Homem-Aranha: Com Grandes Poderes…
Ou “Quero socar Peter Parker”.
Em 2010 a Panini lançou uma série de encadernados em capa dura publicando mini séries que sairam pelo selo Marvel Knights lá fora. A proposta dessas mini séries era reescrever alguns personagens sem amarras cronólogicas, podendo mudar suas origens e até algumas de suas cracterísticas. Dessa empreitada, acabei adquirindo Mitos Marvel, que recontava as origens de alguns dos principais personagens da Casa da Ideias com o ótimo roteiro do Paul Jenkins e a MARAVILHOSA arte pintada do Paolo Rivera, e Namor: As Profundezas, com ousado roteiro de Peter Milligan e os ESTUPENDOS desenhos de Esad Ribic. Chamo o roteiro de Peter Milligan de “ousado” porque, apesar de ter o nome do príncipe submarino no título, a HQ não se foca nele mas, sim, num capitão de um submarino em uma missão de resgate e ao invés de termos uma história de “super-herói”, temos uma história de terror. Considero uma das melhores coisas que li em minha vida de nerd tetudo!
Bem, mas o foco aqui é outro encadernado, esse estrelado pelo cabeça de teia e o qual eu não comprei mas peguei emprestado com meu velho amigo Filipe há uns 10 anos atrás e mantenho comigo até hoje porque esqueci de devolver e ele…simplesmente esqueceu que tinha! O que não é de se estranhar, pois Filipe era um cara estranho, preocupado com vida social, faculdade, vida profissional…essa coisa de gente esquisita que não vive em prol de gibizinho! Fato é que peguei “Homem-Aranha: Com Grandes Poderes…” pra ler na época…e ODIEI! Na verdade, nem cheguei ao final! Essa semana, resolvi aproveitar que tava na maratona do Aranha graças a empolgação pelo recente filme, e resolvi dar uma segunda chance. E algumas opiniões sobre a HQ mudaram…e outras não!
Bem, pra começar é preciso contextualizar! “Homem-Aranha: Com Grandes Poderes…”é escrito por David Lapham (Balas Perdidas) e desenhada por Tony Harris (Ex-Machina) e se foca no período em que Peter Parker usou seus poderes pra tentar ganhar fama e fortuna no mundo da luta livre e indo em programas de TV, coisa que é mostrada muito rapidamente em Amazing Fantasy 15. As maior diferença é que aqui a história é modernizada, se passando em 2008, temos uma maior participação do tio Ben e ainda temos a interação de Peter com os acontecimentos dos primeiros dias do Quarteto Fantástico como heróis. Bem, agora vamos as minhas impressões.
Quando li a HQ pela primeira vez eu fiquei indignado! DETESTEI! Primeiramente porque o Peter Parker retratado aqui é um PAU NO CU ARROMBADAÇO! Um moleque chato pra porra que algumas vezes despreza os tios como se fossem estorvos na sua vida, por melhor que o tratem, que quando acaba ficando famoso como Homem-Aranha deixa a soberba nas alturas e a coisa só vai piorando, principalmente quando ele sabe que pode fazer coisas pra ajudar os outros mas não ta nem aí! Então, nessa segunda lida, eu percebi algo. Se a história era atualizada e colocava o pé no “realismo”, ao contrário do tom fantasioso e heróico impresso por Stan Lee e Steve Ditko nos anos 60, era óbvio que Peter Parker ia agir assim, pois…ELE É UM ADOLESCENTE NORMAL! É o moleque de 15 anos que não gosta de ser visto com os pais pra não passar vergonha, que quer se dar bem com as meninas e se tiver uma coisa que lhe dê vantagem nisso vai usar sem escrúpulo e que acha que o mundo gira em torno dele. Eu queria socar o Peter Parker dessa história na primeira vez que li porque ele ia contra o Peter doce e gentil de sempre. Agora eu entendi a proposta, achei bem pensada…mas ainda quero socar o Peter Parker dessa história, mas com conhecimento de causa.
Outra coisa que me fez largar o encadernado na metade na primeira vez que li foi o fato de que ao invés de termos um inimigo clássico da galeria de vilões do herói, tínhamos como grande ameaça…UM MONSTRO GIGANTE! Não fazia sentido pra mim e eu achei ridículo! Anos depois eu leria os primeiros números do Quarteto Fantástico e relendo essa edição novamente na integra, entendi que o tal monstro gigante…aliás, os DOIS monstros gigantes que aparecem na história são da HQ do Quarteto Fantástico, mais especificamente das edições 2 e 3, e isso deu uma nova dimensão a trama, uma sensação de universo compartilhado mais direto que as edições originais. Isso sem falar que o encontro entre o Coisa e Peter meio que demonstra o quanto Peter ainda é imaturo.
Essa imaturidade fica ainda mais evidente e acaba meio que desembocando na parte mais fraca da história, que é o momento em que o Homem-Aranha começa a agir como um herói. Aqui não tem nenhuma nobreza nisso. Peter começa a agir “heroicamente” porque, durante sua carreira no mundo da luta livre, acaba se apaixonando por uma mulher mais velha que se torna sua empresária. Só que com a ascenção do Quarteto Fantástico como um grupo heróico faz com que J. Jonah Jameson comece a atacar o Aranha dizendo que ele poderia fazer algo de útil com seus poderes, o que faz a popularidade do aracnídeo cair, principalmente depois do ataque do monstro gigante enviado por Namor pra atacar Nova Iorque. Com isso, o pessoal da máfia que gerencia a liga de luta livre na miúda, obriga o Homem-Aranha a agir como herói para aumentar sua popularidade novamente ou sua empresaria vai pagar o preço. Achei isso bem horroroso e mina toda e qualquer nobreza que o personagem tinha, além de jogar o “Com grandes poderes, vem grandes responsabilidades” pelo ralo. Mais adiante, quando Jameson está pra ser assassinado pela máfia pra parar de fazer seus editoriais atacando o Aranha é que ele meio que desperta pra fazer algo certo por conta própria e temos um vislumbre do verdadeiro Homem-Aranha. Mas dá a impressão de ejaculação precoce, pois não temos a morte do tio Ben como ponto de virada. Aliás, tio Ben segue vivo até o fim da HQ!
No final, dos títulos
dessa linha que eu li, esse foi o mais
fraco, porém melhorou muito pra mim nessa segunda leitura. Não é uma HQ de origem
do Aranha que me viria a mente na hora de indicar a alguém, ainda acho a origem
do Paul Jenkins com o Paolo Rivera INFINITAMENTE superior, mas é uma reinterpretação
interessante. Entã, pra “Homem-Aranha: Com Grandes Poderes…”, é uma…
NOTA: 7,5
PS: Um dos primeiros uniformes usados pelo Aranha na sua carreira de luta livre nessa HQ é muito similar ao uniforme do Andrew Garfield no primeiro O Espetacular Homem-Aranha. Possivelmente tenha sido mesmo a inspiração pro design final do filme.