Juiz Dredd – América
Mythos, você me maltrata demais.
Com a morte prematura da Juiz Dredd Megazine aqui no Brasil, restou para a editora que detém os direitos de publicação do personagem apenas uma alternativa, investir em encadernados. Todos sabemos que a qualidade dos encadernados da Mythos são acompanhados de um preço bem acima da média que estamos acostumados a pagar por obras com o mesmo número de páginas. Só que essa bendita (pra não dizer outra coisa) além de Dredd, também possui os direitos de publicação de Conan, Hellboy e O Sombra, e ainda bem que esse último até agora está obedecendo o espaçamento de um ano por encadernado.
Nos últimos tempos a Mythos lançou Mandróide, Guerra Total e agora América no formato de encadernado, dos quais eu apenas possuo o último. Mandróide fica para as próximas compras, e Guerra Total eu já tenho compilada no Mega Almanaque (edições enormes englobando 7 Megazines de uma vez, foram lançadas 2 até agora). E sinceramente, acho que minha humilde prateleira ganhou mais uma estrela.
Criado em 1977 por John Wagner e Carlos Ezquerra, o Juiz mais famoso do sistema de justiça de Mega City 1 é provavelmente a mais conhecida criação britânica de quadrinhos. Por muito tempo Dredd figurou as páginas da 2000 AD e nos anos 90 passou a figurar sua própria revista, a Judge Dredd Megazine (a grafia não está errada). Possuidor de uma cronologia sólida, Dredd é um dos poucos personagens que envelhece de acordo com o nosso tempo, o que significa que um dia invariavelmente ele vai morrer. Uma das maneiras de prorrogar o inevitável é contar histórias passadas, como ocorre nos encadernados Origens e Ano Um, já resenhados aqui no site.
O encadernado possui 3 histórias, sendo as duas seguintes continuações diretas de América. Escrita por John Wagner e lindamente ilustrada por Colin Macneil, a narrativa começa com o nascimento de América Jara, filha de imigrantes e que recebeu o nome do lugar que os recebeu e onde começaram a prosperar. América foi criada justamente crendo nos princípios originais dos Estados Unidos, onde a liberdade imperava e qualquer um poderia prosperar e ser feliz. Porém esse país não existe mais, só existe a radioativa Terra Maldita lei do lado de fora dos muros e o estado policial mantido a mãos de ferro pelos Juízes chamado Mega City 1.
América é acompanhada desde criança por seu vizinho e amigo Bennet Benny. Enquanto a garota desde cedo se mostra uma pessoa de ideais firmes, Benny é um paspalho, o tipo de cara que afrouxa facilmente diante de uma tom de voz mais áspero ou na presença de alguma autoridade. Na adolescência os dois acabam seguindo por rumos diferentes, Benny inicia uma bem sucedida carreira musical e América desaparece com um namorado de escola, um ativista do movimento democrata. Cabe aqui uma explicação, exigir democracia em Mega City 1 é crime, o simples ato de ser pego colando um cartaz de propaganda democrata garante alguns anos nos cubos correcionais.
Um dia Benny por acaso se encontra com América em uma situação não muito confortável. Ela agora faz parte de um novo grupo terrorista chamado Guerra Total e é acusada de ter matado pelo menos 4 juízes. Cabe agora ao músico e seguidor da lei decidir o destino de sua amiga e amor de sua vida, e isso pode significar ir contra a lei. A participação de Dredd é em segundo plano durante quase toda a história, que possui um final bem marcante e surpreendente.
A história seguinte é O Desvanecer da Luz, publicada em 1996 e consequentemente se passando 6 anos depois dos acontecimentos de América. A história que fecha o encadernado, Cadete, é de 2006, e vemos nela um Dredd bem mais ponderado e menos impulsivo que o personagem de 16 anos atrás. Resenhar ao menos o início dessas histórias seria estragar o final da história principal, então não vou entrar em detalhes. Apenas digo que a qualidade de escrita continua alta, apesar da segunda história parecer um tanto quanto desnecessária.
Grandes nomes fizeram escola em Dredd, nomes como Garth Ennis, Mark Millar, Brian Bolland e Steve Dillon (desenhando em um nível nunca mais repetido pelo mesmo) só pra exemplificar. Entre idas e vindas está John Wagner, que não apenas criou o personagem mas participou efetivamente de sua evolução. Esse encadernado possui histórias escritas por Wagner em 1990, 1996 e 2006, e a preocupação de manter o cânone do personagem sempre fiel enquanto o torna mais complexo é louvável. Se alguém aqui nunca leu nada do personagem e gostaria de conhecer, América é a história certa, considerada até hoje um dos pontos altos da historiografia do Juiz.
Outra figura presente em todas as histórias é o desenhista Colin Macneil, e acaba sendo um exercício bastante interessante acompanhar a evolução da arte ao longo dos anos. É meio injusto essa comparação, já que em 90 ele foi responsável por desenho, arte finalização e cores, entregando uma arte pintada maravilhosa. A responsabilidade foi compartilhada com outros coloristas nas histórias seguintes, fazendo com que os desenhos não tenham o mesmo brilho, mas ainda assim são muito bons.
O acabamento pra variar é ótimo, com uma capa maravilhosa e a lombada seguindo o padrão das outras publicações do personagem. Infelizmente, além do roteiro das seis primeiras páginas de Cadete, ele não possui mais extras. O preço original é 69 Golpinhos, mas na Cultura você o encontra no preço abusivo de 90 Juiz Moros e na Amazon temos o valor um pouco mais justo de 62 Marighellas. Tem tanta coisa ruim por aí, tipo Cavaleiro das Trevas 3, o preço desse encadernado de luxo não está tão ruim se for considerar a qualidade da história.
PS: na maioria dos sites ele já se encontra esgotado, e foi lançado agora em Junho.