Leia esta merda! – Ronin

A melhor coisa escrita por Frank Miller depois da Queda de Murdock

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Por mais que hoje Frank Miller produza coisas de gosto e qualidade no mínimo duvidosas, algumas obras do cara nos anos 80 figuram como as mais importantes da época. Em termos de desenho é melhor nem entrar no assunto pois o traço do camarada divide opiniões, mas quanto a narrativa e disposição de quadros, o cara sabe contar uma história como poucos.

Ronin foi o começo das experimentações de Miller quanto a narrativa, e que acabou se tornando a base pro que foi criado a seguir.

Reza a lenda que o hoje gagá ficou maravilhado ao folhear uma edição de Lobo Solitário, clássico dos mangás escrito por Kazuo Koike e desenhado por Goseki Kojima, tanto que o mesmo se prontificou a fazer as capas das edições americanas. Além disso, Miller começou a introduzir elementos orientais em suas HQs, um dos melhores exemplos foi o destaque dado a assassina ninja Elektra nas histórias do Demolidor. O arco “Eu, Wolverine”, escrito juntamente com Chris Claremont, é outro belo exemplo.

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Sobre a HQ em si, a história se inicia no Japão feudal, onde um jovem samurai acaba falhando na missão de proteger seu senhor do demônio Agat, que estava em busca da Espada Sangrenta, uma artefato capaz de matá-lo. Desonrado em sua missão, o samurai torna-se um ronin, um guerreiro errante. Anos após ter desaparecido com a espada, o ronin aparece e consegue derrotar Agat, porém o demônio conjura um feitiço e se aprisiona juntamente com o guerreiro na arma.

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Damos então um salto bizarro no temo para um futuro distópico. A cidade de Nova York ( e somos levados a crer que o resto do mundo também) está na merda. A raça humana está com os dias contados graças aos seus próprios esforços. Os recursos naturais estão cada vez  mais escassos, gangues fazem a lei nas ruas e a violência reina. No meio do caos surge a esperança na forma da Corporação Aquarius, uma companhia que desenvolve tecnologia avançada a base de um inovador bio-circuito sem fins bélicos.

Uma das pesquisas da Corporação Aquarius envolve a criação de membros cibernéticos controlados por ondas mentais, que utiliza Billy como objeto de pesquisa, um rapaz que nasceu sem as pernas e os braços, porém possui capacidades telecinéticas. Billy começa a ter sonhos com o ronin, mas não consegue entender o porque, até que os pontos se ligam. A espada foi encontrada e durante um experimento tanto Agat quanto a alma do guerreiro foram libertadas, e ele precisa do corpo de Billy para completar sua vingança nesse mundo a beira do fim.

Na minha opinião, as páginas mais bem desenhadas em toda a carreira de Frank Miller estão nessa mini que foi lançada em 6 partes e concluída em 1984. Além da disposição dos quadros, o dinamismo das cenas também impressiona. Outro grande mérito da HQ é quanto a sua colorização, um trabalho excelente por parte de Lynn Varley, colorista e ex esposa de Miller.

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Ronin não serviu de influência apenas em questão de novos padrões de narrativa. Influenciados pela HQ, Kevin Eastman e Peter Laird no mesmo ano criaram as Tartarugas Ninja, e em 2001 Genndy Tatarkovsky usou o mesmo conceito para criar uma dos melhores desenhos do Cartoon Network, Samurai Jack.

Leitura recomendada não apenas pela qualidade, mas pela importância na indústria de quadrinhos. Um pena que aqui no Brasil essa mini ainda não recebeu uma republicação em formato de luxo, pois merecia.

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Godoka
03/04/2014