Há Lei e Ordem na terra dos jogos?

Se você jogou, você é culpado.

 

Cerca de Recentemente foi ao ar nos Euazes e ontem no Universal Channel no Brasil um episodio do spin off de Lei e Ordem, Special Victims Unit. O nome do episodio é Intimidation Game.

Não é de hoje que a série, como as outras da franquia Lei e Ordem, tem um episodio baseado em acontecimentos reais, e, embora modificado para fazer valer o aviso de “não foi baseado em fatos ou pessoas reais” e não serem processados por alguém, é sim, bastante reconhecível com os fatos reais.

No episodio, uma produtora feminista de games é assediada e acaba sendo sequestrada e violentada por jogadores que acham um absurdo uma mulher fazendo jogos.

A semelhança da personagem, Raina Punjabi, com a famosa Anita Sarkeesian não é pequena. Embora Sarkeesian tenha realmente recebido ameças, bem documentadas, por sinal, não foi, e provavelmente não será, atacada fisicamente. Mesmo os argumentos apresentados no episodio beiram o ridículo. Ou melhor dizendo, a falta deles. Não é dito em momento algum porque os jogadores são contrários a presença de mulheres na produção de jogos. Eles apenas se limitam a destrata-las por serem mulheres.

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Embora os escritores tenham mostrando o personagem Finn (Ice Cube), como um jogador, é obvio que o show foi feito tendo em mente o espectador médio para baixo, escrito por gente com pouca familiaridade com jogos. O pensamento é algo como, “se você tem um x-box, você é uma aberração e está a poucos passos de ser um estuprador”. É preciso que haja violência real, é preciso que os agressores pareçam sujeitos desligados da realidade, confundindo jogos com a vida real. Essas séries de procedimento policial tem um longo histórico de temer tecnologias, em especial jogos, e exagerar tremendamente uma situação real para criar mais drama.

Law & Order: Special Victims Unit - Season 16

 

Claro que se pode argumentar que “é só um programa” e não haveria um problema, SE a premissa do programa não fosse justamente retratar a realidade. O resultado seria menos danoso se fosse em uma série como Fringe ou Supernatural ou mesmo Veronica Mars., que são claramente ficção.  Julgo mais perigoso para, sei lá, uma criança ver um personagem que agride uma mulher em um programa “real” como Lei e Ordem ou uma novela, do que imaginar que ela vai amarrar uma toalha no pescoço e pular de um prédio achando ser o Superman. Elas tem uma boa noção do que é ficção ou não. Quantos casos de crianças pulando de prédios com capas houveram nos ultimos 75 anos?

Não estou eximindo ninguém de nada. Para cada Cavaleiro da Defesa da Sociedade por aí, com certeza há seu equivalente trollzão que fica fazendo montagens da Anita Sarkeesian sendo atropelada por um javali. Mas o posicionamento da série é danoso, mais do que as ameaças vazias feitas por um bando de cabeças moles.

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O engraçado foi ver sites como o Kotaku (americano) ficando furiosos com a forma como os jogadores foram retratados, considerando que foram eles, apoiando malucas como Sarkeesian e sua legião de manginas, que começaram a criar o problema. Principalmente por serem citados no episodio. E para um episodio supostamente inspirado pelo Gamergate, o próprio não foi sequer mencionado, exceto pelo personagem de Ice T dizer que “os gamers ficam dizendo que ela conseguiu chegar onde está por dormir com os sujeitos certos” ou algo assim. E isso quem foi acusada foi a Zoe Quinn.

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A frase final da personagem Punjabi, “Mulheres nos jogos. O que eu esperava? Estou fora.” ,é simplesmente medonha.

É claro que esse tipo de retrato dos jogadores é ruim, a polarização ocorrendo entre a comunidade é um problema, principalmente por ser quase exclusivamente no EUA, onde estão algumas das maiores produtoras de jogos atualmente e o segmento dos que protestam contra alguma coisa é forte por lá.

Igualdade nos jogos e principalmente fora deles é importante. Um retrato desses, baseado na opinião de um punhado minúsculo de pessoas, aliado a preconceitos antigos, não ajuda a buscar igualdade. Apenas cria uma separação e uma alienação maior.

Mas, por outro lado, esse monte de atenção negativa, as criticas vindas principalmente de pessoas com pouco ou nenhum entendimento do assunto, ou feitas para adiantar alguma agenda, talvez isso seja um sinal que finalmente os jogos se tornaram arte. Gente pra falar merda sobre arte é o que não falta.