Review Iludido- Mulher Maravilha: Linhagem de Sangue
Nas imortais palavras do Pica-Pau: FUI TAPEADO!
E eis que mais um longa animado da DC foi lançado! Quer dizer…já faz um bom tempo, na verdade, mas eu confesso que fiquei com preguiça de assistir assim que vi os 8 primeiros minutos e só o vi agora porque fiquei sem internet e sem nada pra fazer. Mulher Maravilha: Linhagem de Sangue começa com a MESMA VELHA E REPETITIVA HISTÓRIA de origem da heroína, com Steve Trevor caindo em Themyscira, ela saindo da ilha pra ajudar ele em alguma treta e brigando com a mãe no processo e blá, blá, blá…
O diferencial que me pegou foi que, aos 10 minutos de filme meu coração foi amarrado com um leve fio de esperança quando as personagens Julia e Vanessa Kapatelis apareceram em tela e pensei “Olha só! Finalmente vão adaptar a fase do George Pérez!”. Mas aí as coisas começaram a ficar estranhas. O relacionamento amoroso entre mãe e filha de Julia e Vanessa foi substituído por um relacionamento de rigidez e cobrança maternal, o relacionamento de amizade de Diana e Vanessa foi substituído por um relacionamento de ciúmes por parte da garota tendo em vista que sua mãe dava mais atenção a princesa amazona que a ela e, por fim, a personalidade de Julia foi mudada de uma adolescente que se espelhava na força da mãe e da Mulher Maravilha pra uma adolescente xarope que fica revoltada e vira gótica suave afim de chamar a atenção. Ah, e vira vilã depois!
Eu ainda tentei manter a mente aberta e pensei “Ok…talvez só estejam atualizando essa parte pra ficar mais identificável pro jovem ‘revoltz’ de hoje em dia”, e foi aí que veio a segunda pá de terra em cima da idéia de adaptação fiel da fase do George Pérez. Como eu já disse, o filme começa com a velha história do Steve Trevor caindo na Ilha Paraíso e, mais adiante, quando está ajudando Trevor a fugir da ilha, Diana aparece vestindo o traje que Gal Gadot usa no filme. Ok, sem problema, eu até gostei! Gosto muito do uniforme do filme! Pensei “Ok…ela vai usar esse uniforme e a animação vai mesclar a fase do Pérez com o clima do filme. Pelo menos não vamos ter mais um longa capenga pertencendo ao universo capenga dos Novos 52”. E aí Diana aparece apresentando seu novo uniforme para Steve Trevor e as Kapatelis…e é a PORRA DO UNIFORME DOS NOVOS 52! Aí o filme dá um salto de tempo após os 18 minutos de introdução (sim, o filme leva DEZOITO MINUTOS pra mostrar o título) e descobrimos que o começo do filme se passa antes de Liga da Justiça: Guerra e todo o restante se passa depois de Liga da Justiça: Trono de Atlantis. E eu continuava me perguntando “Por que, DC? Por que…?”.
Como eu havia mencionado anteriormente, Vanessa Kapateliz se torna vilã do filme após (SPOILER A FRENTE) sua mãe ser morta enquanto tentava impedir que uma já adulta e arqueologa Vanessa vendesse um artefato místico para um grupo criminoso (cujo a chefe manda meter bala em Vanessa mas, depois que seus soldados disparam por minutos a fio na menina que é protegida pela Mulher Maravilha, a vilã grita “Cuidado, vão acertar o artefato), afinal ela era uma adolescente rebelde em busca de atenção, nada mais natural que se torna uma adulta rebelde com doutorado em arqueologia em busca de atenção, não é mesmo?
Por alguma razão ela decide que Diana é a culpada e resolve se unir ao…grupo que matou sua mãe para se vingar da Mulher Maravilha? Sim, isso faz tanto sentido pra você quanto fez pra mim! A coisa só piora quando a roteirista Mairghread Scott resolve cagar ainda mais em cima da mitologia criada por George Pérez e decide que Vanessa doravante se tornará a vilã Cisne Prateado, que na HQ era uma menina que sofreu experimentos nas mãos do pai cientista e virou uma cruza de Canário Negro, Banshee e Columba. A personagem é vilã em uma das história mais fracas da fase Pérez mas Mairghread parece ter pensando “Hmmm…eu CONSIGO DEIXA ISSO BEEEEM PIOR!” e faz Vanessa parece uma cruza de Lady Letal, Cable, Canário Negro e o Arcanjo do filme X-Men: Apocalipse.
Em minha cabeça eu já estava pensando “Ok, Mairghread…você conseguiu! Não dá pra piorar isso DE JEITO NENHUM!”. Mas eu estava MUUUUITO errado! Acontece que o plot “Vilã misteriosa que ajuda os vilões a darem um upgrade nos seus poderes através de uma injeção de uma gosma verde brilhante” também entrou na equação. Mas a coisa consegue cavar um buraco no fundo do poço e descer um pouco. Acontece que com a ajuda de Etta, a fiel escudeira de Steve Trevor, Diana consegue ajuda de Veronica Cale, dona da gigante Cale Pharmaceutical, para analisar o vírus que está mutando Vanessa nessa…”coisa” em que ela está se tornando. Mulher Maravilha e seus (não muito) incríveis amigos descobrem que as células viróticas tem a marca da empresa que as fabricou estampadas nela. Sério…uma logomarca em uma celula! E o pior…É A PORRA DA MARCA DA EMPRESA DA PESSOA A QUEM ELES PEDIRAM AJUDA PRA DESCOBRIR QUE TIPO DE VÍRUS É ESSE E NINGUÉM PARECE DESCONFIAR QUE A CULPA É DA SENHORITA VERONICA CALE, MESMO QUE AS INICIAIS “CP” ESTEJAM NAS CÉLULAS E EM TAMANHO GIGANTE NA PORRA DA FACHADA DO PRÉDIO!
Daí pra frente Diana revela que precisa levar Vanessa para a Ilha Paraíso (estou chamando assim porque não tenho saco pra ficar escrevendo “Temisquira” da maneira correta, nome complicado da porra) pois só a Luz Púrpura que salvou Steve Trevor de seus ferimentos pode ajudá-la agora, já que a ciência não ajudou. Acontece que quem sai da Ilha Paraíso, automaticamente esquece sua localização, algo proposital para segurança do lugar. Agora Diana precisa encontrar um fonte mística cuja a água dá visões a quem a toma para tentar lembrar onde fica a ilha. Depois de uma cena estilo Indiana Jones onde Steve Trevor e Etta enfrentam o Minotauro mais burro de toda a mitologia grega, Diana bebe a água, tem visões aleatórias e acaba descobrindo onde fica a ilha da maneira mais RIDICULA possível. Acontece que em uma parte de suas visões ele vê peixes. Aí Veronica Cale diz que alguns tipos de peixes só são encontrados em certas áreas do oceano e manda Diana apontar na tela de seu computador, com quais peixes o peixe seus sonho se parecia após escrever “ fotos de Peixes gregos, Google, por favor” em seu navegador. E essa cena dura uns 30 segundos com Diana escolhendo peixes como quem escolhe qual o desenho que está errado naqueles programas de TV onde você liga pra adivinhar (e que não passam de um puta de um golpe da porra) mas, por alguma razão…funciona, vejam vocês!
Daí por diante o filme da uma melhoradazinha pois se concentra mais na porradaria contra uma Medusa gigante a cenas copiadas de Cavaleiros do Zodíaco! Sério, não vou dar spoilers, mas …adivinhem como Diana derrota a medusa. Dica: Shiryu fez escola!
Como já deu pra notar, o roteiro é o ponto mais fraco desse longa animado que vem de uma já longa tradição de longas animados ruins que a DC começou a lançar depois de Flashpoint, ultimo longa animado da leva de perolas antes de tudo referenciar Novos 52 e se focar em Batman e Damien Wayne. Claro que tivemos um ou outro longa animado bom desde então, mas foram muito poucos. E os que foram bons tinham o mesmo problema dos ruins, a baixa qualidade da animação. Milagrosamente aqui é onde esse filme ganha pontos a favor! Talvez pela adição do diretor Justin Copeland para dar uma mão ao calejado Sam Liu. Copeland trabalhava como artista de Storyboard em animações da Marvel, como Vingadores: Os Maiores Heróis da Terra, Ultimate Homem-Aranha e Os Vingadores Unidos, até que passou a trabalhar nos storyboards da DC a partir de Batman: A Piada Mortal (porra, amigo…já começou mal…) e parece que Mulher Maravilha: Linhagem de Sangue é seu primeiro trabalho como diretor, e talvez por isso o sujeito tenha dado um upgrade nas cenas de porradaria, que são a melhor coisa do filme! Elas são ágeis, bem coreografadas, dinâmicas e conseguem salvar o filme de afundar até o pescoço em seu roteiro horroroso. Sério, a cena de luta contra a Medusa no final quase faz você esquecer todos os absurdos do roteiro. Pelo menos até você parar pra pensar “Peraí…de que buraco as vilãs conseguiram tirar a Medusa original? E como ela ainda está viva se Perseu cortou-lhe a cabeça?”.
Ah, tem uma coisa que, pra mim, soou como outra baita bola fora da DC. Na verdade, soou mais como uma falta de tato absurda pra tratar certos temas. O filme é 99% dominado por mulheres, sendo Steve Trevor o 1% dessa equação. As heroínas são mulheres, as vilãs são mulheres, as coadjuvantes são mulheres…e isso é ótimo! O grande problema é que, como eu já disse antes, eles mudam a mitologia de um monte de personagens, e uma dessas personagens é a Etta. Na fase do George Perez ela era uma colega de trabalho de Steve que é apaixonada por ele mas tinha problemas de baixa auto-estima por causa de seu peso, fato que só se agrava quando vê ele andar pra cima e pra baixo com Diana, uma linda amazona de corpo perfeito. Etta começa a se exercitar pra tentar ganhar um corpo minimamente parecido com o da princesa amazona, até que em certa parte da trama ela percebe que não precisa se preocupar com o exterior, que suas inseguranças eram coisa de sua cabeça e que Steve Trevor correspondia seus sentimentos pelo que ela era, e não pelo seu físico. Esse é um dos mini-plots que eu mais gosto da fase do Perez. Só que na animação a roteirista Mairghread Scott parece ter pensando “Hmmm…preciso inserir minorias pra ter diversidade aqui. Mas não posso mexer em nenhuma das principais, pois são heteros e brancas. Hmmm…já sei…e se eu mexer na Etta! É isso! Ninguém vai ligar se eu mexer numa coadjuvante!” e foi assim que Etta se tornou uma Negra, gordinha e lésbica. Que fique claro, ser negra, gordinha e lésbica não é um problema. O problema é que a mulher se tornou um esteriótipo ambulante a ponto de na cena final aparecer abraçada a duas amazonas como numa sketch dos Trapalhões onde o Didi sempre acabava levando um monte de mulheres consigo. Não exploraram nenhuma dos aspectos que tornavam a personagem diferente nessa versão, todos esses aspectos só serviram pra virar linhas de piadotas no roteiro, como Steve Trevor dizendo “Hmm…uma ilha cheia de mulheres fisiculturistas? Minha amiga, Etta, iria adorar esse lugar”.
O filme joga a ultima pá de cal quando resolve mostrar, em uma cena pós-créditos, quem estava por trás de tudo o tempo todo. Normalmente uma cena pós-crédito é usada pra fazer uma ultima piadinha, revelar o destino de um personagem que pode vir a aparecer numa sequencia com mudanças drásticas ou revelar uma pista do que pode ser o plot da sequencia. Mas a cena pós-crédito aqui não deveria ser pós-crédito pois amarra o já capenga plot principal! Sério, esse filme é todo errado…
Pra terminar, um ultimo detalhe interessante. O character design está um pouco diferente das ultima animações DC que utilizam o character design de Phil Bourasa como padrão de qualquer longa animado dessa leva Novos 52. Dessa vez o trabalho ficou nas mãos da dupla Steve Choi e Bryce Collins que, apesar de manter traços reconhecíveis do que Bourassa definiu como padrão, ainda conseguem deixar uma marca bem própria e dar uma refrescada nesse visual repetitivo.
Enfim, Mulher Maravilha: Linhagem de Sangue é um longa animado que acerta nos aspectos técnicos, onde a DC vem errando DEMAIS, mas consegue trazer um dos roteiros mais bagunçados dos longas animados da DC até agora. Caso você assista e fique DCpcionado, não se preocupe! Procure o primeiro longa animado da personagem lançado em 2009 que teve Gail Simone como uma das roteiristas e foi dirigido por Lauren Montegomery, que fez um trabalho tão fantástico que esse se tornou um de meus filmes animado favoritos da DC, virou referência quando alguém me pede um longa animado bom da DC pra ver e ainda consegue ser MUITO MELHOR que o filme com a Gal Gadot (que eu acho legal, mas tem um final bem ruinzinho). Mas pra Mulher Maravilha: Linhagem de Sangue, minha nota é…
NOTA: 6,0
PS: Pesquisando imagens para o post eu descobri que esse plot IMBECIL de transformar a Vanessa Kapateliz em Cisne Prateado aconteceu nas HQS também! Óbvio que não foi na fase do Pérez mas, sim, em uma fase capenga lançada em 2011.