Cyborg: O He-Man do Futuro?

Algo de errado não está certo…

Quem aqui, com mais de 30, não lembra quando era moleque e se amarrava naquele filme HORRENDO estrelado pelo senhor Dolph Lundgren chamado “Mestres do Universo” pelo simples fato de ser uma adaptação do He-Man para as telonas? Eram tempos MUUUUITO diferentes, e quem não tivesse um cinema na sua cidade, só poderia ver o filme via VHS alugado em uma lendária locadora (sim, meninada, haviam locais onde as pessoas alugavam grandes caixas negras chamadas “fitas VHS” para colocar em uma miraculosa máquina chamada “vídeo-cassete”) ou pela TV. E fora em muita Sessão da Tarde que a molecada acompanhou as reprises desta aberração. No entanto, como eu já disse, eram tempos muito diferentes e estávamos mais dispostos a aceitar as “adaptações” cinematográficas, por mais bizonhas e canhestras que elas fossem, pelo simples fato de estarmos animados demais em ver nossos personagens favoritos, fossem de desenhos animados, jogos de vídeo games ou HQs, em carne, osso e cretinice.

Filmes

E apesar de muita gente lembrar com nostalgia desta PÉSSIMA adaptação de He-Man para as telonas produzida pela canastra Golan-Globus ( também conhecida como Cannon Films), o tempo passa, a gente cresce, e percebe que o fracasso desta porcaria foi totalmente justificado (custou 22 milhões e arrecadou 17,3 milhões). No entanto, a Golan-Globus era otimista e já havia planejado uma sequencia desta abominação antes do seu lançamento. Só que a vaca de Eternia foi pro brejo e o projeto não foi pra frente. Mas na Golan-Globus nada se perde, tudo se transforma! E o roteiro de “Masters of the Universe 2: Cyborg” acabou sendo transformado em um filmeco estrelado por Jean-Claude Van Damme chamado…Cyborg, que no Brasil angariou o subtítulo de “O Dragão do Futuro”! E é deste filme, que eu nunca tinha visto até agora, que irei falar.

CYBORG-1

Se o roteiro de Mestres do Universo é ruim, mudando personagens, tirando a superforça do He-Man, mudando a história de Eternia pra Nova York afim de economizar com cenários e transformando a coisa toda numa versão pobretona de Star Wars, vendo “Cyborg: O Dragão do Futuro”, as expectativas para a sequencia não eram das mais animadoras. O plot básico de Cyborg é o seguinte: em um futuro distante (pra eles, de 1989, mas que pra nós, deve ter sido há uns 15 ou 16 anos atrás) a raça humana foi praticamente dizimada por um vírus que provoca fome e doença nos poucos sobreviventes (no Brasil chamamos isso de “politica”). No entanto, existe a esperança de uma cura e tal informação precisa ser levada para a cidade de Atlanta por motivos de “por que sim”. E por mais motivos de “por que sim”, uma jovem mulher tem seu corpo transformado em um ciborgue afim de armazenar tal informação pois, aparentemente, apenas memorizar ou levar escrita em um papelzinho não seria o suficiente.

A "fantástica" operação. CHUPA, GHOST IN THE SHELL!!!

A “fantástica” operação. CHUPA, GHOST IN THE SHELL!!!

No meio do caminho ela é atacada por um grupo de arruaceiros tipicamente pós-apocaliptico, que se vestem com as roupas mais espalhafatosas possíveis e tem um líder mal e sanguinário como manda a cartilha, este se chamando Fender Tremolo (Fenda Tremula…que belo nome de vilão maligno do mal… Jaílson Mendes aprova) que, claro, tem uma história com o protagonista da bodega toda, o misterioso Gybson Rickenbaker (Van Damme em sua fase “aspirador de pó”). Obviamente, Gybson salva a ciborgue das mãos dos “maléguinos” vilões e, claro, a segue em sua jornada pelo bem da humanidade, certo? ERRADO! Por alguma razão, os roteiristas resolveram colocar a personagem que dá sentido ao título do filme em apenas 15% dele, fazendo o personagem do Van Damme conhecer e acompanhar outra garota que não tem relevância nenhuma na história e nos empurrando em uma ladeira de situações idiotas, diálogos imbecis, lutas com o selo Van Damme de qualidade (sempre os mesmos dois chutes com intervalos de 30 segundos entre cada um deles enquanto o adversário espera, desnorteado), montagem horrenda e trilha sonora repetitiva e chata.

 Conversa dos produtores: - E se a gente trocasse a personagem principal por outra que não faz diferença nenhuma pra trama? - Pra mim tá ótimo!


Conversa dos produtores:
– E se a gente trocasse a personagem principal por outra que não faz diferença nenhuma pra trama?
– Pra mim tá ótimo!

Nunca fui lá grande fã dos filmes do Van Damme nos anos 90, quando era moleque. Excetuando “O Grande Dragão Branco”, já achava os filmes dele bem mais ou menos. Depois que assisti Mortal Kombat, lááá por 1995, o qual tinha umas coreografias até “rápidas” em comparação com os outros filmes norte- americanos de artes marciais que viviam sendo reprisados na TV, foi que eu fiquei mais atento as coreografias de luta dos filmes e foi quando eu percebi a lerdeza do Van Damme e sua pouca inspiração em suas coreográficas, que sempre se resumiam ao mesmo chute giratório frontal e a famosa voadora com espacate. Isso sem falar no tempo entre um golpe e outro! Sério, assistam Garantia de Morte e vejam ele golpear um cara com intervalos de até 10 segundos entre um golpe e outro! Justamente por isso nunca tinha visto Cyborg até hoje, fazendo-o apenas quando descobri se tratar de uma sequencia abortada de Mestres do Universo.

Como citei resumidamente acima, o filme é ENTUPIDO de defeitos. São tantos defeitos que ficam até acima do padrão da própria Golan-Globus que, por incrível que pareça, não errava o tempo todo, tendo acertado notoriamente duas vezes, uma com Stallone Cobra e outro com, pasmem…Highlander: O Guerreiro Imortal, ambos ótimos filmes ruins! Aliás, se não me engano, Highlander concorreu (não lembro se ganhou) ao Oscar de melhor edição!

Off topic: Vocês sabiam que a Golan-Globus QUASE produziu um filme do Homem-Aranha, inclusive lançando um trailer promocional com essa imagem acima. Sério, procurem no Youtube! Ah, e vejam no poster quem seria o diretor...

Off topic: Vocês sabiam que a Golan-Globus, sob o selo Cannon Films, QUASE produziu um filme do Homem-Aranha, inclusive lançando um trailer promocional. Sério, procurem no Youtube! Ah, e vejam no poster quem seria o diretor…

No entanto, em Cyborg esses defeitos são agressivos. A montagem é horrível e dá uns saltos na narrativa que prejudicam o andamento da já péssima história. O vilão é um arremedo de todos os vilões dos filmes futuristas da própria Golan-Globus e fica claro em seu visual que alguns eram versões “melhoradas” de Mestres do Universo. Os poucos efeitos especiais são medonhos, com destaque para o stop-motion da ciborgue ao tirar sua peruca e revelar seu cérebro eletrônico sem razão de existir. A cena me fez sentir um misto de “que porra é essa” com “hmmm…boa sacada”, por que o stop-motion era o efeito que se tinha em mão nos anos 80, já que o CG da época era medonho. No entanto, o grande problema é que a atriz que interpreta a ciborgue é linda e tem belos olhos azuis mas,quando tira a peruca pra mostrar o cérebro e dá lugar ao boneco feito em stop-motion, parece que modelaram sobre a face do Mick Jagger e esqueceram a cor dos olhos da atriz, já que o boneco tem olhos negros. Quer, saber…vejam vocês mesmo:

Outro ponto extremamente non-sense é a necessidade louca que os vilões tem de gritar pra qualquer coisa, como pôde ser visto no clip acima assim que eles aparecem. Eles são ordenados a matar alguém…eles gritam! São ordenados a capturar alguém…eles gritam! São ordenados a comprar pão na padaria do Seu Joaquim…eles gritam! A concepção de “vilão futurista” dos idealizadores destes filmes pós-apocalípticos é muito peculiar.

Vilões futuristas dos anos 80 precisam fazer, obrigatoriamente, duas coisas: 1- Se vestir mal 2- Gritar muito e sem motivo aparente

Vilões futuristas dos anos 80 precisam fazer, obrigatoriamente, duas coisas: 1- Se vestir mal 2- Gritar muito e sem motivo aparente

E, por falar em idealizadores, vale citar o “magnifico” trabalho do diretor havaiano Albert Pyun, que tem em seu impecável currículo perolas como o Capitão América de 1990, Kickboxer 2 e 4 entre tantos outros filmes que você provavelmente nunca ouviu falar, sendo 80% delas com temática pós-apocalíptica. O sujeito deve ter sido a inspiração para Zack Snyder, já que entope o filme com câmeras lentas totalmente desnecessárias em todas as malditas cenas de ação. Correção:as câmeras lentas já começam ANTES das cenas de ação terem inicio. Talvez, se não tivesse tantas câmeras lentas dispensáveis, o filme de 1:26hr teria…sei lá… 1:00hr apenas!

Outro problema do senhor Pyung é quantidade de cortes nas cenas de luta. Esse artificio é utilizado pra disfarçar dublês em cenas de ação com coreografias complexas, o que NÃO É O CASO AQUI! As cenas são lentas e até um moleque de 8 anos poderia executá-las, mas Pyun mete a tesoura e tem o agravante de, por exemplo, quando o Van Damme dá um chute em um bandido, ele faz a seguinte sequencia de cortes: plano aberto-bandido em plano americano-close na cara do Van Damme- close na perna do Van Damme girando- plano aberto mostrando o pé do Van Damme se aproximando da barriga do vilão- close do pé do Van Damme atingindo a barriga do vilão. Tudo isso em 10 segundos ou menos, o que deixa a cena pior do que já é! Segue o exemplo abaixo:

Ah, e falando em Van Damme lutando, já deixei claro que suas coreografias são ruins e sua luta é repetitiva…mas aqui ele abusa! O filme inteiro ele usa apenas os pés quando não está usando uma arma de fogo (bem ridícula, diga-se de passagem) ou facas e espadas (essa segunda, quase nunca utilizada). No primeiro embate com o tal Fender Tremolo, ele dá uma sequencia de uns 5 chutes repetidos na altura das costelas do sujeito que, óbvio, defende com a facilidade de quem está espantando uma mosca. Fender, então, revela que tem a incrível capacidade de dar socos, surpreendendo nosso herói que fica ainda mais surpreso ao descobrir que os socos podem ser dados em locais diferentes. Assim, ele cai derrotado. Apenas nos 5 minutos finais de filme, o personagem de Van Damme parece descobrir que tem mãos e que pode usá-las tal qual Fender o fazia. E, assim, ele vence a luta…mas não sem antes apanhar feito cachorro ladrão, claro. Abaixo, segue um pequeno vídeo com toda a variedade de golpes que Van Damme usou em todos os seus filmes (menos em Legionário, onde ele achou que seria uma boa ideia fazer um drama de guerra onde ele não lutava):

Por fim, eis um filme que caberia certinho em um Tortura Cinematográfica Show, mas temos tantos em pauta que não sei se sobraria espaço pra ele. Ele pouco me divertiu (quase nada, na verdade) mas, ao mesmo tempo,  me fez sentir um certo sentimento de gratidão por ele. Sim, por que esta bosta SERIA O MESTRE DO UNIVERSO 2! Calculem a merda que iria ser! Ah, antes que eu esqueça, essa abominação gerou duas sequencias, uma de 1993 e outra de 1994, sendo que Cyborg 2 foi estralado por ninguém mais ninguém menos que…pasmem…Angelina Jolie! É…todo mundo tem que começar de algum lugar…

Cyborg-2-Glass-Shadow-1993-poster

Nota: 1,0