Review Colorido: Collor Out of Space

“Aquela cor era indescritível. Algo nunca visto no espectro cromático conhecido pelo homem. Mas era rosa.”

Essa frase não está, de fato, na adaptação para o cinema do conto A Cor que Caiu do Céu de H.P. Lovecraft estrelado por Nicolas Cage, mas tem uma linha de diálogo que é MUITO próximo disso!

Caso você não tenho lido o conto original do menino Lovecraft, ele se passa em 1885 (ao contrário do que a edição da editora Pandorga diz, já que em sua tradução erroneamente situou a história em 1985) e basicamente ele conta a história de uma propriedade na zona rural que vê suas plantações sofrerem estranhas mutações após um meteorito que emanava uma cor que ninguém conseguia descrever cair perto de um poço. O conto é narrado por um funcionário do governo que vai até o local para estudar a construção de uma represa (se não me falha a memória) e acaba conhecendo essa história através de um homem que vive solitariamente em sua casa e que era amigo da família que vivia na tal propriedade afetada pelo meteoro. Com o passar do conto, descobrimos que a tal cor era uma entidade viva e que as mutações que ela causava iam muito além das plantas.

Sim, o conto é simples e curto, tendo por volta de 60 páginas, não havia muito a se mudar nele. Mas o diretor e roteirista Richard Stanley, ao lado da roteirista Scarllet Amaris, resolveram que seria uma boa trazer a trama pros dias atuais. Até aí, sem grandes problemas. O problema é quando a história acaba deixando a original de lado pra se transformar numa especie de rip off de O Enigma do Outro Mundo  ( The Thing), CLASSICASSO de John Carpenter e um dos filmes de body horror mais maravilhosos já produzidos.

Na trama do longa acompanhamos a família Gardner que tem como patriarca Nathan (Nicolas Cage). A família passou por maus bocados recentemente quando a mãe, Theresa, venceu um câncer de mama. Tudo ia muito bem em sua casa no campo, afastada de qualquer traço de civilização, onde  mora com sua filha rebelde e metida a bruxa wicanna, seu filho maconheiro e seu filho menor clichê que usa óculos e fica com a boca aberta o tempo todo, até que um estranho meteoro caí no local. O meteoro emana uma cor rosa e parece afetar cada pessoa da família Gardner de uma maneira diferente. Nathan sente um cheiro desagradável o tempo todo e começa a criar um tipo de crosta na pele do braço, Theresa acaba se desligando por alguns momentos como que em transe, o filho pequeno com a boca aberta diz se “comunicar com o homem no poço” através de assobios, a filha bruxa rebelde fica enjoada e com fortes dores de cabeça e o filho maconheiro tem lapsos de tempo gigantes, mas pode ser efeito da maconha. Jamais saberemos…

No meio de tudo isso, um rapaz chamado Ward, que trabalha para o governo afim de analisar a qualidade da água do local, percebe que coisas estranhas estão acontecendo e fará de tudo para descobrir o que é. Quer dizer…faria! Se o personagem, que no conto é o narrador da história, não SUMISSE POR 60% DO FILME SEM A MENOR EXPLICAÇÃO! Ah e não somente ele! No começo do filme omos apresentados a prefeita do local e nos dá a entender que ela também terá certa importância na trama mas…não! Ela TAMBÉM SOME só que PELO RESTO DO FILME INTEIRO!

Sim, além do problema de parecer um rip off de O Enigma do Outro Mundo, o filme também sofre com inconsistências absurdas no comportamento de seus personagens. Um exemplo disso já está nos 5 minutos iniciais do filme, onde vemos Ward encontrar a a filha bruxa rebelde fazendo um ritual mistico no meio da floresta afim de afastar todo o mal de sua mãe e impedir que o câncer volte, o que denotaria o amor enorme que a menina tem pela mãe. Só que 2 minutos depois, ela encontra a mãe em casa e a trata feito lixo. Em outro momento, a mãe da família sofre um acidente grave e ao invés de enfiar a mulher no carro e sair em disparada para o hospital, Nathan sai andando calmamente e acha uma boa ideia deixar sua mulher sangrando no carro enquanto dá instruções repetidas pros filhos como quem está ensinando matemática para uma criança de 4 anos.

Fazendo Ritual pra manter a mãe a salvo.

Ouvindo a mãe falar seu nome.

Ah, e temos as alpacas! Sim, por alguma razão o filme introduz um criadouro de alpacas na fazenda dos Gardner. Essa porra, obviamente, não está no conto original e serve apenas e previsivelmente para imitar a cena do cachorro em O Enigma do Outro Mundo. Sério, é vergonhoso quanto o filme usa a fonte errada pra adaptar!

O cachorro de O Enigma do Outro Mundo

As alpacas em A Cor Que Caiu do Céu. Coincidência? Acho que não…

Ah, e como um sujeito que sabe do que Nicolas Cage é capaz na hora de interpretar sujeitos desequilibrados, o diretor/roteirista faz o personagem de Cage cair no clichê do pai que enlouquece, grita, carrega uma espingarda pra lá e pra cá e fala com pessoas imaginárias o tempo todo.

Quanto aos efeitos especiais, eles são ok! Não são de encher os olhos mas também não ofendem. os efeitos práticos são bacanas e vão deixar algumas pessoas com nojinho, mas também nada que não se tenha visto antes em…sei lá… O FODENDO ENIGMA DO OUTRO CARALHUDO MUNDO! A única coisa que realmente incomoda é determinarem que a cor que ninguém nunca viu antes é apenas magenta com leves toques de ciano vez ou outra. Ou simplesmente rosa com um pouco de azul pra quem nunca ouviu os termos “magenta e ciano”. Porra, a equipe do anime Akira criou um porrilhão de cores novas só pro anime e os infelizes de um filme onde o fato de a cor não poder ser determinada é um ponto chave nem se esforçou pra criar algo novo? Nem que fosse pra usar um furta-cor vagabundo? Tenha dó!

Essa pochete furta-cor tem mais cara do meteoro descrito no livro que o meteoro do filme. Sério…

…olha pra isso! É SÓ A PORRA DE UMA PEDRA COM NEON ROSA!

O filme é HORRÍVEL?  Não! Ele só é fraco! E só fica pior pra quem leu o conto e assistiu O Enigma do Outro Mundo. Mas pra quem nunca viu nenhuma dessas duas obras, ele pode ser uma boa pedida pra uma tarde de preguiça. Eu, particularmente, não esperava muito, mas me entregaram um pouco menos do esperado.

Nota:5,0

PS: Existe uma adaptação alemã baixa renda de 2010 chamada “Die Farber” que além de mais fiel ao conto original, se passando na época certa e tudo, foi , em uma jogada bem inteligente, filmado em preto e branco, deixando o mistério da cor na imaginação do expectador.