Análise – The Witcher 3: Wild Hunt
AQUELE famoso Bruxeiro. O faz-tudo oficial de um mundo muito louco com uma galerinha da pesada.
Salve, pessoal.
Antes de começar a falar sobre o jogo de uma vez, só queria chamar a atenção para o termo Análise em si. Em épocas onde o Youtube não existia/era consolidado como A plataforma de videos, uma análise servia, basicamente, como um guia de compras, em que você lia opiniões muitas vezes bastante embasadas e neutras ou pessoais demais (que não é, necessariamente, um grande problema) que serviam para nortear o seu interesse em adquirir determinado jogo/produto. Com a utilização do Youtube (e o Twitch no caso das transmissões ao vivo), podemos acompanhar, quase que junto com o lançamento do título, a jornada em questão. Isso quase fez textos, como esse, perder sua força. O fato é que, embora, um resquício dessa “venda em letrinhas” perdure, vou tentar passar a minha impressão com a aventura de Geralt e companhia.
Resumindo muito isso: Se eu fosse você, iria acompanhar uma jogatina completa em algum canal do Youtube e leria esse texto só pela moral mesmo.
Estamos entendidos? Pois então, comecemos do começo. Witcher 3 é o último jogo (literalmente… já que, provavelmente, não iremos mais acompanhar esse universo em um novo título) da série Witcher, desenvolvido e publicado pela CD Projekt Red, um estúdio polonês super-atencioso com uma das maiores lendas de seu país.
O jogo começa com uma CG maravilhosa (muito melhor que as de Witcher 1 e Witcher 2, que já foram surpreendentes para a época de seu lançamento), mostrando Geralt e Vesemir seguindo os rastros para encontrar uma Bruxa poderosíssima e de cabelos tão negros quanto suas vestes. Se você já jogou os jogos anteriores (ou, melhor ainda, leu os livros, coisa que eu obviamente não fiz), você vai lembrar de Vesemir, que é o mais velho dos witchers e um pai pra Geralt, que o vem acompanhando e apoiando desde sua primeira estadia em Kaer Morhen e sua iniciação como um witcher. Não demoramos nenhum tempo para descobrir que a mulher “misteriosa” é Yennefer, uma jovem bruxa e o maior amor carnal de Geralt.
Destaque para o carnal, pois Geralt cultiva diversos amores em sua vida. Após algum tempo de jogo temos ciência de que o imperador de Nilfgaard, Emhyr var Emreis (um completo babaca, assim como todo mundo naquela vasta terra, que mantém posições agressivas no poder e não perdoa traidores), convoca Geralt para uma audiência. Ninguem menos que Yen (vamos simplificar, né?) o avisa. No finals das contas, foi a bruxa quem encontrou seu amado, ao invés do contrário.
Emhyr contrata Geralt para encontrar sua “filha”, Cirila. Se você, novamente, já consumiu algum produto do universo, sabe que Ciri possui o Elder Blood (algo como o sangue “mais forte”/mais elevado), que lhe confere poderes para navegar à seu bel-prazer entre diversos mundos e dimensões. É como se todo o universo fosse o parquinho dela. Ela é o ser mais poderoso de toda a existência.
Obviamente todo esse poder possui um preço: ser o ser mais desejado do planeta. Especialmente quando estamos falando do verdadeiro pessoal do mal: o Wild Hunt (ou Caçada Selvagem), que é um grupo que funciona, basicamente, para pregar o caos e o terror no mundo. É obvio que nem tudo é preto ou branco nessa história, mas essa é basicamente sua forma de lidar com as coisas. Diversos seres (para não dizer somente pessoas, mutantes, elfos, ou seja lá o que uma determinada personagem seja) são capturados, torturados e, caso provem seu valor, entram para a caçada. Sem muita chance para recusar.
É conhecido que Geralt, Yen e até Ciri foram recrutados pelo Wild Hunt. O primeiro chegou, até, a servir ao lado deles. Ele tentou trocar sua alma pela de Yen, porém algo não deu muito certo e o mesmo acabou perdendo sua memória (uma parte do primeiro jogo, se não me engano, e quase o segundo game inteiro). Yen escapou misteriosamente, assim como Ciri (eu não tenho muitos detalhes, talvez algo passou batido por mim durante esses contos). Agora eles estão rastreando Ciri, desejando controlar sua fonte única de poderes.
Aquele padrão, né? Sempre temos a ideia de que Geralt não pode cumprir a tarefa, mas seu papel é de achar e apoiar Ciri em tudo que faça. Seja para o bem ou para o mal.
Pronto… a história foi apresentada. Está muito crua e resumida, mas entendam que o jogo é bastante meticuloso em apresentá-la, certificando-se de que cada pequeno detalhe conta para o todo e que sua jornada vai ser longa e exaustiva.
Passando para a parte que importa, Witcher 3 possui um dos mundos mais vastos já vistos. É, de longe, o mundo mais bonito, intrigante e fascinante que já explorei, mas nem tudo é uma grande maravilha. A sociedade daquele local é nojenta… e é isso que mais me surpreende. É um mundo podre. Crível. Preconceito racial, de gênero, de ideologia (especialmente as não-religiosas), entre muitos outros circundam, praticamente, em todos os poros daquele povo. Não vai ser raro você andar e se deparar com pessoas cuspindo em seus pés ou observando de longe caçadores de bruxas admirando a mais recente fogueira que queima. É aquela velha máxima e que estamos bem acostumados: você tende a temer aquilo que desconhece. Isso, meus caros, é triste. Muito triste.
São esses pequenos cuidados que fazem com que eu admire profundamente o jogo. Essa atenção com a sociedade em questão e a forma de sua ação. Seu apego à religião. Ver mais esse trabalho da CD Projekt Red só me faz mais fã do zelo que o estúdio possui para com a forma como o conto nos é transmitido. Os projetos anteriores sempre foram excelentes, mas esse supera de longe todas as expectativas.
Tal qual esse pequeno texto, a história é contada vagarosamente (respeitando a tradição da franquia e, principalmente, o jogador que conduz esse andamento), sempre nos lembrando que os detalhes importam e que eles farão a diferença. Não necessariamente no desenrolar ou desfecho da jornada, mas sim pra gente.
Um pensamento bastante comum e que sempre passa pela cabeça das pessoas que jogam jogos de mundo aberto é: “Olha mais um pau mandado padrão”. Rebato isso tratando de duas peculiaridades do jogo. Primeiramente, você não é obrigado a ajudar ninguém. Desde sempre entendemos que os witchers são caçadores profissionais e, assim como todo mundo, precisam de dinheiro para se manterem. Os pagamentos são obtidos fazendo essas quests. Você pode fazê-las, ou não, mas essa necessidade está lá. Claro que há as trocas de favores (para obter informações novas, localização de personagens importantes ou um mero capricho do jogador/Geralt), mas elas são muito mais pontuais do que parece (desconsiderando o andar principal da história, é claro). Juntamente com isso, possuímos centenas de quests que contam as diversas facetas daquele ambiente. São os mais variados pedidos, com os mais variados fechamentos, mas todos são contados de uma forma genuinamente cuidadosa. Um destaque pessoal é a quest line do Bloody Baron (algo como O Barão Sanguinário), um dos momentos mais brilhantes, chocantes e corajosos dessa narrativa.
Como já tinha apresentado antes, toda ação possui algum tipo de motivação por trás. Cabe a você escolhê-la da forma mais sábia possível.
Imagino que, nessa altura do campeonato, vocês devem ter percebido que não pouparei esforços para elogiar o jogo. Não é um game para qualquer um (digo que nem todo mundo gosta desse tipo específico de história, progressão e/ou combate), porém é um ótimo exemplar para quem queira aproveitar e aventurar-se em terras selvagens sem apelar somente para o escopo gigante do negócio. The Witcher 3 é, sim, uma aventura gigantesca, mas suas nuances são tão sutis e aconchegantes que é um pecado não desbravar e apaixonar-se por cada pedrinha, por cada gota de saliva, ou por cada cabeça decepada no calor da batalha.
A série Witcher é um dos meus contos fantasiosos preferidos dos últimos tempos e, consequentemente, um jogo que me fisgou completamente.
Somente para título de curiosidade, só joguei o jogo principal (sem nenhuma DLC) e levei, aproximadamente, 52 horas para concluí-lo. Vi e li bastante material sobre a expansão Hearts of Stone e me parece um material digníssimo. O mesmo vale para a expansão que nem saiu ainda (esse texto é do dia 15/05, essa expansão já saiu nessa altura do campeonato… eu só não joguei, :D), a DLC chamada Blood and Wine. A CD Projekt Red sempre se superou na expansões de seus jogos, trazendo conteúdos e melhoras consideráveis, por um preço justo, o que só enaltece todo seu trabalho e, consequentemente, o produto em si.
Digam não à caça das bruxas! Abominem os extremistas da Eternal Fire! Estamos juntos com a vida e a diversidade.
Aproveitem!