QUADRINHOS (BARATOS) QUE LI RECENTEMENTE: PARTE 12
Eu não acredito que estou fazendo isso…
…mas hoje vou falar de Tex! Existem algumas coisas que a maioria dos leitores de quadrinhos parece adquirir após os 50 anos. A primeira são cabelos brancos, a segunda um desgosto por quadrinhos de super-heróis atuais porque “não são como na minha época” e a terceira é um gosto súbito por ler Tex. Claro que existem exceções e alguns jovens também o fazem (não é, Lucas e Marcus?) e eu confesso que até tentei tempos atrás, mas o ritmo lento, a narrativa engessada, os desenhos pouco dinâmico e as tramas genéricas não ajudaram.
Mas eis que a Salvat, percebendo que esse filão de idosos leitores de Tex era imenso, resolveu lançar no Brasil as história do Cowboy de camisa amarela e eu, que tenho como compromisso inabalável, a missão de comprar todo e qualquer número 1 dessas coleções afim de montar a lombada mais feia e disforme do mundo, a peguei. E juro que pensei MUITO antes de gastar R$9,90 nessa primeira edição, mas houve um fator determinante que me convenceu a fazê-lo, um nomezinho no rodapé da capa: Corrado Mastantuono.
Caso não saibas vós, eu ADORO Mágico Vento, tanto que já falei de como essa relação de amor quase acidental começou AQUI. O fato é que Mastantuono trabalhou no título e foi capista regular da maioria das edições, então resolvi dar a chance a Tex mais pela arte do que por qualquer outra coisa (além do preço, claro). E, olha…não é que eu gostei!
CALMA, CALMA, CALMA! Antes que os havidos jovens-idosos leitores de Tex comecem com um “EU NÃO DISSE QUE ERA BOM?” eu vou esclarecer: Eu me diverti SIM! Mas não a ponto de me interessar tanto pra procurar mais (ou pagar R$11,90 em um formatinho de 100 páginas em papel jornal e capa mole). E muito disso se deve justamente ao fato de Mastantuono, ex desenhista de quadrinhos Disney, colocar o dinamismo e o tom “moderno” no roteiro do veterano Claudio Nizzi, que não traz nada de diferente e até tem algumas pontas soltas bem violentas em um roteiro tão simples.
A historia, intitulada “O Profeta Indígena”, começa mostrando um jovem índio chamado Manitary, o qual sempre foi motivo de chacota em sua tribo por ser pequeno e fraco, tendo uma visão de um grande urso negro avisando que o sol desapareceria em breve e que esse seria o sinal para uma grande batalha que estaria por vir. Para tal, Manitary teria que unir todas as tribos afim de vencer essa batalha e dizimar o homem branco, trazendo grande prosperidade para o povo indígena. O eclipse, de fato, acontece, e as tribos começam a seguir Manitary como a um profeta. Os índios começam a matar soldados brancos e é aí que o exército pede ajuda a Tex e seus Pads (seja lá o que isso queira dizer, sempre achei estranho pra porra…)para resolverem a treta na encolha.
A história se resume a, basicamente, Tex, seu filho Kit Willer, seu amigo Kit Carson (que me faz estranhar DEMAIS ter o mesmo nome do filho do Tex. Tem algo muito errado na certidão de nascimento desse menino…) e seu amigo índio Jack Tigre correndo pra lá e pra cá tentando parar os índios comandados por Manitary e impedir que ele receba uma carga de armamentos. E…é isso! O bacana é que a história tem um ritmo frenético em comparação com as outras leituras de Tex com que já cruzei e o tom de aventura de filme do Cinema em Casa é bem divertido. Mas, como eu já disse, muito disso só é possível graças a arte de Mastantuono.
Nem de longe Mastantuono é meu desenhista favorito em Mágico Vento, esse cargo sempre será do fantástico Pasqualse Frisenda, mas arte de Mastantuono é muito bacana e estilosa e lembra muito outro desenhista de Mágico Vento mas que muita gente vai conhecer pela sua passagem no Justiceiro de Garth Ennis, o croata Goran Parlov. Mas, apesar das semelhanças, o traço de Mastantuono tem personalidade própria e suas páginas são belíssimas. O sujeito só derrapa quando desenha um leão da montanha com mais músculos que o Hulk.
O roteiro de Nizzi, como já dito antes, é básico e deixa várias pontas soltas e alguns momentos ficam contraditórios. O principal está no fato de Manitary ter a visão no começo da HQ onde o “urso mistico” diz que ele vai fazer e acontecer e, no final da história, Tex diz “tu inventou essa porra toda aí” e prende o cara com relativa facilidade. Eu não lembro bem, pois já faz um tempo que eu li essa edição, mas tem uma passagem onde essa visão do começo da HQ é quase que invalidada pelo próprio Manitary. Outro lance que eu esperava no final da HQ era a tal “guerra” entre índios e brancos em uma cena apoteótica…mas tudo se resume a um tiroteio em um barco e Tex interceptando as armas que iriam para os índios. Meio broxante…
A edição da Salvat não tem muito de diferente de suas outras coleções. Capa dura, papel LWC…só a CATINGA da edição é diferencial. Sério, o papel FEDE como se alguém tivesse usado um pedaço de solda quente como papel higiênico. Além disso, estranhamente o índice está NO FIM da HQ. É, literalmente, a última página da edição. Parece que alguém pensou “Porra, Tex sempre foi publicado em formatinho e em preto e branco…logo deve ser um mangá! Vou colocar o índice no final, já que mangá se lê ao contrário” e assim o fez.
De extras só pequenas biografias dos autores, a capa da edição original italiana e um “Na Próxima Edição” que já nem é mais extra, na verdade.
Bem, eu me diverti SIM mas não foi uma leitura que mudou meus conceitos. Tex ainda não figura em minha lista de HQs a se ler e nem vai figurar tão cedo (talvez NUNCA, pra ser bem honesto). A única coisa que lamento de verdade é o fato da edição desenhada por Pasquale Frisenda ter sido a terceira e não a primeira ou a segunda. Se fosse a segunda, talvez eu até comprasse porque R$24,90 é um valor que vale a pena pagar pela arte desse sujeito (eu dei uma olhada em partes dessa história internet afora e a arte do Frisenda está LINDA). Mas R$39,90? Não obrigado! Eu já não costumo pagar mais de R$30,00 em coisas que gosto imagine em coisas que não gosto! Mas R$9,90 nessa primeira edição? Valeu a pena sim!
Nota: 7,5
PS: “Poxa, tio Hellbolha…eu sou um jovem idoso e queria ler as histórias dessa coleção mas não tenho tanto dinheiro pra gastar com papel fedorento. O que faço?” muitos podem estar se lamentando. A resposta é simples, jovens de alma velhaca! A maioria dessas histórias já foram publicadas no Brasil pela Mythos na linha Tex Edição Gigante em capa cartonada e, se não me falha a memória, papel jornal (creio que em preto e branco, mas não tenho certeza). E você pode encontrar essas edições facilmente internet afora por preços que vão de R$4,00 a R$20,00. Então se você não liga pra enfeitar estante com deseinho e só quer ler e se divertir, que é a função PRIMORDIAL dos quadrinhos, vai fundo!