É dificil pensar em uma série que fosse mais subversiva.

A série se passa durante a Segunda Guerra, em um campo de prisioneiros militares na Alemanha, o Campo 13. Lá está uma unidade que só poderia ser chamada de espionagem e sabotagem comandada pelo coronel Hogan. Alguns soldados de vários paises são prisioneiros e efetuam todo tipo de ação bem debaixo do nariz dos nazistas.

O Campo 13 tem a reputação de nunca ter tido nenhuma fuga e é mantido assim pelo coronel Klink, da Luftwaffe. Na verdade a segurança do campo é furada como uma peneira. O grupo de Hogan entra e sai dali com uma facilidade assombrosa, e não tem dificuldade de tirar e colocar pessoas no Campo. O solo é tão crivado de tuneis que é uma surpresa que o lugar todo não afundou.

Os proprios prisioneiros mantém o campo sem fugas (registradas pelo menos), pois segundo Hogan, se o coronel Klink for substituido “eles podem acabar colocando alguem competente no lugar dele.” Várias tramas são justamente ao redor de criar uma forma de manter o coronel Klink no comando do Campo.

É uma comédia, do tipo que tem aquela trilha de risadas.

A estrutura dos episodios tem uma certa formula. Hogan e seus homens tem que reagir a alguma coisa (cumprir uma missão ou atrapalhar os nazistas de alguma forma) então tem que ser mais espertos que os nazistas pra isso.

Quando estreou, uma certa gritaria ocorreu pelo próprio conceito da coisa. Não se costuma fazer piadas sobre nazismo. Muitas dessas criticas foram feitas por pessoas que não viram ou não entenderam duas coisas primordiais da série. Não é um Campo de  Concentração. O Campo 13 é um Campo de Prisioneiros, uma diferença brutal. Os prisioneiros militares não eram tão maltratados quanto em campos de concentração. O outro ponto é que os é a forma como os nazistas são retratados.

Dizem as historias que, uma das condições que um dos atores deu para participar da série era de que os nazistas não fossem retratados como vitoriosos ou competentes. E a série deixa claro as diferenças entre os nazistas e os demais alemães.

O ator que interpreta o general nazista General Burkhalter, Leon Askin, inclusive tem aquela cicatriz na cara de uma surra que levou em um campo de concentração. Na série é explicado como uma ferida em um duelo. É pra se pensar já que três dos atores que faziam oficiais nazistas regulares, eram eles mesmos sobreviventes de campos de concentração.

E os produtores fizeram uma jogada anti hater fenomenal. O braço direito de Hogan é James “Kinch” Kinchloe, um soldado negro. Lembrando que a  série foi feita nos anos 60. Um negro que não era alivio comico ou empregado era algo bastante avançado para época. Colocar o ator Ivan Dixon como braço direito de Hogan foi uma forma de evitar que as emissoras que retransmitissem a série editassem o cara pra fora da cena. Ele tinha falas e participações importantes demais pra isso. claro, quando era para ele ter um par romantico era uma garota negra. Coloca-lo com uma garota branca seria demais pra época. o beijo de Kirk e Uhura ainda levaria alguns anos pra acontecer. Uma coisa de cada vez.

É interessante que uma das leituras possíveis seria que o sargento Schultz e o coronel Klink tem pelo menos uma noção, se não conhecimento real, das ações de Hogan, mas eles olham pro outro lado (literalmente no caso de Schultz), porque não gostam dos nazistas. O que seria explicável. O coronel Klink responde o cumprimento “Heil Hitler” sempre com displicência, e aparentemente, a contragosto e o sargento Schultz antes da guerra era proprietário da maior fábrica de brinquedos da Alemanha, os nazistas tomaram a fabrica para fazer munições.

O Campo 13 realmente existiu, mas na verdade era um campo de prisioneiros criado no pós guerra para manter prisioneiros nazistas, principalmente os simpáticos SS. Lá inclusive foi onde houve um ataque de uma organização judaica, onde tentaram envenenar os prisioneiros. Muitos ficaram doentes, mas nenhum morreu. Imagino que as organizações de direitos humanos (se houvesse alguma na época) teria problemas em defender um bando de nazistas das SS. Enfim.

Essa série acabou durando mais tempo que a guerra, durou de 1965 até 1971 e teve com 168 episódios e até hoje tem gente com muita raivinha da premissa.

Reação natural ao ouvir sobre gente tendo raiva da premissa da série por achar ultrajante

Mas é uma série legal, principalmente porque, como nas séries antigas dá pra ver sem se preocupar com ordem cronológica.