Uma revista digna para um dos melhores vilões dos quadrinhos.

Minhas últimas incursões até a banca de revistas da minha cidade se resume a uma busca infrutífera  por algo que venha a me encher os olhos. Quando nada me interessa, meu  impulso consumista acaba me impelindo a pegar qualquer coisa só para não sair de lá com as mão abanando. Foi assim que eu trouxe os exemplares de Star Wars  Legends pra casa, por exemplo, e foi assim que eu trouxe esse encadernado sobre o  Doutor Destino também.

A história se inicia de maneira bem direta, com o próprio Victor Von Doom narrando os principais acontecimentos de sua vida desde a infância. Filho do líder de uma tribo cigana que vivia marginalizada nas florestas da Latvéria, o jovem Victor sempre foi uma  criança diferente das demais, de percepção e inteligência aguçadas, qualidades que o próprio monarca aponta como fruto das incursões da sua mãe na bruxaria, com o filho ainda no ventre. Além da pobreza, a vida de Victor desde cedo é marcada pela tragédia, quando sua mãe é perseguida por soldados do rei e espancada até a morte após a realização de um feitiço que deu errado.

Isolado pelas outras crianças, com exceção de sua melhor amiga e primeiro amor Valéria, Victor sempre mostrou  um dom natural para a liderança. Quando o seu pai é covardemente morto pelo rei em um acesso de loucura, a tribo já sabe quem será o novo líder. Tomado pelo ódio, o jovem começa a usar a sua inteligência e inventividade para contra atacar as forças do rei da Latvéria com armas feitas com tecnologia rústica. Mesmo se mostrando um gênio e prodigioso inventor, Doom nunca se afastou da magia, cujos estudos iniciou inspirado pela mãe. Um dia ele recebe a visita de militares americanos, que lhe oferecem uma oportunidade de fabricar armas para eles enquanto conduz outras pesquisas de seu interesse. Cansado da miséria e de sentir que seu potencial ali estava sendo desperdiçado, ele não pensa duas vezes em abandonar a tribo (e Valéria) e parte para os Estados Unidos.

Enquanto desenvolve armas e tecnologia  para o exército, Doom é obrigado a usar o disfarce de estudante de intercâmbio para permanecer no país sem gerar suspeitas. Logo ele se destaca como um dos melhores estudantes, e seria o melhor isolado se não fosse a presença de Reed Richards, outro aluno brilhante que também trabalhava secretamente para o exército. Apesar de uma relutante admiração por seu “concorrente”, Doom se antipatiza de cara por Richards devido seus modos e costumes, pois segundo ele acaba sendo um desperdício de tempo e inteligência confraternizar com pessoas de intelecto inferior. Um dia, cansado de esperar e se sentindo confiante o bastante, Doom resolve testar o seu projeto secreto, uma máquina de viagem dimensional para viajar até o inferno e resgatar a alma de sua mãe. Infelizmente a máquina é sobrecarregada no processo e explode, desfigurando Victor de maneira irremediável.

Amargo, tomado pela dor e se sentindo traído, Doom foge dos Estados Unidos e volta para o velho continente onde pretende se isolar de tudo e de todos até os últimos dias de sua vida, só que uma visita inesperada acaba levando-o até a sua terra natal. Agora, o ex líder de uma tribo cigana não vai parar nem medir esforços até se tornar o soberano de seu país.

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Aí está uma história que teria tudo pra se tornar algo dantesco salpicado de momentos piegas se fosse delegadas para mãos erradas fazerem o trabalho. A sorte é que as mãos no  caso aqui são as de Ed Brubaker acompanhado de Mark Farmer nos desenhos. O roteiro é muito bem trabalhado, mostrando Doom da maneira que eu acho mais acertada, uma personalidade complexa, um vilão trágico e um filho da puta exemplar. É muito interessante trabalhar o fato de que mesmo quando era um jovem com boas pretensões, a sua megalomania já o encaminhava para a vilania. O fato de Doom ser tanto  um gênio da robótica quanto um homem versado nas artes negras o torna um dos mais ricos vilões do universo Marvel, com uma penca de possibilidades de trabalhá-lo além da ideia de jerico de transformá-lo em um herói.

Enfim, hq lida, resenhada e mais que recomendada. Vocês a encontram por 25 golpinhos pra se comprar nas bancas ou online (capa dura fode o preço final) ou de graça nas melhores importadoras do ramo. Vale tudo, só não vale ficar sem ler, mas quem puder, coloca na prateleira que é coisa que vale o investimento.