Berserk: Esse troço não é mais o mesmo…

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Ou : A síndrome do  “Eu deveria ter virado à esquerda em Albuquerque”.

Pois é, amiches, estes dias eu estava chafurdando pela net e acabei descobrindo que saíram capítulos do mangá Berserk que eu ainda não li. Sendo fã da série, é natural que eu já o tivesse feito, porém a grande verdade é que já não sinto essa ânsia por acompanhar Berserk justamente por ela não ser mais o que eu aprendi a amar. Justamente por não ser mais Berserk.

Baseado nesse pensamento, resolvi fazer este post pra dar aquela desabafada e relembrar como se deu esta mutação aberrante nesse que já foi um dos melhores mangás que já li. Comecemos.

Lançado em 25 de agosto de 1989 (isso mesmo, OITENTA E NOVE), Berserk nasceu com a ideia inicial de ser um mangá de horror medieval. Para tanto, Kentaro Miura jogou no caldeirão um porrilhão de referências da cultura pop da época, as mais claras são Hellraiser, Evil Dead e, é claro, Conan. Também existem as referências não tão claras, como a ópera rock trash dos anos 70 chamada “Phatom of The Paradise”, uma versão maluca de “O Fantasma da Ópera” cujo personagem principal serviu de inspiração para o Grifitth em sua forma demoníaca, não por coincidência chamada de Femto.

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Quem acompanhou primeiro o anime de 1997 possivelmente estranhou o inicio do mangá, com seus 4 primeiros volumes focado no Espadachim Negro, mostrado apenas no ótimo primeiro episódio do anime. No quinto volume, Miura dá uma guinada na história e nos joga numa trama medieval nos melhores moldes de Game of Thrones, com muitas intrigas, conspirações, batalhas épicas e personagens que fediam a carisma. Essa parte mais “pé no chão” tinha umas pitadas de sobrenatural, preparando o terreno para o que estaria por vir. Entre os volumes 11 e 13, já no meio dos anos 90, o clima de terror é retomado de vez para nos explicar como Gutts veio a se tornar o Espadachim Negro e como o mundo foi pra merda. Uma mudança bem planejada e que manteve a qualidade do mangá intacta. Pelo menos até o fim da Saga das Crianças Perdidas (ignorada na nova série)…

Depois disso, na Saga da Convicção (base para a atual série animada), Kentaro Miura começou a ir pisando no freio lentamente, mudando o tom da história para algo mais cômico, fazendo com que o personagem do Gutts perdesse o charmoso ar de Lobo Solitário e o integrando a um grupinho clichê de RPG, com direito a ladino, paladino, maga e elfos. Gutts agora não era mais o cara repleto de ódio e sede de vingança desenfreada que víamos até então. Agora ele era sereno, calado porém sorridente e simpático vez ou outra. Miura estava claramente cansado…

 

É mais que compreensível que algo começado em 1989 e que se estende até os dias de hoje, acabe deixando o autor com uma sensação de aprisionamento. Claro que, em tratando-se de mangás, nem sempre é justo jogar todo o peso da culpa no autor, já que as editoras sempre insistem que obras que estão fazendo sucesso sigam em frente, não importa como. Apenas quando a coisa desanda feio é que eles botam um ponto final, não importando em que ponto a história esteja, vide Bleach. No entanto, não sei bem se esse é o caso aqui…

Caso não seja, Miura teve 27 anos pra planejar e executar um final digno para Berserk. VINTE E SETE ANOS! Sem falar que ele já deixou  o motor ligado no começo do mangá, e quando voltamos a fase do Espadachim Negro, no volume 14, Gutts já estava caçando os capetas fazia um ano ou mais ( não lembro agora), ou seja, todo o tempo que foi mostrado nos primeiros quatro volumes. A partir dali, ele bem  que poderia ter adiantado a ressurreição do Griffith e já deixado tudo pronto para Gutts enfrentar os God Hands um a um, no melhor estilo Cavaleiros do Zodíaco, com o Skull Knight lhe introduzindo a Armadura Berserk e com  o embate final contra o Griffith culminando com seu sacrifício pelo uso da armadura. Ou algo assim.

Mas que não me enfiasse a porra de um monte de plot merda com trolls, bruxinhas, fadinhas, sereias, Jack Sparrow, bonequinhos fofinhos que defendem uma ilha e essa patacoada toda em que está atualmente. Está mais interessante acompanhar o Rickert do que o próprio Gutts, juro por Odin!

Rickert heroizaço!!!

Rickert heroizaço!!!

O pior é que a cada novo capítulo lançado, a impressão que se tem é que o final de Berserk está mais e mais distante. Você não consegue ver um gatilho pronto para disparar os enlaces finais. É sempre uma porrinha de subtrama cocô nova e babaquinha atrás da outra. Parece mais que eu estou lendo Inuyasha (que era mais interessante justamente por se assumir sem previsão de final desde o inicio. Se bem que eu não gosto, eu não gosto…)! A impressão que dá é que o Miura parece que passou uma temporada com o Kazushi Hajiwara, criador do mangá Bastard.

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Confesso que nunca fui fã de Bastard. Meu primeiro contato foi com o OVA em 6 episódios lançados em 1992. Assisti lá pelos idos de 2000/2001 e achei bem bacaninha, mas não essa coca cola toda. Gostei mais da qualidade técnica do que da trama em si. No entanto, sou um verme e, como tal, comprei algumas edições aleatórias do mangá por 2 motivos :

1- O traço do Hagiwara muda drasticamente e fica muito estiloso entre as edições 16 e 17 e daí por diante. Sim, eu as vezes compro coisas só pelos desenhos….me julgem…

2- Estavam em promoção, pela metade do preço. Sim, eu as vezes compro coisas só pelos desenhos…MAS SÓ SE ESTIVEREM BARATAS!

Enfim, Hagiwara começou Bastard como uma fantasia medieval com toques de humor, muita ação e pitadas de putaria controlada. No entanto, o autor ficou doente e ficou muito tempo afastado de sua obra (dois anos, se não me engano) e, quando voltou, o cara mudou a história simples, que consistia em Dark Schneider enfrentar seus ex-companheiros um a um afim de impedir que um deles ressuscitasse um deus antigo, Anthrasax, para destruir o mundo, e substituiu esse plot por uma sucessão de batalhas apocalípticas entre anjos e demônios, com adição de tecnologia e mechas, uma inflação absurda de personagens secundários e o total sumiço do protagonista em muitos dos últimos volumes dessa cabaré todo. Realmente foi só pelos desenhos das ultimas edições mesmo, por que eu dificilmente acompanharia essa merda completa…misericórdia…

Pra finalizar, já que essa porra virou textão do Facebook, eu adoraria que o Miura não só desse um fim digno pra Berserk como voltasse ao clima de terror medieval, mas duvido de ambos. Se ele queria tanto fazer algo mais leve, que finalizasse Berserk quando AINDA ERA BERSERK, e se concentrasse em expandir o mundo de Gigantomachia, one shoot que não me agrada (DETESTO quando os mangakas colocam luta livre como uma arte marcial fodona em suas obras)  mas que tem potencial e, principalmente, tem toda essa pegada mais “soft” que ele parece tanto buscar depois de anos de violência, terror e sexo de Berserk.

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Agora só nos resta torcer pra que ESSE FILHO DA PUTA NÃO MORRA ANTES DE FINALIZAR ESSA MERDA, SEJA LÁ COMO FOR! 2016 TÁ AÍ AINDA, MIURA! ABRE TEU OLHO, RAPÁ!!!

E tenho dito.