Interestelar
Nós ainda somos pioneiros, nós mal começamos. Nossas maiores realizações não podem estar para trás, porque nosso destino está acima de nós.
No dia que escrevo isso, o robô Philae fez um pouso controlado em um cometa. Isso é ótimo e é sempre um avanço pra a ciencia. Mas não posso deixar de sentir que estamos perdendo algo quando ficamos mandando sondas e robôs ao invés de irmos lá nós mesmos.
Creio que Christopher Nolan se sente da mesma forma. E talvez, como forma de mostrar algo que estamos perdendo, o senso de exploração, de saltar no desconhecido, que ele resolveu fazer Interestelar.
O filme segue duas historias em paralelo, o ex piloto da NASA, Cooper, e sua filha Murph. O mundo está pela bola sete, o planeta parece não ser capaz de sustentar vida por muito mais tempo. Plantas estão morrendo, nações estão empobrecidas e em frangalhos. Nesse cenário, Cooper é agora um fazendeiro, após deixar a NASA, e está insatisfeito com sua nova vida, mas tem que cuidar de seus dois filhos após a morte da esposa. O problema é que, devido a pragas, várias espécies vegetais desapareceram. Só o milho está resistindo e sabe-se lá por quanto tempo. Tempestades de areia assolam imensas áreas e a impressão que dá é que já morreu uma parcela imensa da população do planeta.
Nesse interim, sua filha está incomodada com o que ela chama de fantasma, que derruba livros no seu quarto. Ao dizer isso à Cooper, o mesmo lhe diz para ter uma abordagem cientifica, pois fantasmas não existem. Murphy assim o faz e com ajuda de Cooper, nota que os livros formaram um padrão que eles interpretam como sendo coordenadas. Intrigados, seguem até lá.
E acabam topando com o que restou da NASA, liderados pelo dr. Brand, dispostos a uma ultima tentativa de salvar a humanidade. Utilizando um portal de Buraco-de-Minhoca que surgiu em Saturno, estão preparando uma expedição para encontrar um planeta onde a raça humana possa se estabelecer.
Essa é a trama bem por alto e não vou falar mais, não por causa de spoilers, mas porque é interessante ver o desenrolar da história e como as coisas prosseguem.
É um ótimo filme, excelente inclusive para fazer parar o coro de pessoas que acham que “Christoffer Nolan é um bosta” depois de The Dark Knight Returns. Sem querer dar 40,5 motivos para essa afirmação, mas Nolan é um dos melhores cineastas que trabalham para grandes estúdios e ainda consegue ser autoral.
E já que estou disposto, vou mandar uma polêmica. Eu acho que esse seria um filme com potencial para se tornar um clássico, no nível 2001: Uma Odisséia no Espaço. Naturalmente é cedo para falar, mas potencial tem.
As Kubriketes podem me tacar pedras, mas digo e sustento, Stanley Kubrick era um excelente diretor de metade de filmes. Quem lembra da segunda parte de Nascido para Matar? Ou da parte do meio de 2001? E isso acontecia com praticamente todos seus filmes.
Nolan consegue manter o filme interessante por toda sua duração, e é um filme longo, com quase 3 horas e, talvez preocupado com as pessoas que estão coçando a cabeça até hoje com o final de A Origem, buscou ser ainda mais didático. Mesmo com um monte de termos científicos voando de um lado, trazidos, imagino, da consultoria do físico teórico Kyp Thorne (que é parça de Stephen Hawking e Carl Sagan)., o entendimento do filme não é prejudicado. E a ciência foi levada muito a sério, com, naturalmente algumas concessões para seguir a trama.
A produção do filme é excelente, em especial o design das naves demais máquinas, assim como a trilha sonora de Hans Zimmer, que realmente se superou aqui.
E afora meu interesse natural pelo tema, o fato de parecer um prequel de Civilization: Beyond Earth me incentivou a ver o filme.
Os irmãos Nolan claramente não estão felizes com a exploração espacial atualmente, o modo como a NASA está empobrecida e a falta de interesse em missões tripuladas à Lua ou Marte, um ponto que fica bem claro em alguns diálogos, como o da professora de Murphy, que ensina que o pouso na Lua foi uma farsa criada pelo governo americano para fazer a União Soviética gastar dinheiro à toa numa “corrida espacial” (e o filme deixa claro que os livros escolares da época usam essa versão), pois exploração espacial seria inútil, com tantos problemas para serem resolvidos na Terra.
E isso é uma idiotice descomunal. Esse argumento de que o dinheiro gasto com exploração do espaço poderia ser gasto alimentando os pobres ou algo assim é furado, pois esse dinheiro não está indo pra pesquisa espacial e mesmo assim não está indo também para causas sociais. Há dúzias de outros argumentos sobre o porque deveríamos investir mais no espaço.