Review Vingativo: Avengers 9

Ou “o mangá do irmão do Masashi Kishimoto, autor de Naruto” como a Panini não cansou de repetir…

Olá, jovos e jovas, estou de volta após um período sabático movido a dores na coluna e intempéries da vida sertaneja. E já volto falando de lançamento! Sim, amiches e amichas, chegou nas bancas o não muito aguardado mas MUUUUUITO atrasado Avengers 9, ou Sukedachi 9 no original, mangá de Seishi Kishimoto que conta a história de um grupo especializado em uma forma diferente de justiça.

Tudo começa em um futuro não muito distante, onde o caos impera e a diminuição da natalidade no Japão se torna alarmante e se agrava graças a uma onda de crimes violentos. Afim de refrear essa situação o governo decide trazer de volta para os dias atuais uma lei que existiu até o inicio da era Meiji, a Lei da Vingança. Tal lei consiste em punir o criminoso matando-o da mesma maneira que matou sua vitima , tudo, claro, com a autorização dos familiares das vitimas que podem assistir a execução da pena do ponto de vista dos executores. E os tais executores são justamente o grupo que dá título ao mangá, os Avengers, um grupo de 9 indivíduos altamente treinados e que foram vitimas de crimes hediondos no passado ou tiveram familiares vitimados, aumentando assim seu grau de empatia com os familiares da vitima a e o grau de desprezo e sangue frio com relação aos condenados. Tanto executores quanto condenados são jogado em um bairro abandonado cercado por muros que serve de arena. Ali eles terão que duelar e, enquanto o Avenger precisa matar o condenado da mesma forma que ele matou sua vitima, o condenado tem total liberdade de usar qualquer meio necessário para tentar derrotar um Avenger. Caso consiga, ele recebe anistia por 3 anos a condenação passa a ser execução por eutanásia. No entanto, os Avengers não são qualquer um…

O personagem principal é Yuuji Yamagashi, um jovem de 24 anos que, para o mundo exterior e, sobretudo, para sua amiga de infância, a jornalista Haruke Yanase, é um sujeito simpático, meio atrapalhado e que trabalha fazendo pequenos bicos, já que a identidade dos Avengers precisa ser mantida no mais absoluto sigilo, sendo conhecida apenas pelos familiares das vitimas requerentes da execução por vingança. No decorrer da história descobrimos que Yuuji perdeu os braços e pernas em um trágico acontecimento de seu passado e acabou recebendo um transplante  desses membros, No entanto, Yuuji perdeu a sensibilidade em todos eles e se tornou incapaz de sentir dor nas extremidades, se aproveitando disso sempre que precisa executar uma vingança. Os demais Avengers são Kazunari Sakurada , um sujeito gente boa responsável pelo treinamento de Yuuji, Komatsu Horibe, um senhor de mais de 100 anos que vive aparecendo e desaparecendo de forma misteriosa e dá extremo valor a comida devido seu passado na guerra (tanto que em sua primeira aparição está dividindo uma tigela de ração com um gato), Yoshihiko Hagiwara, um ex-médico especialista em facas, Noboru Hinomura, um grandalhão infantiloide que sempre está com duas bonecas de pano nas mãos e é tido como o mais forte fisicamente no grupo, Kyougen Chikamatsu , um sujeito misterioso que vive usando uma máscara com a palavra “espelho” escrita nela (o conceito de espelho para os Avengers se refere ao fato de que eles se veem como um espelho que reflete ao criminoso tudo que eles fez as suas vitimas), Yuki Nakatani, uma jovem cega que, além dos clichês óbvios de super-cegos, consegue adivinhar como uma pessoa é apenas pelo cheiro, e, por fim, os dois novatos, o jovem e entusiasmado Kouta Kiyodera e a introspectiva Ryouko Koizumi, a garota sobrevivente do crime que motivou a criação dos Avengers e do sistema de vingança.

Bem, sinopse e personagens apresentados, vamos para minhas considerações quanto a obra. Ultimamente eu não tenho tido lá muita vontade de acompanhar quase nada do que está em banca, sejam comics ou mangás. Dos comics eu só compro um encadernado ou outro a cada 23 primaveras e, agora mais do que nunca, apenas pela internet em tempos de promoção, pois não estou com meu ânus coçando pra pagar os preços filhos da puta da Panini. Dos mangás eu tenho acompanhado apenas Lobo Solitário, Blame! e…acho que só! Não tenho saco pros shonens que entopem as bancas nem pra mangás longos demais. E foi justamente por ter uma premissa diferente e ter apenas 5 volumes que Avengers 9 chamou minha atenção. Esperei com ansiedade para ver essa história tão “transgressora” chegar nas bancas e, após muita presepada da Panini, que tem o PÉSSIMO hábito de anunciar coisas em uma data e lançar apenas DOIS MALDITOS MESES DEPOIS, finalmente consegui por minhas mãos na primeira edição..só pra ter uma bela dose de decepção!

O conceito de Avengers 9 continua sendo a melhor coisa que o mangá tem, mas sua execução acaba caindo no genérico, limando toda a possibilidade de entregar uma história densa, perturbadora e complexa e transformando-a em um shonen (série de mangá/anime voltada pra o público adolescente masculino) fazendo cosplay de seinen (série de mangá/anime voltado para o público adulto). Tem violência? Tem? Tem drama? Tem! Tem questionamentos morais? Tem! Mas tudo EXTREMAMENTE DILUÍDO em clichês de mangás que não são cabíveis a uma obra com uma proposta tão pesada.O mangá é entupido de momentos clichês idiotas do tipo Cavaleiros do Zodíaco com seus “fazemos isso por um bem maior, por isso não desanimem amiguinhos!” ou quilos e quilos de conversas piegas com os familiares das vitimas. A coisa toda só piora no capitulo final desse primeiro volume que descamba para uma história do tipo “Scooby-Doo”, ondem alguns Avengers precisam proteger o familiar de uma vitima, já que se ele morrer não pode haver vingança, e ainda tentar descobrir quem está querendo matá-lo, já que o assassino que ele pode condenar não tem familiares vivos.

Momento “não posso matá-lo MAIS AINDA pois eu seria pior que ele”.

E por falar em história mal contada, deixe-me citar a parte que mais gerou um “HEIN???” gigante em minha mente enquanto eu lia, que é justamente o momento em que a Lei da Vingança é criada. Para isso preciso dar spoiler, portanto estejam avisados!

SPOILERS!!!

Como supracitado,a novata Ryouko Koizumi é única sobrevivente de um crime que foi o responsável pela criação da Lei da Vingança. Acontece que, certo dia, em uma escola comum do Japão, um sujeito com problemas mentais devido ao fato de ver sua mãe deixar de ser uma mulher carinhosa e responsável para se tornar uma promíscua que não ligava mais para ele (tal qual o Rorschach em Watchmen), invade o prédio e começa a apunhalar garotas a esmo pois, segundo ele, todas tinham o rosto negro e desfigurado tal qual sua impura mãe. É quando o sujeito vê Ryouko e consegue enxergar seu rosto normalmente, chamando-a de “Anjo da Anunciação”, o anjo que ele tanto procurava. Ele  pega Ryouko, aparentemente a estupra (o mangá não deixa muito claro), faz asas de sangue sob ela e marca um símbolo religioso em seu peito, símbolo de uma seita que o tal criminoso seguia. O sujeito é preso e condenado a forca, tendo a pena executada tempos depois. No entanto, os pais das vítimas não estavam satisfeitas com uma punição tão “simples” e vão até o templo dessa tal religião onde o corpo do assassino era velado. Eles abrem o caixão e esquartejam o corpo, berrando aos quatro cantos que a justiça não deveria ser assim, “tão branda e rápida” e que os assassino deveria ter sentido a mesma dor que suas filhas. E…pronto! Ao invés de condenar todo mundo por violação de cadáver, a justiça japonesa resolver que seria uma boa ideia criar um grupo especializado em matar assassinos e estupradores com o mesmo requinte de crueldade com que estes mataram suas vítimas! Sim! Isso não faz o menor sentido!

FIM DOS SPOILERS!

 

Agora vamos falar da arte. Sim, Sehishi Kishimoto é o irmão gêmeo de Masashi Kishimoto, fato que MUITO CRETINAMENTE a Panini usou para fazer propaganda do mangá à exaustão, apesar de negarem isso de pés juntos. E, sim, o traço dos dois são muito parecidos! No entanto, Seishi Parece um Masashi melhor finalizado. Apesar disso o traço acaba não tendo nada de mais e soa meio genérico. A narrativa segue nessa mesma pegada, sem grandes momentos que te farão para em uma página por alguns segundos pra ficar contemplando a belíssima e bem pensada sequencia narrativa a sua frente. De realmente bacana temos o visual dos Avengers, que são bem estilosos, mas isso era o minimo esperado.

Tá, eu confesso que o visual “fã clube do Kaneda” possa ter sido fator influenciador na minha vontade de ler esse mangá..

Agora falemos da edição da Panini. São 240 páginas em papel jornal por R$16,90. Sim, quase o mesmo preço de One-Punch Man (que tinha exatamente esse preço antes do aumento), da mesmíssima editora e que tem uma qualidade MUITO MELHOR! Não sei porque diabos um preço tão alto em uma edição em papel jornal mas, certamente, não vale a pena! Isso sem falar que esses mangás de muitas páginas sempre acabam com páginas amassadas no meio, como sempre acontece com Lobo Solitário, e aqui não é diferente, com o agravante dos amassados serem em um papel nojetamente vagabundo e fedorento. Não, o fedorento não foi uma força de expressão. O mangá está fedorento MESMO! Ah, e lá pelas páginas finais temos uns erros de diagramação que resultaram em palavras cortadas nos balões além de alguns erros ortográficos no mangá. Revisor dormindo no ponto…

Enfim, Avengers 9 é um mangá que muito prometia mas pouco entregou, ficando apenas no campo do medíocre. Se vou continuar acompanhado? Sim, vou! Apesar de tudo, o mangá ainda tem potencial de melhora e eu fiquei curioso para ver os outros Avengers em ação, já que nessa primeira edição só vemos dois deles executando as vinganças. Sei que a possibilidade de uma espiral de decepção é extramente alta…mas vou dar o benefício da dúvida. Como eu disse, é medíocre, mas não chega a ser uma tragédia e isso me nutre de esperança.

Nota: 6,0