Review Tagarela: Deadpool Clássico 2!
AGORA SIM, a coisa fica boa DE VERDADE!
No post sobre Deadpool Clássico 1, que você pode ler AQUI, eu falei um pouco das origens editoriais do Mercenário Tagarela enquanto criação cretina do senho Rob Liefeld. Exploramos as suas duas primeiras mini-séries, uma PÉSSIMA com roteiro do Fabian Nicieza, “co-criador” do personagem, e desenhos de um novato Joe Madureira, e a outra com roteiro mais aceitável do senhor Mark “SOU FODA” Waid (talvez precisando pagar o gás na época) e os desenhos esquisitos do Ian Churchill com fill ins dos HORRENDOS Lee Weeks e Ken Lashley.
Bem, aqui é onde começa, pra mim e pra muitos outros fãs velhacos do personagem, a criação REAL do que veio a se tornar o Deadpool como o conhecemos hoje! E se tem um nome que merece todos os créditos, esse nome é Joe Kelly! Mas, antes de rasgar muita seda, vamos ao que está contido na edição 2 da Panini.
Os acontecimentos de Deadpool Clássico 2 começam justamente na primeira edição da revista solo do personagem lá nos EUA. Publicada em janeiro de 1997, a edição gigante trazia uma aventura que se passava logo após a mini escrita pelo Mark Waid. Uma empresa chamada “Landau,Lukcman & Lake” por alguma razão está interessada em transformar o Deadpool em um “herói”, coisa que o próprio mercenário começa ponderar após sua aventura ao lado da Siryn, por quem desenvolveu uma paixonite. Para tanto, os agentes Noah e Zoe da tal “L,L & L”, forjam um contrato falso para que Deadpool exploda um laboratória desabitado nos confins da Antártida. Acontece que o tal do laboratório não estava ocupado, como estava levando a cabo um projeto desenvolvendo um mecanismo de absorção da radiação gama da atmosfera. E o cabeça do projeto era ninguém menos que o Dr. Walter Langkowski, o Sasquatch da Torpa Alfa.
Após explodir um lado do laboratório segundos depois de se dar conta que o mesmo não estava desocupado, Deadpool entra em combate com o Sasquatch, o qual tenta entender o que está havendo e explicar sobre os riscos de danificar o aparelho com o núcleo gama dentro do complexo. Óbviamente, Deadpool não dá chances pro Sasquatch abrir a boca e , no meio do confronto, ele acaba por destruir o invólucro da máquina, o que poderia ocasionar uma tragédia em nível nuclear. O único modo de parar a coisa toda seria destruindo parta do núcleo da máquina, que consistira em uma baita lasca de rocha com radiação gama, e o Sasquatch nada pode fazer, pois está tentando impedir que a radiação vaze pelo buraco no involucro. É quando o Deadpool resolve mergulhar no tanque e explodir a coisa manualmente. O plano dá certo, Deadpool quase bate com as 12 mas sobrevive e tudo fica bem. Ou quase…
Por que eu detalhei tanto a primeira história do encadernado? Simples: por que os acontecimentos dela irão repercutir de forma crucial nos capítulos seguintes! O segundo capítulo é onde as consequências do ato heroico do Deadpool começam a aparecer.
Tudo começa com o Fuinha sendo sequestrado. O responsável é o misterioso e desconhecido Treinador (desconhecido pro Deadpool, pelo menos, já que o Treinador era um vilão dos Vingadores), o qual está interessado nos serviços do Fuinha e mais interessado ainda em usar o Deadpool como exemplo para os seus alunos em sua… “escola de ninjas”. Após apanhar feito um cachorro no combate com o Treinador, Deadpool começa a estranhar que seu fator de cura está lento. Por fim, Deadpool vence a memória fotográfica do Treinador, que o permitia absorver todas as técnicas dos seus inimigos apenas observando-os, dançando loucamente e sendo imprevisível. Mas a vitória não saiu barato, com Deadpool tento o dedo médio da mão esquerda decepado.
E vamos para a terceira edição.
Depois de muito tempo após o confronto com o treinador, o dedo do Wade ainda não cresceu e isso começa a preocupa-lo seriamente. É quando ele recebe uma encomenda, uma caixa com uma de suas luvas e um mapa com uma localização. Ao que parece, a luva foi mandada por Black Tom Cassidy, e o mapa indica sua localização. Deadpool não pensa duas vezes antes de ir atrás do homem que decepou sua mão (na mini do Mark Waid) e vai atrás da Siryn, que é sobrinha do Black Tom, para ir com ele em busca do sujeito. Ao chegar lá, Deadpool descobre que quem enviou a lua foi o Dr. Killbrew, o homem que curou o câncer de Wade Wilson e o transformou no Deadpool num lugar chamado “A Oficina”. Wade quase mata o sujeito mas Siryn o convencer a deixar Killbrew se explicar. Ele diz que sabe que Wade está morrendo devido a contaminação por radiação gama que está sobrecarregando seu fator de cura, fazendo-o falhar, e agora quer ajudar a salvar a vida de Wade como um modo de pagar pelos seus erros do passado. Relutante, e mais por causa da Siryn, Deadpool aceita. Mas o modo para salvar a sua própria vida não será nada simples, já que envolver pegar uma amostra de sangue de um certo Gigante Esmeralda…direto da fonte…
Esse é o resumão das 5 edições desta fase que compõem o encadernado, sem contar o “bônus” do final do qual falarei mais adiante. Mas vamos as considerações sobre essas 5 edições. E, eu já vou deixar uma coisa bem clara…EU ADORO ESSAS HISTÓRIAS!
Conheci Deadpool uns dois anos após começar a ler quadrinhos, nas páginas de Marvel 99 da Abril. Nunca tinha visto ou ouvido falar do personagem em lugar algum, e o tom da história era hilário o que, junto com os desenhos meio “mangáticos” do Ed McGuinness, me ganhou de imediato. A primeira história que li está no volume 3 dessa coleção, e mostrava o Deadpool em uma missão de resgate à uma paciente de um hospital psiquiátrico que será importante durante parte dessa fase do Joe Kelly e da qual falarei no próximo post. Lembro que gargalhava feito um retardado lendo aquelas edições e sempre ficava chateado quando uma Marvel 99 não tinha Deadpool em seu mix. Mais chateado ainda fiquei quando Marvel 99 acabou e nada mais de Dedpool apareceu nas bancas por um longo período.
Quando “Deadpool Clássico” foi anunciado, pra mim já começaria justamente por essa fase do Joe Kelly, por que, pra mim, ESSE é o Deadpool clássico. Claro que fui atrás de muitas outras coisas com o personagem lá por 1999 e 2000, mas nada tinha o tom marcante da fase Kelly/ McGuinness. Quando a primeira edição saiu, eu fiquei um tanto decepcionado por trazer a mini-série do Nicieza, que tentei ler por scan uma vez, mas era tão ruim e tão sem charme e humor que eu desisti. A mini do Mark Waid eu tinha em formatinho e gostava, por que era um prequel pra fase do Kelly e não era tão IMBECIL quanto as histórias do “co-criador” Nicieza. Pra ilustrar melhor o meu ponto, eu vou falar da história que fecha essa edição. A última história de Deadpool Clássico 2 traz New Mutants 98, primeira aparição do personagem ,com roteiro de Fabian Nicieza e argumento e “””arte””” de Rob Liefeld, dupla criadora do personagem. E a história é UM LIXO!!!
A história se passa durante uma sessão de treinamento da X-Force, com o Deadpool aparecendo pra matar o Cable por ordens de um tal Tolliver, nome que deve fazer sentido pra quem lia esta merda. O personagem tem suas piadinhas aqui, mas em menor escala e com graça nula. Ele tem todo o jeitão de “olhem pra mim, sou uma cópia descarada do Exterminador” e o traço HORRENDO do Liefeld só reforça isso. O personagem era, claramente, só uma imitação sebosa e nojenta sem grande importância. E é esse fator que desperta o ódio de tantos leitores antigos quando o personagem é citado perto deles. E você vê pelas histórias escritas pelo Nicieza que ele queria fazer do personagem um anti-herói trágico mas badass, principalmente na sua mini série presente na Coleção Histórica 1.
O que Joe Kelly parece fazer é pegar tudo isso que o Lifeld e o Nicieza almejavam e pensar “quem diabos vai levar isso a sério? Se é uma piada, que seja uma piada boa, pelo menos!” e injetou humor escrachado nas suas tramas, mas sem perder o apelo dramático que a origem do personagem deveria ter nas mãos do Nicieza, só que Kelly soube trabalhar MUITO MELHOR, sem querer empurrar isso como fio condutor num personagem onde isso não funcionaria, e nos brindando com pequenos momentos dramáticos em doses homeopáticas.
A relação do Wade com a Siryn é uma das melhores coisas da fase inicial do Joe Kelly. A irlandesa ruiva serve de consciência para o Wade e o próprio sabe disso, tanto que apela a ela sempre que pode pra não fazer besteira por impulso, como quando vai atrás de Killbrew, por exemplo. E Killbrew serve como gatilho pra ativar o freio no bom humor do Deadpool e nos mostrar que, apesar das piadinhas, o passado do cara foi barra pesada, coisa que a Siryn também vê e a faz enxergar a parte mais humana por trás do saco de piadinhas infames que Wade transparece ser durante todo o tempo.
Claro que também temos os “amigos” do Wade, como o Fuinha e a Cega Al, uma das poucas a ter coragem de jogar verdades na cara do Deadpool sem medo e ser esfaqueada, baleada ou brutalmente assassinada. Aliás, a relação com a Cega Al parece ser engraçadinha e “inocente”, já que ela vive dizendo que é a prisioneira dele e isso sempre acaba em uma piadinha. O problema é que, mais adiante, acabamos descobrindo que “piada” está longe de dar nome a esse relacionamento, e uma faceta mais negra de Wade Wilson é revelada.
Ainda sobre o que Joe Kelly fez com o personagem, é preciso avisar pra você, leitor mais jovem ou que só conheceu o personagem mais “recentemente” (dos anos 2000 em diante), que talvez você estranhe um pouco a pegada dessas histórias. As histórias do Mercenário Tagarela sofreram grandes mudanças com o passar dos anos, ganhado um tom pastelão exagerado, uma par de vozes que eram “outras personalidades” do Wade com as quais ele conversava (conceito que nunca me agradou muito e só foi piorando com o tempo) e momentos surreais em muitas de suas tramas. Joe Kelly fazia um Deadpool mais “pé no chão”, com um humor sem a pegada quase “animaniacs” que permearia histórias futuras do personagem e com um tom mais “crível”. Não a toa, o filme de 2016 é todo calcado justamente nessa fase. Joe Kelly definiu cânones do personagem e definiu seu tom de vez. Por isso, pra mim, ELE SIM, É O CRIADOR DO DEADPOOL!
Quanto ao traço do senhor Ed McGuinness: Eu gosto! Até hoje, aliás! Muita gente abomina o traço do cara ou o jeito dele contar histórias. Eu ADORO os desenhos “estampa de camisa” dele, acho muito legal e creio que o grande erro foi tentar empurrar os desenhos dele dessa época em histórias sérias, como em Batman e Superman que ele desenhou em parceria com o Jeph Loeb. Certo, as histórias eram ruins…mas o Loeb levava à sério! O traço do McGuinness sempre combinou com histórias mais cômicas ou adaptações de desenhos animados, como Thundercats, onde ele fez um ótimo trabalho. Hoje seu traço mudou MUITO (CHUPA, LIEFELD) e pode casar facilmente com qualquer tipo de história. Aliás, ele e o Kelly voltaram a se unir em “Homem-Aranha e Deadpool” onde ele usa esse novo traço. Ah, e está nas bancas mensalmente pela Panini e vale a pena conferir!
Enfim, Dedpool Clássico 2 é onde o VERDADEIRO DEADPOOL aparece e a edição que REALMENTE MERECE A ALCUNHA DE CLÁSSICO! Se você é um dos vários haters do personagem mas, secretamente, pensou em dar uma chance pra ver se sua raiva é justificada, eis uma boa pedida pra começar. E se você só conhece os Deadpool com as duas vozes na cabeça e com as histórias maluconas e exageradas, que tal dar uma conferida em uma outra faceta mais pé no chão do personagem? Dificilmente você irá se arrepender! Ah, e se você ADOROU o filme e quer começar a lê-lo, bem, foi DAQUI que a versão do cinema saiu! Não se deixe enganar com quem vier com “Leia as edições do Liefeld da X-Force onde ele aparece”. Eca! Cocô! Lixo! Não pode!
Nota: 9,0 (tirando a edição desenhada pelo Lifeld e com roteiros do Nicieza no final da edição. Pra essa é ZERO capsular!)
PS: Pra quem tem as edições da Marvel 99 com as histórias do personagem, saibam que algumas (muitas) páginas foram retiradas pela Abril e que estão presentes nessa edição. Bem, era a Abril, né?! Isso nem é novidade…