Asteróides – Estrelas em Fúria
Nunca achei que iria gostar tanto de salto ornamental feminino
Vivemos em tempos difíceis para ler quadrinhos; O mercado está inchado por encadernados medíocres do Batman e do X-Men e, o material que foge do mundo colorido e bilionário da Marvel/DC é publicado em edições mais luxuosas que a suíte do ex-prefeito/gestor Dória, com lombadas ilustradas pra lá, títulos folhados a ouro pra cá, afastando leitores que não ganham rios de dinheiro todo mês. É uma situação triste, cuja tendência é só piorar, mas nem tudo está perdido! Não, meus caros irmãos desse hobby tão mal tratado e retratado por seus próprios fãs, ainda há esperança, mesmo que ela se pareça um pesadelo vindo direto do inferno ou uma visagem de ácido.
Essa esperança se chama Asteroides – Estrelas em Fúria, a nova HQ do Lobo Ramirez, autor do belo Ejaculator (resenha em breve) e membro da banda Orgasmo de Porco, lançado pela Escória Comix e Ugra Press.
Ambientado em um futuro violento e abandonado por Deus, a HQ narra a busca de Sheilão e suas amigas ao responsável pelo assassinato de sua treinadora de Salto Ornamental Feminino, o esporte mais extremo já criado. O encadernado é recheado de violência gratuita, orgias com gnomos, ninjas da Liga Asiática Dos Judeus Unidos, amizade feminina e músculos torneados, e acreditem em mim quando digo que essa foi a HQ brasileira mais divertida que li esse ano.
Se há uma palavra que melhor descreve Asteroides, essa palavra é “trash”; Com uma história tão bizarra quanto os melhores filmes do gênero e tão brutal quanto as bandas do estilo, Lobo criou um mundo deturpado e escatológico que remete as melhores músicas na antiga U.D.R (que vive até hoje em nossos corações). Essa não é uma HQ recomendada para crianças ou pessoas sensíveis, mas, caso alguém assim leia, com certeza ela irá ganhar músculos e um novo objetivo de vida instantaneamente.
Mas todo bom gibi precisa de uma arte a altura, e Lobo não é apenas um bom roteirista: Ele é o desenhista que todo adolescente problemático sonha em ser. Seu traço é pesado, bizarro e massaveio, dando uma ideia de como seria o traço do filho otaku perdido do Rob Liefeld com o Simon Bisley. Sabe aquela vibe que “todo quadrinho nacional tem que ser fofinho”? Então, esqueça isso em Asteroides. A arte aqui é feia, igual a vida real, beirando a uma declaração de amor para todos aqueles que a sociedade excluí por causa da sua falta de beleza ou vício em crack.
A edição da Ugra Press está bem legal, com um papel de qualidade, formato de 15×21, 120 páginas em preto e branco e o valor de R$ 35 golpinhos. O único defeito da HQ consiste em alguns erros bestas de gramática, mas nada que tire o brilho desse petardo subúrbio operário.
Mais do que um besteirol banhado em sangue e merda, Asteroides é a pedida certa caso você esteja cansado de comprar quadrinhos cinco vezes mais caro do que deveria e queira ler algo completamente divertido. Pelo amor que vocês têm pelo menino Jesus, comprem logo essa HQ!
9,9 de 10 diabinhos