Diários da Terapia 02 – O Cerco

Tanta coisa boa na prateleira…

Coloquem uma música triste, de preferência apenas ao violino enquanto leem esses primeiros parágrafos. Estamos em 2013, a Salvat começa a colocar em prática a tão esperada Coleção Marvel de capa preta e lombada bonitona. O jovem Godoka, ainda com um pouco de cabelo no alto da cabeça, se vira como pode para economizar dinheiro e adquirir quinzenalmente as edições.

Era um clima de empolgação e um pouco de confusão. A lista não oficial da ordem de lançamentos dispunha de bastante coisa interessante ao passo que a sequência em que fora lançada não fazia sentido algum, com um desenho todos desconjuntado se formando aos poucos, além das lombadas tortas consertadas com um adesivo chumbrega (que resiste até hoje) e a cara torta da Kitty Pride que nunca foi consertada, dando um ar intelectual de obra do Picasso à pilha de gibizinhu.

Mês a mês, ano a ano o jovem Godoka via a coleção aumentar e seus cabelos diminuírem. A cada quinze dias lá estava ele na costumeira banca de jornais no centro da cidade, fizesse sol ou fizesse chuva. Foi uma linda história de perseverança, se não fosse um pequeno detalhe.

Ele não conseguiu comprar a edição número 60. Na época a Febre da Lombada já assolava os jovens, que invadiam as bancas como vorazes gafanhotos  em busca de seu doce alimento: revistas com lombadas que formam desenhos, não importam qual. Estava ali Godoka, já não tão jovem, vendo a realização de ter algo completo se esfacelando perante seus olhos. E pra piorar, ainda era uma revista ruim.

Os anos se passam e, um dia, andando pelo centro de São Paulo, o trágico herói finalmente encontra a tão almejada revista, sendo vendida por dez reais a menos que o preço inicial, espremida entre uma Globo Rural e uma Sexy Hot. Uma vitória, vocês diriam, ao passo que eu respondo: NÃO, FILHADAPUTA! A REVISTA É UMA MERDA!

Sério, comprei essa bagaça já deve ter um ano e meio ou dois, anteontem eu tirei ela da prateleira e arranquei do plástico pra ler (escrevendo em 01/05/20), e puta merda que negócio ruim. 

Contextualizando, essa revista é mais uma mega saga em consequência de Guerra Civil, nessa época a Marvel não sabia fazer outra coisa que não fosse enfiar uma mega saga no cu da outra, cada vez com menos qualidade, até que a bomba de chorume explodiu uns anos depois em Fear Itself. Se teve outro mega evento depois desse eu não sei, fiquei de saco cheio de acompanhar e ele permanece cheio até hoje.

Na história, Norman Osborn é o diretor do Martelo, uma Shield do mal e comanda os Vingadores Sombrios, que são os Thunderbolts com roupinha de herói. Na sanha de fazer alguma merda e dizer que é pelo bem da nação (praticamente o que todo presidente americano faz desde a independência do país), o cabelinho de lavoura resolve partir pra cima de Asgard, que na época estava estacionada em cima de uma cidade de caipiras no meio oeste.

O problema é que os asgardianos não são imigrantes latinos, não dá pra simplesmente tratá-los como bichos e fingir que tá tudo bem, então Osborn faz toda uma maracutaia política e conchavos com vilões pra conseguir essa treta. No final dá merda, a porra toda explode e o Sentinela, que na época da apossuído por aids espacial rasga o Ares no meio em uma página dupla. Thor volta, Homem de Ferro Volta, Capitão América ressucita sem explicações e tudo termina bem, com um considerável número de baixas civis.

Tem algum ponto bom? Sim, os desenhos o Olivier Coipel são maravilhosos. Agora o argumento da revista é medonho, e não bastasse o Bendis encher as páginas de diálogos maçantes ele ainda enfia umas páginas só de texto mais maçante ainda. Pra piorar a situação, a única coisa que a lombada ajuda a formar é uma parede e o cotovelo do Noturno, puta merda.

É isso, esse texto não tem final satisfatório, assim como a hq, fodasse.

Godoka
07/05/2020