Ghoul
Lição de hoje: como jogar ideias no lixo.
Ultimamente entro no Netflix apenas para duas coisas: Black Mirror e filmes de terror. Digamos que a balança da qualidade anda bem equilibrada, pois enquanto a série ganha a minha simpatia a cada episódio, os filmes que escolho estão se mostrando um desastre no pior sentido. Ghoul é mais um dos filmes que me ganharam pelo trailer eras atrás e que simplesmente desisti de procurar com o tempo. Para entendermos um pouco do contexto do filme é preciso estar por dentro de duas coisas.
Holodomor: Conhecido também como Holocausto Ucraniano, este é um período que compreende os anos de 1931 e 1932. De maneira sucinta, afim de minar as elites camponesas e movimentos anti soviéticos na Ucrânia, Stalin enrijeceu as políticas econômicas e de entrega de suprimentos agrícolas ao estado de tal forma que a população literalmente morreu de fome. Dados históricos apontam números de vítimas em torno de cinco milhões, sem contar os que foram enviados a campos de trabalhos forçados por simplesmente pegarem algo para comer. O revisionismo histórico hoje aponta que a causa para tal tragédia seria uma má implementação de novas políticas e uma destruição das plantações devido o clima rigoroso aquele ano muito mais que um crime de motivação política, o que parece ser justificado pela história da região apontando outros períodos de grande fome na história, porém isso é algo a se discutir, principalmente em relação à falta de ação soviética para diminuir o desastre. O fato é que as pessoas literalmente morriam de fome nas ruas e campos, e por toda a Ucrânia haviam corpos empilhados. Relatos de canibalismo existem, porém sem confirmação oficial.
Andrei Romanovich Chikatilo: Apelidado pela imprensa como O Açougueiro de Rostov (entre outros apelidos menos charmosos), Chikatilo é conhecido como o primeiro serial killer do período soviético. Durante a infância, sua mãe lhe contava como seu irmão mais velho, Stepan, havia sido sequestrado e canibalizado durante o Holodomor. Possuidor de sérios distúrbios mentais, Chikatilo foi preso pela polícia soviética e confessou ter matado 53 pessoas no período de 1978 até 1990. As vítimas, em sua maioria jovens e crianças, geralmente eram abordadas em estações de trem. O assassino confessou que além de matar também comia pedaços das vítimas. Chikatilo foi executado em 1994 com um tiro na cabeça. O filme Evilenko, de 2004 (não conheço) é baseado em sua história, assim como Cidadão X, de 1995 (recomendo fortemente) retrata um pouco dos problemas burocráticos na investigação que atrasaram sua prisão. A música Psichopaty Red, do Slayer também é baseada no assassino.
Bom, hora de falar do filme.
Ghoul (2015) é uma produção conjunta da República Checa e Ucrânia, mas filmada em língua inglesa. Na trama, um trio de americanos vai até a Ucrânia fazer um documentário sobre um caso confesso de canibalismo. Para isso eles contam com a ajuda de um guia, uma tradutora e uma curandeira/feiticeira locais. Eles encontram o assassino, libertado após cumprir pena, que combina de encontrá-los na sua cabana na floresta. Após eventos sinistros a equipe descobre que acidentalmente (estavam todos bêbados) acabaram invocando o espírito de Chikatilo, e que para se livrarem dele terão que cumprir uma série de tarefas. E o resumo do filme acaba sendo o menor parágrafo desse post.
Caramba, que filme ruim.
Todo mundo tem um hobby ou mania esquisita e que pode ser julgada por outras pessoas como no mínimo duvidosa. Tem gente que enfia a mão nas partes íntimas quando ninguém tá vendo e dá uma cheirada, tem gente que coleciona LP’s do Menudo, tem gente que assiste e compartilha vídeos do MBL e Mamãe Falei, enfim, todo mundo tem um lado bizarro. O meu é pesquisar e consumir coisas relacionadas à serial killers, sejam filmes, documentários, revistas, livros, sites na internet com biografias e relatos, qualquer coisa relacionada a esse tema me atrai. Não é uma questão de admiração, é apenas curiosidade. A quantidade de coisa a respeito é uma maneira de provar que não estou sozinho. Ok, esse parágrafo foi só pra confessar um podre, sacanear o MBL e mostrar que qualquer coisa gera um parágrafo maior que a resenha do filme (exceto a introdução do post, isso seria muito humilhante)
Preciso citar uma outra obra: Do Inferno, de Alan Moore e Eddie Campbell. Baseado na história de Jack O Estripador, mesmo sendo uma leitura um pouco morosa e arrastada, essa é uma obra fantástica que funde acontecimentos reais em uma obra de ficção. Agora imaginem se Do Inferno tivesse sido escrita por Jeph Loeb e Chuck Austen e com desenhos de Humberto Ramos, é mais ou menos o que acontece aqui. A galera tinha a faca e o queijo na mão, um período histórico assustador, um serial killer real mais assustador ainda e acabaram por criar uma mistura de Atividade Paranormal do baixo orçamento com Pânico (eu odeio a franquia Pânico). Os protagonistas são jacus como essa galera de terror adolescente, que entre morte certa e salvação vão justo pro lado errado. Tudo no filme acontece da maneira mais previsível possível, até os sustos são nos momentos mais óbvios, só faltou uma plaquinha no canto da tela com os dizeres “atenção, hora do jumpscare”. Os atores são de ok pra baixo, bem baixo e os efeitos especiais estão ok, talvez porquê são poucos.
Minhas conclusões são:
1- Ghoul é um filme que seria bom se tivesse ficado só no trailer
2- Preciso rever Cidadão X
3- Tenho que criar vergonha na cara e fazer um post decente sobre Do Inferno
4- Uma série de posts sobre serial killers seria tão legal de escrever quanto bad vibe, preciso pensar melhor sobre
5- Café é mais gostoso sem açúcar (não foi abordado no texto, mas tava bebendo uma xícara enquanto escrevia)