A Ilha do Dr. Moreau: Uma Análise em 3 Partes pt.3 – O Filme de 1996

Pra encerrar com chave de cocô.drmoreau

Mais uma adaptação cinematográfica do romance de H. G. Wells e mais uma sucessão de erros. Dessa vez o personagem que cai no meio da loucura é Edward Douglas, que estava a caminho de Jakarta para trabalhar como intermediário nas negociações de uma tratado de paz quando seu avião sofre uma pane e cai no mar de Java. Junto com ele restam outros dois sobreviventes, que logo se matam em uma disputa pela última porção de água potável que possuíam. Após passar mais alguns dias à deriva, Douglas é resgatado por uma embarcação na qual se encontra Montgomery (interpretado por Val Kilmer), outrora um brilhante neurocirurgião, agora um porra loca dos caralho.

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Montgomery explica para Douglas que em breve eles chegaram na ilha onde Moreau conduz suas pesquisas. A base na ilha dessa vez possui melhores instalações, e a desculpa para isso foi a de que um resort seria instalado no local, porém seus investidores faliram, abandonando o projeto pela metade. Ao chegar na ilha, Douglas se depara com a bela Aissa (Fairuza Balk no auge da sua beleza), uma jovem inocente, aparentemente filha de Moreau. Douglas se lembra do nome de seu anfitrião, um ganhador do prêmio Nobel e um gênio na manipulação genética, que simplesmente desapareceu anos atrás. Montgomery explica que Moreau mudou-se para  a ilha pois sua pesquisa ia contra as leis de defesa dos animais.

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Após escapar de seu quarto, no qual havia sido trancafiado, Douglas adentra em uma instalação semelhante a um laboratório, onde testemunha uma equipe fazendo o parto de uma criatura bestial, que acaba dando a luz a um feto com características mais humanoides. Atordoado com a visão, o náufrago resolve fugir e acaba sendo ajudado  por Aissa, que o leva para outro ponto da ilha, onde vivem alguns dos seres criados por Moreau, os quais ele considera instáveis. Esqueci de mencionar, mas no caminho eles se deparam com o homem leopardo, que nessa adaptação é chamado Lo-Mai. Nessa hora acontece uma das piores cenas do filme, com Lo-Mai fugindo e exibindo uma amostra da pior computação gráfica que você vai ver na sua vida, ainda bem que o mesmo recurso só foi usado duas vezes durante o filme.

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Antes de se depararem com Lo-Mai, Douglas e Aissa encontram um dos coelhos criados na ilha totalmente destroçado, e o homem leopardo tinha sangue em seus lábios. O que os dois não percebem é que Hyenna (Ron Perlman sendo Ron Perlman) também estava ali e também comeu o coelho. Ao chegaram no assentamento, Aissa leva Douglas de encontro ao guardião da Lei, um homem bode cego, cuja função é recitar a  lei aos demais para que eles nunca se esqueçam. Logo depois das apresentações surge pela primeira vez a figura de Moreau, interpretada por Marlon Brando tocando do foda-se.

Deus do Trovão e protetor do Outworld...não, espera!

Deus do Trovão e protetor do Outworld…não, espera!

Neste filme Moreau assume uma postura divina muito mais acentuada que na outra adaptação cinematográfica ou mesmo no livro. O médico era sim visto como um deus que poderia ser muito maus aos homens fera, mas ainda sim se assemelhava mais a um cientista, um homem racional. O Moreau de Brando é uma divindade afrescalhada e que passa um ar de fragilidade física, que só obtém controle e respeito de suas criações através da tecnologia usada para incutir uma dor terrível nos mesmos.

Douglas é “resgatado” por Moreau, que explica seu trabalho e apresenta seus filhos, dos quais incluem Aissa (a única a possuir aspecto humano completo) e M’Ling, uma dos meus personagens favoritos do livro, mas que nessa adaptação e na anterior passa quase em branco. Diferente dos outros experimentos, os filhos de Moreau conseguem sobrepujar seus instintos primordiais por meio da racionalidade, por isso vivem em convívio com seu criador e Montgomery, além de ajudarem nas pesquisas.

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Agora pra parte que dá merda: Douglas e Aissa contam para Moreau que Lo-Mai matou um animal, desobedecendo a lei, e quem desobedece a lei tem que pagar. Ao realizar  o julgamento, Moreau decide perdoar o erro de Lo-Mai, mas um de seus filhos (que eu não me lembro o nome, puta que pariu, e eu assisti o filme a menos de meia hora!) mata o homem leopardo na frente dos outros homens fera, no qual se inclui Hyenna, aparentemente muito amigo de Lo-Mai. O corpo do ser é incinerado, e Hyenna, ao vasculhar os ossos de seu amigo, descobre a localização do implante que gera dor e o arranca. Como a Lei era obedecida com medo da dor, e como a dor se foi, a necessidade de seguir a lei também se foi.

Hyenna e mais alguns homens fera acabam se defrontando com seu criador, em uma das poucas cenas do filme que realmente valem a pena. Hyenna pergunta a Moreau o que ele realmente é, já que não se assemelha com seu criador, e por que o mesmo mesmo o faz sentir dor, já que ele alega que ama seus filhos. Depois dessa cena Hyenna e os outros matam Moreau, em uma cena que apesar de não mostrar nada acaba sendo bastante violenta. Atordoados pela situação, a merda começa a rolar solta, Pendrick vai à procura do soro que impede Aissa de retornar ao seu estado bestial, mas descobre que Montgomery destruiu tudo.

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Montgomery, por sua vez chapado pra caralho, vai até o covil dos homens fera e distribui drogas para todos, fazendo um surubolão tenso pra porra. O homem cachorro que matou Lo-Mai se junta a Hyenna e começa a foder a porra toda. Após isso vem uma sequência tiro, porrada e bomba semelhante ao filme de 1977. A putaria só termina quando Douglas, capturado, consegue dar um nó na cuca de Hyenna e o mesmo resolve se matar, indo de encontro ao criador para sanar suas dúvidas. No final ele era só uma criação perturbada e que não conseguia achar seu lugar no meio dessa bagunça.

O filme termina com Douglas improvisando uma jangada e se lançando ao mar, deixando os homens fera para trás, pra que possam viver por si só e criarem suas próprias leis. O final ainda guarda um monólogo do protagonista, que fala que durante anos viu seres humanos agindo como bestas, e que no final não somos tão diferentes das criaturas criadas por Moreau.

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Sinceramente, essa foi a segunda vez na minha vida que vi o filme, na primeira eu tinha 9 anos e as única coisas que haviam ficado em minha memória eram o home leopardo e a morte de Moreau pelas garras de Hyenna e seus seguidores. Tecnicamente o filme envelheceu bem, a maquiagem usada nos homens fera ainda é bem agradável aos olhos, o problema é mesmo com a supracitada cena da fuga de Lo-Mai e uma cena onde aparecem pequenas criaturas-rato em uma embarcação, o tipo de cena desnecessária que estraga o filme.

O filme funciona mais como uma releitura do filme de 77 do que da livro, existem muitos ponto-chave do filme que não existem na obra de Wells, como a mulher-felino, ou a destruição desenfreada do laboratório ou a morte de Moreau pela revolta de suas criaturas (no livro a fera que mata o médico é um leopardo no início da transformação, um ser ainda irracional). Eu pensava que esse filme seria uma perda de tempo sem igual, mas aproveita-se mais dele que do filme mais antigo. Apesar dos erros de passagem de tempo (passa-se um tempo considerável em uma parte do filme e isso não tem nenhum peso) e do enxerto de personagens que só estão ali pelo choque das suas aparências, essa película ainda procura, mesmo que de maneira rasa, levantar questões éticas importantes. O que acabou matando a obra foi justamente o excesso de cenas que estão ali para causar espanto em vez de reflexão. Uma pena.