Nós [Resenha]

A tesoura, o coelho e o filme mais atordoante do ano!

Quando eu vi o trailer de Nós, o novo filme do já cultuado Jordan Peele (Corra, de 2017), eu já imaginava que seria mais uma história de horror com algum tipo de crítica social, mas NADA me preparou para o que aconteceu quando eu, de fato, assisti a ele.

Saí da sala de cinema tonto, como se eu tivesse tomado um roundhouse kick no cérebro, passei o dia todo assustado e aquilo que eu tinha acabado de ver não saiu da minha cabeça. Deixei a sessão com tantas perguntas, que não sei nem como começar a falar sobre Nós.

A história abre com uma afirmação curiosa: existem diversos túneis subterrâneos nos EUA que, aparentemente, levam a lugar nenhum. Dado que, versossímil ou não (nem importa!), atiça a curiosidade de quem viu o trailer, para saber como isso se conecta à trama.

Adeilaide (Lupita Nyong’o) sai de férias com o marido Gabe (Winston Duke) e os dois filhos do casal, Zora (Shahadi Wright Joseph) e Jason (Evan Alex), e vão para sua casa de verão, na praia de Santa Cruz, na Califórnia. Tudo parece ok, mas Adelaide se mantém introspectiva e fechada, e demonstra uma espécie de medo daquele lugar, ilustrado por meio de flashbacks de quando ela era pequena e encontrou uma garota idêntica a ela em uma daquelas casas de espelhos no parque de diversões local.

A memória daquele encontro paira como uma nuvem negra sobre Adelaide, que não consegue se divertir naquele lugar e demonstra claramente isso, ao contrário do casal de amigos Kitty (Elizabeth Moss, de Handmaid’s Tale) e Josh (Tim Heidecker), que claramente se odeiam e abusam de bebidas para manter a ilusão de felicidade, e ainda esfregam na cara de Gabe tudo o que seu dinheiro pode comprar. Seriam eles uma alegoria ao “sonho americano” do homem branco médio?

Eis que, à noite, a casa de Gabe e Adelaide é invadida por uma outra família. Todos vestindo macacões vermelhos, uma luva de couro em uma das mãos e carregando uma tesoura dourada. Mas o mais bizarro não é isso, e sim que os membros dessa família eram uma versão malévola de Adelaide, Gabe, Zora e Jason.

E a trama degringola daí, da luta dos protagonistas pela sobrevivência nessa noite de terror, evoluindo pra algo muito mais estranho e perturbador, envolvendo – sim! – túneis subterrâneos, coelhos, tesouras douradas, Hands Across America, muita violência e tanto simbolismo que eu tenho plena certeza de que não entendi nem a metade.

Mas como se não bastasse tudo isso e um elenco fantástico que te deixa boquiaberto ao interpretar dois papéis de forma maravilhosa, Nós ainda tem um plot twist daqueles de deixar M. Night Shyamalan chorando de orgulho!

É meio ambicioso e até um tanto irresponsável dizer, assim, recém no primeiro trimestre, que Nós é o filme de terror do ano, mas acho que é exatamente isso que ele é. Ele vai te acompanhar até em casa, tirar teu sono, te deixar pensando “e se?”. E quanto às perguntas que eu mencionei no início do texto, ainda tenho todas. E elas também envolvem as tesouras, a luva de couro, os coelhos, os macacões vermelhos, Hands Across America, e o que acontece com Adelaide quando era pequena. Mas isso é assunto para um Geekburger (com muito spoiler) sobre o filme, algo que vai acontecer logo, logo (prometo!).

Enquanto isso, vai no cinema e assiste ele na estreia (que é nesta quinta 21/03), por favor!