Headshot: A nobre arte de diminuir a marcha.

Pois é, jovos e jovas, Iko Uwais está de volta!

Essa frase certamente está gerando perguntas do tipo “Quem diabos é Iko Uwais?”, e eu já elucido: Iko Uwais é o “astro marcial” que estrelou a “trilogia de dois” mais vertiginosa do cinema de porradaria dos últimos anos: The Raid 1 e 2 (ou Operação Invasão 1 e 2 , se preferir).

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Após um hiato de um ano desde o lançamento de The Raid 2 em 2014, tendo feito uma ponta MAL APROVEITADÍSSIMA em “O Homem do Tai-Chi”, filme contemplativo movido à tapa do senhor Keanu Reeves, Iko Uwais volta a estrelar mais uma produção de ação do cinema indonésio, só que dessa vez sem a batuta do diretor inglês Gareth Evans, responsável não só pelos dois The Raid como também pelo filme de estréia de Iko Uwais nos cinema, o pouco conhecido Merantau. E é justamente a falta de Evans que parece pesar no resultado final de Headshot. Isso quer dizer que o filme é ruim? Calma, eu não disse isso! Vamos por partes que vocês entenderão.

A Trama

Em Headshot somos apresentado a um misterioso personagem que é encontrado a beira mar por um pescador. O homem é levado a um hospital e passa dois meses em coma, sendo acompanhado por uma jovem médica chamada Ailin. Após acordar subitamente, o homem não lembra seu nome ou do seu passado. Ailin lhe dá o nome de Ishmael e explica que o sujeito levou um tiro na cabeça e que ainda tem fragmentos da bala alojadas no crânio.

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Ishmael, então, passa a viver uma vida pacata e tranquila junto a Ailin enquanto trabalha na pesca com o senhor que o salvou. Enquanto isso, em uma prisão de segurança máxima, um homem chamado  Lee , conhecido também pela simpática alcunha de “Pai do inferno”, consegue fugir sem muito esforço e parece ter uma ligação forte com Ishmael. O que acontece a seguir? Uma caçada violenta cujo os motivos deixarei ocultos para não dar spoilers e não fazer ninguém ficar batendo o pezinho e xingando minha mamãe.

A Ação

Sim, como muitos de vocês perceberam Headshot é um Jason Bourne de pobre. A grande diferença é que, ao contrário da franquia estrelada por Matt Damon, Headsht usa um pouco de lógica (não muita) na hora de mostrar que Ishmael tem skills ocultos. Ele não sai dando porrada no automático de forma impecável e furiosa. Como uma criatura que tem amnésia e não lembra nem quanto calça, Ishmael também tem problemas pra se virar na porrada já que não lembra que sabe descer o sarrafo. Isso quer dizer que ele só fica correndo em círculos, gritando e sacudindo as mãos pro alto quando a treta começa? Não, mas mostra que ele fica inseguro na hora de dar porrada, ficando meio assutado e só seguindo em frente pra proteger a própria vida e, principalmente, a vida de Ailin.

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Esse fator, apesar de lógico, dá um certo banho de água fria em que espera um filme tão vertiginosos quanto The Raid, com ação non-stop e um personagem que luta como se estivesse possuído. Em Headshot, a ação se desenrola em dois turnos, sendo o primeiro durante a primeira hora do longa, com um Ishmael desmemoriado tendo que usar sua habilidades de forma mais instintiva e, por isso, sem as famosas lutas belissimamente coreografadas já esperadas de um filme estrelado pro Iko Uwais. Essa primeira hora é reservada pras lutas mais secas e até “realistas”, com socos, chutes, empurrões e…fugas desajeitadas! Confesso que isso foi deixando uma certa dualidade de opiniões em mim, que estava esperando ver o silat comer solto e recebi uma porradaria digna dos filmes do Stallone mas, ao mesmo tempo, senti que a lógica já explicada do “homem sem memória não lembra como lutar” estava sendo muito bem aplicada. Mas, entenda, essa parte do filme está ANOS LUZ de distância de ser ruim e a porradaria mais longe ainda de ser uma coisa digna dos filmes de ação merda que passam na Band. Apesar da falta de uma coreografia complexa, elas ainda são muito bem executadas.

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O segundo turno da ação começa justamente quando Ishmael relembra quem é e o que pode fazer. E isso não é colocado em uma cena onde ele para, olha pra câmera e diz “Agora eu lembro quem sou e o que posso fazer”. Essa transição do “cara enrolado” para a “besta-fubana das artes marciais” é feita de forma orgânica e progressiva, e você vai notando isso com o passar do filme. Quando ele chega nos “sub-chefes”, já estamos na “zona das lutas bem coreografadas” de novo. E somos brindados com um combate final digno de um filme com o selo Iko Uwais de qualidade. No entanto, apesar de voltarmos aos bons combates, eles ainda ficam aquém do que foi visto em ambos The Raid, lembrando mais a ação contida de Merantau. Ruim? Não! Só não perfeita.

A Violência

Sim, esse é um tópico meio bocó, mas eu sinto a necessidade de falar sobre. Mais uma vez voltamos as comparações com The Raid, um filme tão cheio de violência que é hilário assistir vídeo de reações do público americano, acostumado ao PG-13 em filmes de ação, e vê-los  se contorcendo na cena em que Iko Uwais puxa uma faca da coxa até o joelho de um cara na cena do corredor no primeiro The Raid, por exemplo. Em Headshot a violência segue essa pegada com cenas que te farão ranger os dentes e sentir calafrios nos cabelos do boga (“cu”, em nordestinês e, sim, Megaboga significa “cu colossal” pra gente). Destaque para a cena em que um cara acaba com um facão enfiado na jugular e o utensílio fica preso por uma fina camada de pele.

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Lindo…

O Fator Evans

Esse é o primeiro filme estrelado por Iko Uwais que não tem a direção de Gareth Evans. Dessa vez, a cadeira de diretor foi dividida por dois sujeitos,Timo Tjahjanto e Kimo Stamboel. E parece que a dupla estudou o estilo de Evans e tentou passa-lo para seu longa afim de dar aquele ar de familiaridade ao fãs de The Raid. Temos planos sequencias longos nas cenas de luta, a câmera que segue o personagem quando este se joga de um cenário a outro através de uma janela, e câmera que circula enquanto a porrada come solta. No entanto,  os diretores queriam deixar sua assinatura também e, para tal, resolveram fazer a câmera chacoalhar durante as cenas de luta, recurso interessante enquanto recurso de imersão do espectador, mas que pode acabar incomodando muita gente. Para tranquilizar quem já está torcendo o nariz, esse recurso não acaba prejudicando a cena como foi o caso em Batman Begins, onde o Nolan declarou que jogar um zoom ferrado na câmera, entupir a cenas de cortes e fazer ela tremer mais que o Michael J. Fox serviria para fazer o espectador se sentir dentro do combate. O resultado final foi um dos pouco pontos fracos do filme que só foi melhorado em Cavaleiro das Trevas. Em Headshot a câmera treme, mas o plano continua aberto e os personagens continuam visíveis na tela.

Veredito (isso tá parecendo coisa do site dos ovos…)

Headshot marca a volta de Iko Uwais em um filme que dá uma diminuída na marcha. De toda a velocidade de The Raid, voltamos a primeira marcha em um filme que tem mais um tom de Merantau, com um ritmo mais “lento” e que se preocupa em contar uma história sem tanta pressa pras lutas. Ele te dá um roteiro sem muito de novo mas que te presenteia com personagens que vão te fazer se importar com eles. A direção da dupla Timo Tjahjanto e Kimo Stamboel quer te deixar confortável com suas similitudes ao estilo de Gareth Evans mas ainda te mostra que são eles quem estão no comando. Como eu disse, o filme te entrega uma obra um tom abaixo dos dois longas anteriores de Uwais mas não cai na mesma armadilha de outro sujeitinho que cagou toda uma sequencia de um de seus melhores filmes: Tony Jaa.

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O Protetor 2 ainda consegue a façanha de ter o PIOR VILÃO FINAL de um filme de porradaria, com o rapper RZA dando ridículos chutes que não ultrapassam a linha da própria cintura.

Quem assistiu O Protetor 2 sabe exatamente do que estou falando. Jaa deixou toda a beleza plástica e a crueza do primeiro O Proteror (pra mim, o MELHOR FILME do tailândes maluco) por um filmeco fraco, chato e que visou mais o uso do CG em prol do 3D do que em algo digno de ser uma sequencia de um dos melhores filmes de artes marciais dos últimos anos. Headshot até diminui o tom, mas não cai do “ótimo” pro “horrendo”, ele para no “bom” de modo satisfatório.

Nota: 7,5