Sherlock
Sabe, uma vez um cara muito chato e rancoroso disse que a coisa mais terrível em ser inteligente, é que você perde os detalhes ordinários. Sua percepção muda em tal ponto que você perde sua humanidade. Tudo se torna trivial. Isso é Sherlock. E muito mais.
Sentiram minha falta?
Um leve desabafo. Eu adoro séries britânicas apesar de ter assistido poucas. Além de terem ótimos roteiros, ao contrário da maioria das séries americanas, elas tem atores. Não modelos que decoram falas. A atuação sempre vem a frente da beleza. Isso permite uma certa humanidade nos personagens. Eles são normais ou até mesmo feios. E completamente apaixonantes. Além de estruturas de episódios que servem a história a ser contada e não a exigência de algum padrão rígido e conformista.
Voltando a programação normal. Essa semana vi a terceira temporada de Sherlock, o que me obriga a escrever sobre ela. Em 201o, Steven Moffat e seu amigo e parceiro de crimes constante Mark Gatiss, tiveram a ideia de trazer as aventuras do personagem mais famoso de Sir Arthur Conan Doyle para os dias de hoje. Cada temporada é formada por três episódios de 90min, com histórias fechadas, contudo formando um arco maior. Adaptando os livros clássicos para os tempos modernos. Aproveitando os recursos modernos e aprofundando nas personalidade das personagens.
Na primeira temporada temos a origem da parceria. O Dr. Capitão da Marina inglesa John Watson (Martin “Bilbo” Freeman), após sofrer um ferimento no ombro e com isso desenvolver um problema na recuperação do caminhar, foi dispensado do serviço militar na guerra no Afeganistão. Traumatizado, sem amigos e tentando se adaptar ao mundo civil e procurando por um apartamento pra dividir o aluguel, é indicado alguém perfeito pra seu estilo difícil de fazer amizade: Sherlock Holmes (Benedict Cumberbatch). Apesar do estranhamento inicial, ambos vão desenvolvendo uma grande amizade conforme os casos vão aparecendo e a parceria” simbiótica” dos dois vão dando resultados. Também somos apresentados a Greg Lestrade (Rupert Graves), o pobre chefe de policia o qual Sherlock atazana pra resolver os casos, mas que com o tempo vê o detetive como um amigo. Sra.Hudson (Una Stubbs), a gentil, paciente e inconveniente senhoria do prédio. E por fim, meus dois personagens secundários favoritos, Molly e Mycroft. Mycroft Holmes(Mark Gatiss), mais inteligente, mais frio e mais distante irmão mais velho de SH. Ele é melhor que Sherlock, mas odeia trabalho de campo, pois isso o obriga a ter contato com pessoas. Um burocrata chefe de inteligência. E Molly Hopper (Louise Brealey), a legista contato de Sherlock. Conforme os próprios produtores já confessaram em entrevistas, a personagem não deveria ter tanto espaço. Mas a empatia com o público foi tão grande que eles aumentaram sua importância ao longo dos episódios. Ela nutre uma paixão platônica pelo protagonista. Sempre tentando chamar atenção dele de alguma forma e tendo o pobre coraçãozinho sempre sendo pisoteado. Ela tem um misto de freak com fofa. Eu quase voltei pra assistir em loop a cena em que ela estapeia Sherlock.
Na segunda temporada temos os personagens lidando com o sucesso estrondoso do blog diário de John, sobre suas aventuras com Sherlock. Com isso tudo assume um ar maior e de celebridade. Tanto para bem, quanto para mal. Temos os casos mais famosos. O Cão de Baskerville, A Mulher e um certo M. O Final da série foi uma das melhores de todas. A queda de Murdock, no melhor dos sentidos.
A terceira vemos o desenvolver de John, tendo uma vida mais independente de Sherlock. E Sherlock mais humano, mais ligado ao seu time. Se fosse comparar com alguma fase de quadrinhos, eu diria Mark Waid no Demolidor.
Não posso falar muito dá terceira temporada pois acabei de ver o último episódio e não tem como explicar. O gancho da terceira é tão bom quanto o da segunda. E Benedict cuspiu na cara de Henry Cavill bonito. E é por isso que adoro esse show. Tudo é interligado, rápido e inesperado. E as pistas estão lá o tempo todo. E ao mesmo tempo que temos momentos fodásticos e massavéios, temos aqueles extremamente mundanos e falhos. Que vão da completa galhofa, ao ponto de fazer o espectador explodir em gargalhadas realmente altas, até sequências de puro pânico e temor. Sherlock não é o Batman. Ele não é um playboy com problemas mentais e choroso que veste meninos como alvos. Ele é mais como um Lex Luthor funcional que vê a mente criminosa como um desafio. Algo excitante que faz sua mente ficar ocupada. Tudo parte de um grande jogo. Como dito no inicio do texto, Sherlock é alguém tão inteligente, racional e perceptivo que ele esquece o que é sentir e se importar. Tendo verdadeiros desastres sociais motivados por comentários lógicos, sinceros e inapropriados. Ele é um homem desagradável, importuno e ainda assim incrivelmente carismático, divertido e disposto a ajudar. Quantos não se encaixariam nessa descrição?
E o melhor de tudo é que ele não é o melhor. Mycroft, Irene, Moriarty, Magnussen, todos são melhores que Sherry. Se ele é apenas um em um seleto grupo de pessoas no mundo, o segredo de sua efetividade? É que ao contrário dos outros que se desligaram completamente de sua moral e sentimentos, o rapaz do cachecol, ainda mantém um nível pequeno resquício dessa parte humana. E seu desejo de ver bem aqueles que ele “tolera”, o torna mais motivado. Ele tem tão pouco, que ele está disposto a ir muito além do que seus inimigos pra manter aquilo que tem. Ele é muito mais perigoso. E não se veste de morcego. E John é ao mesmo tempo o sidekick e o herói da dupla. Indo do cara normal, ao salvador eles fazem uma dupla perfeita, como o próprio Holmes define: “Eu sou apenas aquele que resolve os casos, John Watson é quem salva vidas”
Desculpe pelo longo texto. Espero não ter aborrecidos vocês. ;)