Review Assassino- Gunpowder Milkshake
Mais um John Wick wannabe?
Depois que o primeiro John Wick foi lançado, o cinema de ação nunca mais foi o mesmo. A premissa “roteiro simples + cenas de ação inventivas executadas pelo ator/pela atriz sem cortes e em longos planos abertos” praticamente reinventou todo o jeito como Hollywood fazia filmes de ação. Todo mundo queria fazer o novo John Wick, e algumas dessas tentativas resultaram em coisas muito boas, como Nobody, e outras em lixos inacreditáveis, como Beckman, o “John Wick de Cristo” que enfrenta um “demoníaco” membro da família Baldwin que é um xamã! Sim, é sério! Isso existe e é TENEBROSO! Dá só uma olhada nesse trailer:
Esses são só dois exemplos desse filão que, caso ainda existissem locadoras de vídeo, certamente estariam na novíssimo sessão “Filmes tipo John Wick”. E Gunpowder Milkshake, filme que chegou recentemente a Netflix americana mas que deve ser lançado nos cinemas no Brasil , é mais uma produção dessa “família”. Mas será que ele funciona? Antes de mais nada, uma sinopse básica:
Quando tinha apenas 12 anos, Sam viu sua mãe, uma assassina de uma organização chamada A Firma, deixá-la para trás. Ainda assim, Sam seguiu os passos de sua mãe e se tornou a assassina mais letal da Firma. Porém as coisas dão errado quando, em uma missão, Sam acidentalmente mata o filho de um perigoso bandido. Ao mesmo tempo, Sam é mandado pela Firma para achar um sujeito que roubou dinheiro da corporação. Sam acha o sujeito, atira nele mas acaba descobrindo que ele roubou o dinheiro pra pagar o resgate de sua filha. Sam resolve tentar salvar a vida do cara e resgatar a menina, mas na confusão o dinheiro é destruído e o pai da menina acaba morrendo. Agora Sam vai precisar lidar com A Firma, que quer o dinheiro de volta a qualquer custo, e com o pai mafioso que busca vingança pelo seu filho, tudo de uma só e perigosa vez.
Sim, só pela sinopse já dá pra ver que o roteiro é uma salada de reciclagem. E isso não seria um problema, se o filme usasse os clichês com alguns diferenciais, como Nobody o fez, por exemplo, trazendo um cara fora da ativa e enferrujando tendo que lidar com problemas gigantes como nos velhos tempos. Mas Gunpowder Milkshake não tem a mesma destreza e os clichês deixam o filme chatinho e previsível.
Há momentos em que o “quero ser John Wickometro” apita alto de tão descarado que alguns elementos copiados são. Enquanto em John Wick temos o famoso hotel The Continental, onde os assassinos não podem matar enquanto estiverem nas dependências ao mesmo tempo que podem comprar novos “materiais de trabalho”, em Gunpowder Milkshake o The Continental foi dividido em dois lugares diferentes. O primeiro é a lanchonete estilo anos 50 do inicio do filme, onde os assassinos vão negociar contratos mas tem que deixar as armas com a garçonete na porta. O segundo é a livraria onde os assassinos podem comprar armas que ficam escondidos dentro de livros.
O outro elemento é o lance do “matei o filho do chefão”. No próprio John Wick esse vira o plot do meio pro final do filme, já que no começo ele tá perseguindo o cara e o pai do moleque fica tentando convencê-lo a não matá-lo. Em Nobody é o que move o plot do filme, já que Hutch Manssel/Nobody espanca o moleque num acesso de fúria e ele acaba morrendo bem depois sem que ele soubesse. E enquanto em John Wick conhecemos o moleque e sabemos que ele é um filha da puta escroto desde o começo e seguimos ele por metade do filme, e em Nobody sabemos que o moleque é um merda pela cena do ônibus, em Gunpowder Milkshake só mostra um grupo de pessoas sendo mortas no começo e, mais adiante, o filme mostra um cara olhando pra um corpo e dizendo “eita, fodeu, é o filho do chefe!”. Mas…CHEFE DO QUE? QUEM ERA ESSE MOLEQUE? PORQUE NÃO ME MOSTRARAM ELE UM POUCO PRA ME DAR UM CONTEXTO DA IMPORTÂNCIA DELE PRO PAI OU SÓ PRA EU SABER QUEM ERA, JÁ QUE MORRERAM UMAS 30 PESSOAS AO MESMO TEMPO E ELE PODERIA SER QUALQUER UM? E esse é o primeiro de muitos problemas que o filme vai trazendo no seu decorrer.
Olha, eu gosto da Karen Gillan! Ele é uma boa atriz e tem carisma. Quando eu descobri que era ela quem fazia a Nebulosa em Guardiões da Galáxia, eu fiquei surpreso não só pela interpretação quanto pela sua desenvoltura em cenas de ação. Quando a vi em Jumanji, vi que ela estava meio travadinha nas cenas de porradaria mas julguei que o uso excessivo de cabos poderia ser o culpado. Vendo Gunpowder Milkshake, eu passei a acreditar que em Guardiões da Galáxia ou era uma dublê em boa parte das cenas ou ela teve uma equipe de dublês melhor para treiná-la, já que em Gunpowder Milkshake não tem uso de cabos mas a vi tão desengonçada em alguns momentos como em Jumanji…
A atriz tem 1,80m de altura e é magrinha, e normalmente pessoas altas e magras parecem mais desengonçadas para correr, por exemplo. E a impressão que se dá em alguma cenas de luta em plano abeto e sem cortes, e que ela não é uma assassina altamente treinada, mas uma pessoa alta e desengonçada que sabe dar um golpes. Aliado a isso não temos a fluidez necessária que uma cena de luta exige pra soar verossímil. Por vezes as cenas não parecem lutas mas danças com passinhos ensaiados estilo “dois pra lá, dois pra cá” e você quase consegue ver a marcação dos golpes do tipo “aqui você bate e eu defendo e aqui eu bato e você é atingido”. A cena de luta no boliche ainda no inicio do filme deixa isso bem evidente e o fato do trio que luta com a atriz também não serem dublês com habilidades de luta mas atores com inclinações cômicas, não ajudou muito. Não sei se me fiz entender mas vejam a cena e vejam se captam minhas colocações:
Não sei se a culpa é da atriz, dos responsáveis pelas coreografias de luta ou da direção de Navot Papushado. Fica difícil apontar dedos mas talvez não seja mesmo da atriz, pois Michelle Yeoh está no filme e tem uma cena em que ela nem parece saber dar um soco! A MICHELLE YEOH! O QUE ACONTECEU COM ESSE FILME?
Outra coisa que me incomodou e que parece estar virando moda em Hollywood é querer empurrar uma relação de amor fraternal entre personagens que se conheceram há menos de 10 horas! Esquadrão Suicida do David Ayer virou referencial nisso. E aqui acontece algo muito similar. Sam mata o pai da pequena Emily, a resgata, depois confessa a ela que matou seu pai e, após uns 30 segundos de um misto de raiva e tristeza…Sam se torna a pessoal mais especial da vida dela! Essa forçada barra se repete durante TODO O FILME e sempre me EJETAVA da da imersão do filme!
No elenco ainda temos Lena Headey como a mãe da Sam e que, essa sim, tem uma cena de luta onde convence que sabe baixar o sarrafo, Carla Gugino, sempre elegante, e Angela Bassett, sempre imponente. No time dos homens temos Paul Giamatti como o “chefe” da Sam e Ralph Ineson como o pai vingativo com sua voz que faz o Kratos de God of War parecer um adolescente na puberdade.
Enfim, Gunpowder Milkshake não me convenceu. É um dos irmãos mais fraquinhos de John Wick mas vale uma assistida numa tarde tediosa pagando meia entrada no cinema ou quando chegar a Netflix tupiniquim. E talvez você se divirta mais que eu se não for tão cricri com clichês e com os aspectos técnicos de cenas de ação e de luta. Mas, pra mim, é…