Não Olhe [RESENHA]
Achei que ia ter que aconselhar o leitor a seguir o conselho do título do filme, mas até que dá pra olhar sim.
O thriller de horror Não Olhe (Look Away, no original), escrito e dirigido pelo desconhecido Assaf Bernstein, está bem mais para um drama psicológico/sobrenatural (você escolhe uma das duas conclusões), que vale mais por conta da performance da protagonista, interpretada por India Eisley (a filha da Kate Beckinsale em Underworld Awakening), que é ótima e nos convence tanto no quesito adolescente depressiva frágil quanto na faceta menina malvada.
India é Maria, uma adolescente com os problemas clássicos de uma criação abusiva. Com uma mãe submissa e apática (Mira Sorvino, tão apagada quanto sua personagem), presa em um casamento que já não existe mais, e um pai cirurgião plástico adúltero que só liga para aparências (personagem unidimensional vivido por Jason Isaacs), Maria sofre em silêncio seu desajuste social, não ter amigos, o fato de sua única amiga não ser lá bem uma amiga de verdade e ainda namorar o garoto que ela secretamente deseja, seus pais não compreenderem sua dor e simplesmente ficarem bravos porque ela não come, ou não dormiu direito (“Passa maquiagem que você vai se sentir melhor”) em vez de perceberem o pedido quieto por ajuda. O pai é um “show” à parte: oferece à filha – linda, por sinal – uma série de cirurgias plásticas como presente de aniversário de 18 anos, para “levantar sua autoestima”. E como se não bastasse tudo isso, Maria ainda sofre bullying de um dos garotos na escola, que é algo que eu não entendi. Que garoto adolescente é imbecil a ponto de fazer bullying em uma menina bonita? Tomara que ele morra virgem!
Eis que, em meio a todo esse turbilhão de sofrimento, Maria percebe, após um banho, que seu reflexo no espelho tem vida própria e é, na verdade, uma outra versão de si própria. Uma versão chamada Airam (Maria ao contrário, bem espertinho e “suuuper original”), cuja personalidade é o exato oposto à de Maria. Airam diz a ela que é capaz de fazer e falar tudo o que ela não consegue, para acabar com sua dor e as duas acabam trocando de lugar, dando início aos eventos desencadeados no terceiro ato do filme, com direito a planos de uma menina má tão confusa quanto a original e muitas coisas saindo do controle de Airam.
A trama não é lá muito original. Essa ideia do reflexo do espelho ser uma versão malévola do personagem principal é trazida pelo menos uma vez por ano aos blockbusters de horror. Mas Não Olhe apresenta uma justificativa para esse recurso que deixa aberta, como eu escrevi no primeiro parágrafo, a conclusão. A menina do espelho é realmente um evento sobrenatural, um espírito vingativo assumindo a forma de Maria, ou é só um subterfúgio? Um distúrbio mental de uma garota que é claramente atormentada, depressiva e problemática?
Assista ao filme nesta quinta (28/02) e decida.