slott a frente da personagem Mulher-Hulk. Na época fiquei meio reticente com isso, já que Slott estava escrevendo o Homem-Aranha Superior na época e as pessoas estavam malhando o sujeito por isso. Mas tinha os desenhos de Juan Bobillo, e isso foi o bastante pra me convencer. Comprei no falecido site Livronauta por volta de 2014 e lembro que paguei entre R$14,00 e R$16,00 com o frete. Quando chegou em casa, me deparei com um formatinho em capa cartonada e com aquele papel vagabundo das mensais da Panini no inicio de suas publicações ( não sei se era o mesmo papel da Abril, mas estou quase certo que sim) e 276 páginas compilando 12 edições da revista da personagem. Ou seja, um run inteiro. Antes de falar dos prós e contras, uma pequena sinopse do que acontece na revista:
A vida é boa pra Mulher-Hulk! Ela é uma advogada de sucesso, usa seus privilégios como Vingadora pra tirar vantagem de algumas coisas, dorme com os homens mais cobiçados do planeta, faz uma festa dia sim e outro também e praticamente não volta a forma de seu alter ego, Jennifer Walters pois se sente muito mais a vontade sendo a venerada e adorada gigante esmeralda da lei! O problema é que o resto dos Vingadores não está muito feliz com isso. Graças a vida leviana e a despreocupação com os direitos dos outros por ser uma vingadora e poder burlar algumas leis com isso, além de quase sempre estar deixando a mansão do grupo uma bagunça sendo por conta das festas ou pelos novos ficantes que acabam zoando o sistema de segurança que não os tem na memória, a Mulher-Hulk tem causado uma série de transtornos e acaba sendo expulsa da mansão. Porém as coisas parecem que vão melhorar quando a gigante esmeralda recebe uma oferta de emprego em uma das empresas mais conceituadas no ramo da advocacia, a Goodman, Lieber, Kurtzberg & Holliway. Sua função é cuidar dos casos do departamento dedicado a assunstos super-humanos. Tudo parece perfeito…até que seu chefe, Holden Holliway, exige que quem venha trabalhar pra ele seja Jennifer Walters e não a Mulher-Hulk. Além disso, os casos super-humanos não vão se mostrar tão simples quanto os casos de pessoas comuns. E a coisa vai ficando cada vez mais maluca a partir daí.
Grande parte da fama da Mulher-Hulk se deve a fase do John Byrne, que é tida como a melhor coisa feita com a personagem justamente por não se levar a sério. Confesso que nunca havia lido nada dessa fase até recentemente, quando um capítulo veio no meio de um formatinho que comprei dia desses na feira. Então não sabia muito o que esperar dessa fase do Dan Slott. Devo dizer que eu ADOREI! O tom bem humorado, os momentos absurdos, as participações especiais de outros personagens da galeria Marvel em situações inusitadas, o teor meio Douglas Adams na histórias que envolvem outros mundos…tudo é muito divertido! E sabe quem abrilhanta ainda mais tudo isso? A arte de Juan Bobillo!
Bobillo sabe desenhar comédia, isso é indiscutível! E sua Mulher-Hulk passa exatamente toda a despreocupação e até a cara de pau da personagem achando que pode fazer o que bem quiser por ser quem é! Mas quando o desespero bate e ela percebe que não é bem assim que a banda toca, fica mais hilário ainda! Mas não se enganem achando que Bobillo não sabe desenhar ação! Apesar da HQ não se focar tanto em grandes combates, o pouco que se tem é muito bacana e graças ao roteiro de Dan Slott, alguns acabam de maneira inesperada e hilária. Destaque pra uma luta de boxe valendo o destino do universo!
Mas os desenhos das 12 edições não ficam exclusivamente nas mãos de Juan Bobillo. Em 6 delas os desenhos ficam a cargo de Paul Pelletier que, ao contrário de Juan Bobillo, já é um nome mais comum em títulos Marvel e DC lançados no Brasil, podendo ser mais comumente lembrado em títulos como Guardiões da Galáxia e no Aquaman dos Novos 52. Pelletier tem um traço mais “genérico” de comic e as gags visuais que Bobillo implementa simplesmente inexistem quando Pelletier assume. Até alguns visuais de personagens, que Bobillo deixa bem cômico, ganham contornos sérios e sombrios nas mãos de Pelletier, mesmo que sejam completamente contradizentes com a personalidade do personagem apresentada até ali. Um bom exemplo é o personagem Tryco Slatterus, vulgo “Campeão do Universo”, que na história com traço do Bobillo é desenhado com uma cara de tédio, uma calvicie acentuada e até com uma leve pancinha. Mas quando volta na história desenhada por Pelletier, parece o Thanos com uma peruca ruiva.
O roteiro se mantém ultra-divertido nas 12 edições, mas se você, assim como eu, gostar do traço e da narrativa bem humorada de Juan Bobillo, vai sentir MUITA falta quando Pelletier entrar. Já se você não gosta de traços que não sejam “100% comic” com músculos e dentes rangentes, vai adorar quando Pelletier entrar, mesmo soando genérico.
Agora falemos um pouco da edição da Panini. Como eu já disse, é um formatinho em capa cartonada, papel vagabundinho de formatinho (sigo não lembrando o nome do papel), 276 páginas compilando as edições 1 a 12 da revista da Mulher-Hulk de 2004. Com essa configuração toda econômica, você poderia jurar que quando foi lançado pela Panini em 2006, esse formato era um bom custo benefício certo? ERRADO! Apesar do formato pequeno e do papel de baixa qualidade, cada edição da linha Pocket Panini custava R$18,90, o que era uma nota em 2006! Pode ser que a tiragem tenha sido baixa devido ao formato meio “experimental” ou que a quantidade de páginas tenha influenciado no valor, mas o preço era muito salgado pra época! Isso sem falar que fora a edição da Mulher-Hulk e talvez as duas dos Fugitivos, nenhum dos outros títulos escolhidos foram uma boa aquisição pra linha.
O primeiro foi um Thor: Filho de Asgard, que conta a adolescência do personagem. Tá, esse até gerou um longa animado bem mais ou menos e eu tenho curiosidade de ler, mas não é algo que me vem a mente de imediato. O segundo número é estrelado pelos Inumanos, mas não os que a gente conhece e adora! É uma nova leva de inumanos e a história mostra seus problemas na escola. Os números 3 e 4 são focados nos Fugitivos,ou seja, temos dois runs inteiros dos personagens. Nunca li muita coisa dos Fugitivos mas dizem que é bacana. A edição 3 me gera um grande arrependimento até hoje, pois um senhor estava vendendo ela por apenas R$2,00 e eu só não levei porque ele também estava vendendo as primeiras edições da JBC de Yu YU Hakusho pelo mesmo preço. Quando voltei lá, Fugitivos já tinha sido comprado. Ah, e Fugitivos gerou uma série de TV que eu nunca lembro que existe. A edição 5 é a da Mulher-Hulk e a 6 é um tipo de historia policial focada no Bishop chamada Distrito X. E a coleção se encerrou aí!
Não sei se foi planejada pra serem apenas 6 mesmo mas duvido muito. Creio que tenha vendido pouco graças ao alto valor. Ah, e eu ia esquecendo de citar o maior defeito da coleção! Graças a quantidade exorbitante de páginas, seu tamanho diminuto e sua lombda quadrada, você precisa forçar a edição pra ler alguns textos que ficam no cantinho. Isso vai forçando a edição e a cola vagabunda, que vai secando com o tempo, vai se desgrudando. Eu mesmo tive que colocar cola na minha edição nessa releitura.
Apesar de tudo isso, não posso deixar de pensar que esse formato poderia render uma edição econômica nas bancas hoje em dia. Na mesma formatação e com o mesmo material, não creio que passaria de, no máximo, uns R$25,00. É só uma especulação, não fico fuçando preço de papel como a galera hoje em dia faz pra buscar alento no fato de estarem pagando fortunas em edições cada vez mais desnecessariamente “luxuosas” ou mesmo com preços absurdos em títulos populares enquanto outros menos populares mas com o mesmo acabamento gráfico custam bem menos. A linha que mais se assemelha a Pocket Panini hoje em dia são a Marvel Teens e DC Teen. Mas enquanto Marvel Teens tem material muito bom, como a saga do Miles Morales ou da Miss Marvel e até dos Campeões intercalando com coisa bem “nhé”, como o “pseudo-mangá” Homem-Aranha Ama Mary Jane, DC Teen se foca quase completamente em versões alternativas e adolescentes de seus personagens e alguns títulos que parecem a adaptação de uma série ruim da CW. A maior e melhor exceção é o recente Superman Esmaga a Klan, mas é um único acerto em meio a erros demais.
Bem que a Panini poderia pegar esse formato e publicar coisas não focadas apenas nos personagens adolescentes da Marvel e nas fan-fics bizarras da DC e publicar runs bacanas de personagens chavões ou runs inéditos no Brasil, ou mesmo bons runs de personagens menores. Mas talvez aí seja pedir demais, sei lá…
Hoje em dia essa edição da Mulher-Hulk não se encontra tão facilmente e, quando se encontra, não é tão barato quanto eu paguei na minha. No entanto, muitos podem ter lido os primeiros 6 números, já que eles saíram na edição 36 da coleção capa preta da Salvat.
Esse você encontra fácil mas nem sempre barato. Enfim, Mulher-Hulk do Dan Slott é uma HQ sensacional e divertidíssima que merece uma conferida! Então, se encontrar e couber no bolso, não deixe passar! Você não vai se arrepender! Mas, caso se arrependa, o problema é seu, já que gosto é subjetivo e você está confiando na opinião de um careca desiludido com a vida…
NOTA: 9,0
PS 1: Essa é um tanto óbvia mas, pra quem não pegou, a empresa pra qual a Mulher-Hulk vai trabalhar, a Goodman, Lieber, Kurtzberg & Holliway é uma homenagem aos membros fundadores da Marvel como a conhecemos, que são Martin Goodman, Stanley Lieber (nome real de Stan Lee) e Jacob Kurtzberg ( nome real do eterno rei, Jack Kirby). Holden Holliway é o único personagem 100% fictício e o único a aparecer na história.
PS 2: O segundo run de Dan Slott a frente da personagem foi publicada no brasil na revista Avante Vingadores da Panini em 2007. Infelizmente eu só tenho as edições 2 e 3 dessa revista que comprei num pacote “LEVE DUAS, PAGUE UMA” em 2008 e paguei só R$2,50. Queria muito que a Panini tivesse lançado esse run também no formato Pocket ao inv´es de dedicar DOIS FODENDO NÚMEROS AOS FUGITIVOS! Vale citar que esse run começa com a Mulher-Hulk sendo presa pela AVT por colocar em risco o fluxo do tempo. Sim, um plot muito similar a da série do Loki!
PS 3: Vou pegar a edição 5 do Agente X e fazer um post só sobre ela! FODA-SE TODO O RESTO!