Mugen No Juunin: Immortal, uma ofensa animada.

Quando você vê o carro desgovernado vindo de longe…mas continua no caminho esperando que ele desvie.

A Amazon lançou no seu catálogo de produções originais a segunda adaptação de Blade: A Lâmina do Imortal para anime e eu já falei dos dois primeiros episódio da série AQUI. Eu disse que não gostei do resultado, da trama extremamente mutilada e da animação vergonhosamente pobre, mas disse que continuaria acompanhando pra ver se melhorava, só que sem muita esperança. E sabe aquele ditado que diz “O pessimista nunca sai decepcionado”? Pois então…esse pessimista aqui ainda conseguiu se decepcionar. E MUITO!

Vendo esse comparativo nem parecia que eles iriam errar a mão, né? Ledo engano…

A série não apenas não melhorou como conseguiu mutilar ainda mais a trama, destruir lutas que no mangá eram sensacionais e, apesar de ser uma produção animada, conseguiu a façanha de ter menos movimento que sua contraparte em quadrinhos.

Vi alguns poucos reviews no YouTube e a galera que vem gostando da série tem uma coisinha em comum: NUNCA LERAM O MANGÁ! Ou seja, o que for mal e porcamente explicado na série não tem problema pra eles, como a maneira que o Manji conseguiu os Kessenchu (os vermes que o tornam imortal) e o fato de ter que matar mil pessoas ruins pra voltar a ser mortal. O que importa é o que está no anime, mesmo que fique sem contexto. E se funciona pra essa galera, show! Eu os invejo por se divertirem com isso. Mas pra quem é fã da obra original, as adaptações, mutilações e troca de ordem de acontecimentos é uma tortura! Fatos importantes são ignorados da mesma maneira que pequenas nuances de cada personagem que eram essenciais pra entender melhor suas personalidades.

Manji recebe um tiro na testa de um falso padre nas primeiras páginas do mangá, cena que serve pra estabelecer sua imortalidade. Essa cena não está no novo anime.

Pra vocês terem uma ideia da carnifica que estão fazendo com a série, vamos falar do mangá lançado pela JBC. Caso você não tenha visto a edição da JBC, cada edição reúne duas edições originais japonesas, o que dá uma média de 450 páginas por edição. O anime está no episódio 11. Sabe quantos volumes da JBC esses 11 episódios cobriram? SEIS! ONZE EPISÓDIOS DE ANIME CONDENSARAM SEIS VOLUMES DE 450 PÁGINAS CADA! Agora, você que não conhece Blade mas conhece…sei lá…Jojo’s Bizarre Adventure, imagine se os 3 primeiros arcos do mangá inteiro, Phantom Blood, Battle Tendence e Stardust Crusaders, fossem condensados em 11 míseros episódios! Ou se toda a trilogia original de Star Wars fosse resumido em um curta metragem de 15 minutos! Ou se os livros de O Senhor dos Anéis fossem resumidos a um teatro de fantoches feitos de meia em um vídeo para o YouTube de 5 minutos! Calcule o quanto de informações importantes e plots essenciais seriam perdidos!

Sério! Olhem a largura desses tijolos! Seis deles foram transformados em míseros 11 episódios!

Mas se as mutilações na trama estão ruins, a qualidade técnica da animação não se sai melhor! Quando saiu o primeiro trailer o Vinnie disse “Olha, essa animação aí tá meio paradona, não tá não!?” eu disse que não, que era impressão dele, que seria ótima e linda. Mordi a língua com tanta força que perdi metade dela nessa defesa! Quando os personagens estão conversando você não os vê, a câmera sempre está focando num ponto fixo do cenário. E quando eles lutam…bem…você preferiria que a câmera ainda estivesse apontanda pra um ponto fixo no cenário! A movimentação é pobre, as lutas são mal e porcamente resumidas, os golpes não tem impacto e até a localização espacial dos combates é prejudicada pela direção desorientada. O pior exemplo está na luta do Manji contra a Makie, mostrada no episódio 3 do anime. No mangá ela é tensa, violenta, belissimamente coreografada, os personagens usam estratégias pra tentar vencer o adversário, é veloz…enfim, é linda de se ver! No anime ela é UMA BAGUNÇA DO CARALHO! Se resume a Makie enfiado a espada no Manji, eles correndo pra lá e pra cá, aparecendo em locais onde não estavam há um segundo atrás..um verdadeiro cabaré de xola! Una a isso o fato da luta ter sido adiantada no anime, pois mo mangá ela acontece após o Manji confrontar outro imortal, o monge Shizuma Eiko. No anime eles só vão lutar lá no episódio 5.

Tá vendo esse dinamismo aí! Pois é, no anime tem disso não!

Essa “castração de epicidade” acontece em TODAS AS LUTAS! Uma das minhas favoritas, a do Manji contra o Taito que acontece no episódio 2, foi de dar vergonha. O episódio 11, o ultimo lançado, tem outra de minhas lutas favoritas, a do Taito contra o malucão Shira. Só que além dela, essa parte do mangá intercala pelo menos 3 lutas sensacionais. No anime eles resumiram essas 3 lutas ao final de cada uma com os perdedores já caídos e se focaram apenas na do Taito contra o Shira. O problema é que as lutas cortadas eram importantes pois os perdedores tinham informações relevantes pra trama que, graças a esse corte, não foram dadas. A luta do Taito contra o Shira tem muitos problemas e pedaços faltando mas, surpreendentemente, até agora foi a melhorzinha animada e próximo de ser fiel ao material original. Mas eu disse “melhorziha” e não “melhor”!

Sério, se você está gostando do anime, beleza, me ignore e continue assistindo, eu não estou aqui pra mudar sua opinião, só expor a minha. Eu mesmo estou ODIANDO e não perco um episódio (a não ser o da Rin tentando conseguir o passe. Esse capítulo é chato até no mangá e me vi forçado a parar na metade e mandar o resto a merda…)! Mas uma coisa eu vou precisar te pedir pra fazer: PROCURE O MANGÁ! É SÉRIO! Hiroaki Samura escreveu uma tramam envolvente, desenvolveu personagens cativantes, trouxe discussões morais pertinentes sobre a rigidez do bushido e a xenofobia japonesa e embrulhou tudo isso em uma arte tão única que o anime de 2008 não conseguiu emular e esse da Amazon, apesar de se sair melhor, também não obteve 100% de sucesso (Hiroaki Samura NUNCA desenhou orelhas tão grandes quanto a galera tem nessa versão animada). E o mais impressionante são os combates que ele desenha! As lutas tem coreografias muitíssimo bem pensadas, os personagens são estrategistas e não tentam apenas acertar o outro com a sua espada, lança ou seja lá a arma que for, e elas tem VELOCIDADE! Sério, as imagens estáticas do mangá são 10 vezes mais vertiginosas que as duas versões em anime juntas! Então se faça esse favor e busque a obra original! Blade é um mangá que MERECE ser lido! Talvez depois de lê-lo o anime perca muito da graça pra você…ou talvez não! Apenas leia e depois volte aqui e me diga o que achou.

Manji 2008.

Manji 2019. melhor character design, pior animação.

 

Já eu…seguirei vendo essa ofensa animada. Afinal, em se tratando de adaptações de Blade, é o que tem pra hoje…