Uma grata surpresa nessa coleção.

Wakanda sempre foi um reino intocado e impossível de invadir. Um paraíso no coração do continente tido como o berço da humanidade, tão machucado por conflitos, tanto tribais como provocados pelo homem branco, usando da selvageria e violência para mostrar aos “menos favorecidos” o quanto sua civilização é benéfica e seu deus é misericordioso. Sua tecnologia sempre esteve séculos à frente de qualquer outro lugar, assim como a abundância de recursos naturais, como o petróleo e o vibranium, o mais  raro e valioso metal do mundo.

Mesmo com a abundância de petróleo, este nunca foi usado como fonte de energia ou riqueza pelo wakandanos. Existem outras fontes de energia melhores, mais limpas e abundantes, e, em relação à riqueza e jogos de poder tão comuns aos nossos governantes, isso não passa de um mero jogo infantil aos olhos daquele povo. Claro que tal postura seria vista como uma afronta aos “sábios” governantes mundiais e seu risível jogo político, e claro que isso geraria nas mesmas pessoas aquele puro e inocente desejo de levar a liberdade para o povo de Wakanda, fazendo uso do melhor poder bélico possível.

Mesmo se isolando do resto do mundo na maior parte do tempo, Wakanda possui um sistema político muito bem estruturado cuja figura central reside no rei, a lendário Pantera Negra. Essa figura não é apenas o rei, mas o defensor de seu povo, visto por parte da população como uma divindade. Mesmo o título sendo hereditário, uma vez ao ano qualquer habitante do país pode desafiar o rei para uma luta, e o vencedor do embate será o novo rei. Só que tal objetivo é quase impossível, visto que os herdeiros do título são treinados nas mais avançadas técnicas de combate desde crianças.

O Pantera Negra no momento é T’Challa, filho mais velho do antigo rei T’Chaka, morto em uma emboscada por um assassino de aluguel que simplesmente desapareceu depois de tal feito. As coisas para T’Challa não são nada fáceis no papel de rei e protetor de Wakanda. Não bastasse apenas os outros países estarem atrás de uma aproximação cujos benefícios seriam apenas unilaterais, um velho inimigo do passado retorna para concluir um trabalho incompleto. Seu nome é Ulysses Claw, o assassino de seu pai, o homem o qual T’Challa mutilou e quase matou, o homem que atende agora pela alcunha de Garra Sônica.

Eu sinceramente não sabia o qua esperar dessa história, a única coisa que estava me impressionando era  fato de ser o terceiro encadernado seguido da coleção a apresentar a arte de John Romita Jr (Hulk Contra o Mundo, Eternos e esse aqui resenhado), o que pra mim é uma coisa boa, pois gosto do traço do cara, apesar da sua terrível atual fase. Quanto aos roteirista, eu não fazia ideia de quem era, nem nunca lida nada escrito pelo mesmo. Bem, não sei se vou ler outras coisas além do trabalho com o Pantera Negra, mas com certeza vou atrás do resto da fase dele neste personagem.

A história possui um tom bastante ácido, e não poupa merecidos (merecidos, em minha opinião) a ninguém. O menosprezo à culturas africanas, a intervenção político-militar americana a outros países sempre com objetivos econômicos, a política mundial que farta seus bolsos em virtude da miséria de outros povos, a sangrenta e injustificada colonização e cristianização realizada na África, nada escapa de críticas nessa história. T’Chala, mesmo na figura de rei, possui valores e mentalidades sociais que não vemos em outros líderes, até os da vida real. E a importância e poder que Wakanda possui nos dias de hoje, a ponto de entrar no universo cinematográfico Marvel, vem desta reformulação.

Quanto à arte, já disse anteriormente que gosto muito do trabalho de John Romita Jr, e me atrevo a dizer que este é um dos melhores trabalhos do desenhista nesta coleção, melhor até que O Demônio na Garrafa, da sua aclamada fase como desenhista da revista do Homem de Ferro. Eu colocaria Eternos nesse balaio, mas essa história é assunto para outro post. Enfim, se você, assim como eu, conhece pouco ou nada sobre o Pantera Negra e não quer chegar no cinema daqui a dois anos sem saber sobre o que o filme que você vai assistir se trata, esse é um bom começo.

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