QUADRINHOS (BARATOS) QUE LI RECENTEMENTE: PARTE 9

Sabe quando você ouve falar muito bem de uma coisa e resolve dar um voto de confiança?

Pois foi exatamente o meu caso com relação a Arqueiro Verde: Máquina Mortífera.

Acontece que quando os Novos 52 começaram na DC, MUITA COISA RUIM foi lançada. Pouquíssimos títulos escapavam de serem completos desastres, o único que eu lembro de ouvir ser elogiado era o da Mulher-Maravilha de Brian Azzarello com o Cliff Chiang. E, mesmo com histórias meia boca, a Panini não deixou de lançar encadernados dos Novos 52. Tivemos o encadernado da Liga da Justiça que ficou famoso pelo erro de digitação na lombada, tivemos encadernados do Flash, do Superman e da própria Mulher Maravilha. E entre eles, encadernados do Arqueiro Verde que tinham o bom senso de ignorar as primeiras edições dos Novos 52 que dizem ser HORROROSAS, e se focavam apenas na fase do Jeff Lemire. Foram dois encadernados lançados, o já citado Máquina Mortífera e A Guerra dos Renegados, sendo esse segundo lançado justamente na infame fase de “reajuste de preços” da Panini que jogava o valor de um encadernado de R$ 24,90 pra R$51,00. E foi justamente esse reajuste ABSURDO que gerou os stands de shopping onde compro minhas HQs da Panini hoje por menos da metade do preço original graças a quantidade massiva de encalhes que essa atitude gerou. Pra vocês terem uma ideia, peguei Guerra dos Renegados por QUINZE REAIS nesse stand.

O famoso erro da Panini no encadernado da Liga da Justiça dos Novos 52

Bem, mas vamos voltar a edição que é o foco do post, Arqueiro Verde: Máquina Mortífera. Fato é que Arqueiro Verde nunca foi, nem de longe, um personagem que me despertou interesse. Mesmo caso do Gavião Arqueiro, mas aí vieram David Aja e Matt Fraction e mudaram isso, lançado a série do personagem que hoje figura entre minhas HQs favoritas e fonte de minhas indicações pra quem pede um bom quadrinho de super-herói mais pé no chão. Aí comecei a ouvir uma galera falando “Ah, o Arqueiro Verde do Jeff Lemire nos Novos 52 é muito bom!” ouvi até um “O que ele faz é muito diferente de tudo que já foi feito com o personagem! Ele muda toda a sua mitologia! É incrível!” e pra arrematar tinha a galera que dizia “Ah, a arte do Andrea Sorrentino é FODA! As cenas de ação que ele cria são sensacionais!”. Aí, vi Arqueiro Verde: Máquina Mortífera no stand por 20 contos, mas não peguei de imediato, deixei marinando por MUITO tempo. Até que um dia pensei “Quer saber? Vou levar!” e levei. Acabei comprando Guerra dos Renegados depois porque não tinha lido ainda Maquina Mortífera.

Algumas das opções de HQs desses stands. Fonte da imagem: blog Leitora Viciada

Agora vamos a dura realidade (pelo menos pra mim). Eu não encontrei NADA do que a galera falou que esse quadrinho tinha! Ele não me apresentava nada de novo, não tinha uma única linha de argumento original e a arte do Sorrentino, que até me agrada mas não me enche os olhos, tinha seus momentos mas não tinha cenas de ação realmente incríveis como tantos pregavam. Pra vocês entenderem a salada de clichês que a história carrega, deixa eu dar uma breve sinopse:

Oliver Queen perdeu sua empresa. Um sujeito chamado Komodo tirou tudo que ele tinha e, de brinde, o tornou o principal suspeito de um assassinato que ele não cometeu. Ah, e Komodo é, também, um arqueiro MUITO MAIS habilidoso que Oliver Queen. Agora Oliver, sob o manto do Arqueiro Verde, terá que descobrir quem é Komodo, provar sua inocência e ainda descobrir a verdade sobre a ilha onde foi treinado. Terá sido mesmo um acidente? Seu pai era quem dizia ser? E o que Komodo realmente quer? Tudo isso e muito mais você descobre nessa  colcha de retalhos feita de clichês.

Daqui em diante vou dar spoilers da trama mas, honestamente, essa história é tão nojentamente previsível que eu nem vou dizer “leia por sua conta e risco”, apenas continue lendo pra ver que o que eu digo é verdade. Quando foi chamado pra escrever o título, Jeff Lemire inicialmente recusou por não conhecer muito da mitologia do personagem e não estar muito afim de escrever um super herói mais comum (sua fase no Homem-Animal dos Novos 52 é ótima justamente por estar longe de ser comum). Só que acabou aceitando tempo$ depoi$ e eu acho que ele pensou “Hmmm…vou escrever qualquer bosta, afinal nada pode ser pior que os primeiros números dessa revista! Vou enfiar um roteiro de filme dos anos 80 e pronto!”.

O mistério da ilha é que o pai de Oliver não caiu lá por acidente. Ele procurava uma flecha lendária que o tornaria o líder do Clã da Flecha. É revelado que existem sete clãs, cada um representado uma arma e que existe uma única sagrada de cada que apenas os líderes do clã possuem. O pai de Oliver não morreu no acidente, foi morto por Komodo, que era seu estagiário na época e queria a liderança do Clã da Flecha, e Oliver foi levado a ilha pra ser treinado para se tornar o líder do clã também. Só que ele sempre achou fosse tudo um acidente. A partir daí é clichê em cima de clichê, recheado de clichê e embrulhado em clichê. Sério, parece o roteiro recusado pra o inicio da série Arrow e reaproveitado na série do Punho de Ferro.

Na lista de clichês temos o o cara que acaba sendo caçado por um crime que não cometeu, uma lenda de algo mistico que todo mundo procura, uma corporação mistica maligna disfarçada de complexo empresarial, teleconferência com hologramas, irmãos desconhecidos sendo revelados, um vilão que comanda um pequeno país fictício que representa o oriente médio e por aí vai.

E quanto a arte de Andrea Sorrentino, como eu já disse, me agrada, mas não me enche os olhos. Ele não segue a anatomia exagerada super-heroíca que vigorava nos Novos 52 graças a Jim Lee encabeçando a coisa toda. Ele tem um tracejado mais calcado no realismo, com um traço tremido e o uso massivo de sombras que deixa o desenho com um estilo que lembra um Jock mais clean. Quanto as cenas de ação ditas “sensacionais” que ele cria não são realmente sensacionais. Ele tem ótimas sacadas narrativas, sempre usando pequenos painéis em painéis maiores para destacar os pontos de ação e isso é bem legal. Mas quando é pra desenhar porrada, sempre é um close num punho ou um pé batendo em uma cara, sem grande elaboração.

Confesso que pra mim é impossível não comparar o título com o que foi feito em Gavião Arqueiro, afinal o fato de ambos serem personagens de segunda linha, usarem arco e flecha e terem um título elogiado em fases novas de suas respectivas editoras (Novos 52 no caso do Arqueiro Verde e Nova Marvel no caso do Gavião) são paraleleos próximos demais. E esse comparativo só depõe contra o título do Arqueiro Verde já que David Aja preferiu seguir pela simplicidade de histórias urbanas que dariam uma ótima série de TV enquanto Jeff Lemire preferiu o lado mistico e cheio de “já vi isso antes…” que daria uma série da CW que eu não veria. Assim como…bem…a série do Arqueiro Verde da CW.

O personagem tem tão poucas histírias memoráveis que sempre precisaram roubar plots do Batman pra série de TV.

Em suma, eu me deixei levar por expectativas que outros construíram por mim e quebrei a cara. Não gostei do que li e acho que o título só foi elogiado porque fizeram coisa pior antes do Lemire assumir. Tem coisas que gostei? Sim, um momento ou outro, mas muito poucos dentro do todo. Recomendo? Não. A não ser que você seja muito fã do personagem ou ache a série da CW muito boa, então talvez você curta. Mas se quer ler algo realmente bom da dupla Jeff Lemire e Andrea Sorrentino, procure a mensal do Velho Logan que eles fizeram pra Marvel pouco depois, essa sim, que merecia um encadernado que eu compraria com prazer quando estivesse por R$20,00 e frete grátis na Amazon, pois a Panini lançaria por uns R$60,00.

Nota: 5,0

 

PS: Ah, eu esqueci de dizer! Eu ODEIO esse Oliver Queen com cara de Nick Carter dos Backstreet Boys. Pra mim, o Arqueiro precisa ter o cavanhaque ou até mesmo uma barba, como ele aparece brevemente em uma parte da história (que eu acho que é em A Guerra dos Condenados). Agora, com essa cara de rapariga lisa? Não, obrigado!

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