Livros de Sangue: Volume 1

Eu vi o futuro do terror, seu nome é Clive Barker.1pgtpy

Essa frase não é minha, e sim a de outro mestre do gênero, Stephen King. E essa frase foi dia há aproximadamente 30 anos. Clive Barker não é apenas um escritor de contos de terror, é um verdadeiro gênio na arte de transportar esse gênero em diversas mídias. Não acredita? Não tem problema, só pesquise sua filmografia, que inclui o clássico (cujo também é autor do conto que deu origem) Hellraiser, Nightbreed ou Candyman, nas suas pinturas que são uma bela mostra do que provavelmente é o inferno em cores vivas, ou até mesmo nos jogos de sua autoria, como Jericho ou Undying. Além disso o cara é dramaturgo, produtor de cinema e ator.

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Os Livros de Sangue são seis compilações de contos lançados entre 1984 e 1985 (seis fodendo livros em dois anos, esse cara não é humano). Hoje, mais de trinta anos depois eu comecei a lê-los com bastante atenção, e se nos dias de hoje tais contos me deixaram por vezes perplexo e completamente encantado, imagina o efeito sobre os que os leram na época de seu lançamento? A proposta deste e dos futuros posts é simples, sempre escrever uma resenha logo ao término de um volume. Provavelmente será rápido, pois o autor consegue escrever de uma forma tão envolvente e criar um crescendo de suspense tão empolgante que as páginas passam voando perante os olhos. Mas declarações de amor à parte, uma breve resenha de cada conto.

O Livro de Sangue
Em certos lugares o mundo dos mortos e dos vivos quase chegam a se tocar. Os mortos, em sua espiral de dor e lamentações estão apenas à espera de uma fresta, uma oportunidade para se manifestarem e contar aos vivo o seu sofrimento. A primeira história se passa em um desses locais, uma mansão abandonada, nada consegue ser mais clássico. O surgimento do objeto que dá nome ao conto e série de livros é simplesmente majestoso e doloroso. Não chega a ser o melhor conto do livro, mas é um começo e tanto.

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O Trem de Carne da Meia Noite
Leon Kauffman sempre sonhou com Nova York e as maravilhas que a cidade podia oferecer, porém a doce cidade dos sonhos não existe na realidade. A Nova York de verdade é suja e violenta, um lugar onde não se pode confiar em ninguém. E para completar o quadro de horrores, uma série de assassinatos brutais vem acontecendo nos metrôs. O modus operandi do assassino é tão sublime quanto macabro, as vítimas, sempre jovem e em boa forma física, são encontradas nuas, totalmente desprovidas de seus pelos corporais e penduradas de cabeça para baixo nos vagões dos trens, como pedaços de carne em um açougue. A vida sem alegrias ou fortes emoções de Kauffman muda radicalmente ao se encontrar com o assassino enquanto voltava para a casa de metrô. Esse conto chegou a ser adaptado para o cinema em 2008, com Bradley Cooper no papel principal, mas confesso que nunca assisti. Esse conto é tão genial quanto grotesco, além de possuir uma bela reviravolta em suas páginas finais.

O Yattering e Jack
  O Yattering é uma fúria, um demônio cuja função é condenar a alma dos homens através da insanidade. Só que dessa vez que está beirando a loucura é o demônio, ao tentar infernizar a vida de Jack Polo, um chato e medíocre importador de picles, de gostos simples e calma simplesmente inabalável. Esse é o conto mais leve e divertido deste  primeiro volume, praticamente como uma história curta de John Constantine. A reviravolta passa a ser esperada após metade da história, mas isso nem de longe diminui a qualidade da mesma.

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Blues do Sangue de Porco
Redman é um ex policial que acaba de ocupar uma vaga em um reformatório para jovens problemáticos, um nome bonito dado para uma prisão com adolescentes. Porém Redman acaba por se simpatizar por Lacey, um jovem do reformatório perseguido por seus companheiros de detenção. As coisas começaram a ficar piores, segundo Lacey, quando Henessey, um detento mais velho, acabou se matando nos chiqueiros da instituição. O ex policial se vê cada vez mais atolado em uma trama que desafia a sua visão lógica dos fatos. Esse é o meu conto favorito desse primeiro volume, sem dúvida. A descrição de certos personagens é momentos da trama é perturbadora, tanto quanto o seu desfecho, é o tipo de conto que merecia uma adaptação fiel, talvez na forma de curta animado.

  Sexo, Morte e Luz das Estrelas
  Terry Calloway está ferrado. O diretor de teatro tem que lançar uma adaptação de Noite de Reis tendo como estrela principal Diane Duval, uma atriz péssima que se tornou queridinha do país ao estrelar uma novela ridícula e campeã de audiência (Alô? Globo?), e como se a merda já não fosse o bastante, o bastardo está tendo um caso com ela. Diane pode não ser uma boa atriz, mas suas capacidades orais estão acima de qualquer julgamento. A situação se torna mais desesperadora e interessante com o surgimento da figura de Lichfield, um antigo curador do teatro. O velho senhor de aparência estranha está preocupado com a qualidade dessa peça, pois será a última a ser encenada no teatro, que logo será demolido e seu terreno usado para construir qualquer outra porcaria que signifique progresso. Para que o Elysium feche suas portas de maneira tão grandiosa quanto sua fase áurea Lichfield não medirá esforços ou consequências. Esse é um daqueles contos que poderia muito bem ter se tornado um filme de sucesso nos anos 60, por seu teor clássico, uma boa história de mortos vivos como não vemos mais.

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Nas Colinas, as Cidades
O relacionamento de Mick com Judd está prestes a ruir durante sua viagem de lua de mel no leste europeu. O jovem de 25 anos não suporta mais o ar superior e as intermináveis conversas sobre política do jornalista, sempre cheias de preconceito em relação ao lado soviético (tipo os babacas de direita aqui no Brasil). Paralelamente à vida de viagem do casal, duas cidades Iugoslavas se preparam para um ritual celebrado entre elas a cada dez anos, um embate que envolve todos os habitantes saudáveis de cada uma, unidos como um só corpo em uma estrutura de ossos e músculos de proporções colossais. De todos os contos, esse com certeza foi o mais difícil de assimilar. Não que as situações nas histórias anteriores não fossem absurdas, mas aqui elas chegam em um ponto que eu eu realmente me incomodei.

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Vejo vocês na próximo volume…

PS: Post ilustrado com pinturas do autor.

Godoka
01/10/2015