Review Religioso: PUNK ROCK JESUS.
“Your own personal Jesus
Someone to hear your prayers
Someone who cares”
Pois é, jovos e jovas, há alguns anos a revista Vertigo abrilhantava as hoje sofridas prateleiras de nossas bancas com ótimas histórias , e um Constantine que dava gosto de ler. Ao contrário do de hoje em dia, fruto dos (não mais) Novos 52…
O fato é que no meio de tantas obras de qualidade, uma em especial cativou este sertanejo redator que vos escreve. Uma história que dificilmente irá virar filme ou série de TV e lucrar milhões com licenciamentos de bonequinhos, camisetas e afins devido ao seu teor extremamente polêmico. Em março de 2013 estreava na edição 40 da revista Vertigo o primeiro capitulo de Punk Rock Jesus, do ultramegamodáfóka, Sean Murphy!
Mas…por que essa história é tão polêmica? Esse é um questionamento que, caso você não conheça a obra, pode estar lhe passando pela cabeça agora. Bem, além do próprio título já evocar os olhares de reprovação do mais puritanos, a história de Punk Rock Jesus mexe com questões extremamente delicadas como religião, fanatismo religioso e manipulação midiática.
O resumo básico da história é a seguinte: No ano de 2019 uma megacorporação chamada Ophis resolve dar subsídios a um de seus produtores, um homem chamado Rick Slate, para que ele crie o maior e mais ousado Reality Show de todos os tempos, o J2. Mas o que tornaria esse Reality Show tão grande assim? O “simples” fato de que o personagem central do programa seria um clone de…Jesus Cristo (J2= Jesus 2! Sim, há um Xerox Holmes entre nós)!
Para tanto é anunciado que material genético teria sido retirado do santo sudário e um óvulo contendo este material seria implantado em uma virgem. Tal papel ficou nas mãos da jovem de 18 anos, Gwen Fairling. Sabendo que a noticia atingiria como uma bomba toda a comunidade religiosa, independente de denominações, porém com riscos maiores quanto aquelas mais “radicais”, Slate contrata o irlandês grandalhão Thomas McKael, ex integrante do IRA e uma máquina de descer o sarrafo antes e perguntar depois. Essa contratação não agrada a Dra. Sarah Epstein, a responsável pelo procedimento de inseminação e acompanhamento da gravidez da jovem Gwen.
A comoção toma conta do mundo, pois alguns grupos religiosos creem que a criança representa, de fato, a segunda vinda de Cristo, enquanto outros veem o ato como uma abominação e uma heresia. E, se durante a gestação o suposto Jesus já causava todo o tipo de conflito, depois de seu nascimento é que a coisa fica russa de verdade, tanto na sociedade quanto na vida do próprio menino.
PRJ tem uma gama de ótimos personagens e fica difícil dizer quem REALMENTE é o protagonista da trama, dado o alto nível de carisma de todos eles. Todos tem seu momento de maneira muito equilibrada, mas podemos dizer que a trama gira mesmo em torno de Thomas e Gwen na primeira metade da história e de Thomas e Chris, o clone (SOMEEENTE POR AMOOOOR…), na segunda metade. Porém, até os personagens menores conseguem ganhar seu carinho, é o caso do enfezado assistente técnico, Tim, e da ursa polar de estimação da Dra. Epstein, Cola.
A trama tem ótimas sacadas ao abordar a intolerância religiosa e até o fanatismo cego de forma caricata em certos momentos mas que, por mais absurdos que os atos dos personagem sejam, não deixa de ter um pé na nossa realidade. Muito disso se deve as experiências pessoais de Sean Murphy, o qual era um católico fervoroso e hoje questiona muito dos dogmas que seguia, e isso fica evidente em PRJ. Mas, assim como a discussão religiosa gera polêmica, a mídia não fica atrás! E aqui essa busca inconsequente por picos de audiência e do lucro resultante é mostrado de forma crua. Afinal, programas sensacionalistas não faltam em nossas TVs todos os dias e essa busca por números é muito bem representada no personagem Rick Slate. Um cara que não se importa de colocar o bem estar de pessoas abaixo de cifras, se for necessário. Assim como os canais do mundo real…
A arte…o que falar da arte…? Sean Murphy! Pronto! Isso resume tudo! E se você não sabe quem é esse carinha, coleguinha…sugiro que corra atrás de qualquer material desse sujeito AGORA! O cara é uma fera com um estilo todo próprio. Não a toa a história é totalmente em preto e branco, o que realça a arte fodaralhaça desse monstro! Pra você ter uma ideia do quão próprio é o estilo do cara, basta saber que algumas das hachuras que ele usa em seus desenhos são feitas…pasmem…com as próprias digitais do sujeito! Como ele é um cara relativamente novo no mercado, infelizmente não existe muito material dele disponível por aí, principalmente no Brasil. Por aqui é possível encontrar o trabalho dele na extinta Vertigo em histórias como Joe: O Bárbaro, uma parceria com Grant Morrison, e em uma história em duas partes da série Hellblazer, com roteiros de Jason Aaron. Ele também desenhou o encadernado Hellblazer: Cidade dos Demônios, escrita por Si Spencer, e nos encadernados O Despertar (em duas partes) e Vampiro Americano: Seleção Natural, com roteiros do homem que matou o Batman nos (não mais) Novos 52, Scott Snyder. Ah, e por falar em Batman, Murphy também desenhou a mini Espantalho: Ano Um, que saiu por aqui na Batman Extra Nº14, mas a arte dele estava bem mais simples do que é hoje.
Enfim, jovos e jovas, se quiserem correr atrás de algo bom e diferente dos caras de pijama saltando sobre prédios, Punk Rock Jesus é uma ótima pedida. O grande problema é encontrar as edições 40 à 45 da Vertigo por aí sem receber uma facada nos bolsos de brinde. E, quando se encontra nas lojas virtuais, alguma delas está esgotada. É uma pena a Panini não lançar em um encadernado com papel melhor que o vagabundinho que vinha na velha Vertigo. Eis um material que merecia. Bem, dona Panini, fica a dica…
Nota: 9,0
PS: Chrononautas, com roteiro do Mark Millar e arte do Murphy foi anunciado pela Panini como um dos lançamentos de 2017 em dezembro do ano passado e até agora nada! Só espero que eles não façam um encadernado com as 4 edições que compões a séria (sim, só quatro) com capa dura e custando centos milhões de reais…a história é divertidinha, mas está longe de ser uma obra que mereça tratamento luxo…