A Bruxa de Blair (2016)
Hollywood está afundada em um poço de mesmice.
Segunda feira, dia de folga. Na geladeira pizza de ontem, uma coisa a menos pra se preocupar. Durante os sessenta segundos nos quais o almoço esquenta, procuro alguma coisa pra assistir e embalar a minha refeição. Eu geralmente encontro alguma coisa na página inicial mesmo, quase nunca procuro em gêneros, e quando procuro é sempre em terror. Apelai pra busca ali, o primeiro filme da fila é Bruxa de Blair, continuação lançada ano passado para o clássico de 1999.
De tempos em tempos a indústria cinematográfica americana escolhe um filme e o elege como “O Filme Mais Assustador de Todos os Tempos”, isso é uma alcunha muito interessante, mas se eles fossem um pouquinho mais sinceros iria virar algo como “Esse Aqui é Acima da Média, Então Nos Deem Dinheiro Indo Assistir no Cinema”. Mesmo com o filão do terror bem saturado, esse tipo de iniciativa acaba levando ao grande público coisas boas ou no mínimo interessantes, que pra gerar mais dinheiro acabam se perdendo em continuações desnecessárias. A fila até que é bem grande, A Bruxa, Insidous, Invocação do Mal, Atividade Paranormal, Cloverfield, Rec, O Sexto Sentido…
O primeiro filme que eu me lembro de ver todo esse hype é A Bruxa de Blair. Lançado em 1999, mesmo ano de O Sexto Sentido (mas esse eu vi bem depois), o filme é uma trama simples sobre três jovens estudantes de cinema que resolvem gravar um projeto para a faculdade, um documentário sobre a tal bruxa que assombra a floresta aos arredores de Burkittsville, uma pequena cidade no interior de Maryland. Os três jovens nunca mais foram vistos e o filme é o resultado de fitas de vídeo encontradas nos arredores da floresta. Vale lembrar que muita gente na época achou que se tratava de uma história real, já que parte do marketing em cima do filme foi a divulgação de notícias falsas sobre a descoberta das fitas entre outras coisas.
Hoje, para novos espectadores que cresceram e se acostumaram com tudo o que veio depois (e graças) a esse filme, ele pode parecer algo bobo, sem graça e com final previsível. Mas pra quem viu na época as impressões foram outras, em grande parte claro graças ao marketing do filme, mas também pelo fato de o que estava na tela era diferente do que estamos acostumados. O filme foi filmado com câmeras amadoras e semiprofissionais, e os atores também eram os câmeras, não havia música na trilha sonora e os ângulos de câmera e sequências deixavam os espectadores presos na trama pois eram crus, quase que uma experiência pessoal. Hoje em dia você pode encher um balde de DVD’s com filmes exatamente iguais, mas esse foi o primeiro. Anos depois foi lançado um segundo filme da franquia, mas esse todos sabiamente preferem esquecer.
Dirigido por Adam Wingard (V/H/S, Você É O Próximo), o filme se passa a exatos 17 anos do primeiro. Jason é o irmão de Heather, uma das três pessoas desaparecidas anos atrás. Uma nova pista na internet o encoraja a ir até a floresta de Black Hills para encontrar sua irmã desaparecida. Junto com ele vão Peter e Ashley, respectivamente seu melhor amigo e a namorada dele, e Lisa, que eu não entendi bem qual o relacionamento entre eles mas rola uma certa tensão sexual ali. Em Burkittsville eles encontram o casal de estranhos local Lane e Talia, os responsáveis por encontrar a filmagem e postá-la na internet, que concordam em mostrar onde foi com a condição de irem juntos. Grupo formado, algumas cenas de interação social para antipatizar com todos e tudo começa a dar extremamente errado após passarem a primeira noite na floresta.
Sabe aquela lista de filmes que escrevi uns três parágrafos acima? São todos filmes bons e ótimos, e todos compartilham de uma coisa em comum: são todos originais. Se não são originais, acabam disfarçando esse fato com uma boa direção e roteiro, além das atuações. E não tem nada disso aqui, com exceção da direção, que não é de todo mal. Dezessete anos após estar morta em enterrada, essa era uma franquia que realmente precisava ser trazida de volta? Já não basta o aborto que foi Bruxa de Blair 2? A cada ano um bom filme de terror ganha uma continuação terrível (com exceção de Isidious, esses eu acho maneiro), e a galera insiste em fazer mais. Não existe mais criatividade no grande circuito de filmes de terror de Hollywood, hoje em dia ou é continuação, ou remake, ou uma versão pasteurizada de algo foda estrangeiro.
Enfim, o filme está lá, quem quiser assistir assiste. Recomendado para almoços de domingo ou reunião de amigos, daquelas que ninguém fica prestando atenção no filme depois de uns 10 minutos.