Guerra do Velho
Old Man’s War acaba sendo um título mais responsa.
A humanidade finalmente alcançou o nível tecnológico avançado o suficiente para explorar o espaço e colonizar outros planetas, e descobriu que outras espécies inteligentes estão nesse jogo há muito tempo, se matando a troco de um planeta aqui e outro acolá. Para conseguir entrar na briga, os humanos criam as Forças Coloniais de Defesa, com o objetivo de ganhar território e manter aqueles conquistados com muita luta. Pouco se sabe sobre as Forças Coloniais, além do fato de que governos terrestres tentam todos o anos exigir que eles compartilhem sua tecnologia, sempre sem resultados. O fato é que o que tem além do espaço é muito mais avançado do que há na Terra.
Os planetas responsáveis pelo envio de colonizadores são aqueles mais afetados pelas guerras na Terra (que ainda perduram) como índia e Paquistão, aos países potência como Estados Unidos só resta o alistamento como membro das Tropas de defesa. Só existe um pré requisito para o alistamento: ter mais de 75 anos. Uma vez no espaço, o soldado nunca mais voltará para a Terra, porém após dez anos no serviço, o mesmo ganha o direito de se tornar um colonizador civil, por assim dizer. Após uma vida inteira no planeta natal, uma nova vida começa em qualquer cafundó do espaço.
Mesmo com o avanço da medicina terrestre, nada consegue parar o envelhecimento. Órgãos avariados podem ser facilmente transplantados por outros clonados, com exceção do cérebro, mas invariavelmente a morte chega para todos, precedida de uma progressiva perda de vitalidade. Não é de se estranhar que um alto número de senhores e senhoras acabe se alistando, como no caso do protagonista, John Perry, um ex publicitário e pacifista, que acabou perdendo a esposa para um avc anos antes.
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Acabei lendo Guerra do Velho por um peso na consciência desgraçado. Entrei na Amazon um dia e consultei o meu histórico de compras, e lá estava o bendito, completando um ano de compra. Um ano na minha prateleira, ainda dentro da embalagem plástica. A continuação do livro, As Brigadas Fantasma, não estava ao seu lado apenas por uma questão de falta de espaço, ela ficava guardada no meu guarda roupa, em situação idem quanto à embalagem, mas comprada apenas há alguns meses. A pior parte da compulsão em comprar livros e montar uma biblioteca que sabe-se lá quando será totalmente lida, é a fila interminável de títulos para ler, e aqueles que sempre ficam pra depois.
Pior que isso é o arrependimento que bate quando você finalmente acaba de ler um desses títulos adiados e para pra pensar em como teria sido bom ler ele meses atrás. Você está ali, com o livro em mãos, se divertindo e prometendo a si mesmo que não vai mais repetir esse erro. Sim, você está mentindo pra si mesmo. Chega de lamentações, bora pra análise.
Bom humor é o tom principal durante toda a leitura. Até mesmo os assuntos mais delicados como morte, sexualidade, militarismo e sanidade em ambiente de batalha são abordados de uma maneira a cutucar a ferida com um sorriso no rosto. John Perry, o protagonista, é um personagem sensacional em todas as suas camadas, até mesmo as mais superficiais, e não há um personagem coadjuvante em todo o livro tratado de maneira relapsa ou desnecessária. Mesmo sendo um livro ambientado durante vários conflitos, a parte da ação acaba sendo colocada em segundo plano, o que pode desagradar aqueles que buscam um sucessor espiritual de Tropas Estelares, por exemplo.
Toda vez que leio alguma obra de ficção científica, acabo perdendo alguns minutos em um exercício mental que consiste em avaliar a viabilidade de uma adaptação da obra, seja pra cinema ou tevê. Uma produção de orçamento robusto com roteiro fiel com certeza seria um sucesso, porém a leitura do livro leva a crer que não é algo realmente necessário. A obra em si passa a impressão de ser tão completa dentro dela mesma que uma adaptação seria mera redundância, não acrescentaria nada de novo. John Scalzi acaba de ganhar um fã.
Quanto a parte editorial, simplesmente Aleph sendo Aleph. Mesmo não sendo no já conhecido tratamento de luxo, a edição em capa cartonada trás uma belíssima capa com uma arte que continua nas enormes orelhas internas, verniz encaixado nas letras, papel pólen e uma página preta dividindo cada capítulo. Não existem extras na publicação além dos agradecimentos do autor ao final do livro, mas também tais extras não se fazem necessários. No momento da confecção deste post, o livro está sendo vendido por módicos 20 golpinhos na Amazon, e está fortemente recomendado.