Vingadores vs X-Men vs Quarteto Fantástico.

Sabe aquele quadrinho que você sempre quis ler?

Mas acaba redescobrindo o significado da palavra “decepção” assim que o termina? Esse é o caso de Vingadores vs X-men vs Quarteto Fantástico, encadernado lançado pela Panini em 2015 e que reúne as duas mini-séries em pouco mais de 200 páginas.

Fonte da imagem : Guia dos Quadrinhos

Se tem uma coisa que gosto de ler são mini-séries e histórias fechadas que reúnem equipes. Normalmente eu já espero que elas não influenciem na cronologia principal (por mais bagunçada que as cronologias Marvel e DC sejam), já espero que não sejam nada mais que uma aventura movimentada e divertida e já espero me divertir, de fato. Não foi o caso aqui. Pra tornar essa resenha mais organizada, vou resenhar cada mini-série em blocos separados e em ordem. Então começamos com:

Vingadores vs X-Men

A história que me fez querer ter esse encadernado unica e simplesmente por ter os desenhos do Marc Silvestri, que nos anos 80 tinha um traço que eu adoro. E essa adoração ganhou força quando li Edição Histórica Wolverine 1 da Mythos, que trazia a arte do sujeito em, preto e branco, o que deixava seu traço ainda mais bonito (e sobre a qual você pode saber mais clicando AQUI ). Só que nem os desenhos do Silvestri estavam bons nessa edição, talvez por culpa do arte finalista, Josef Rubistein (quem o arte finalizava no Wolverine era Dan Green), ou talvez ele só tivesse desenhado as pressas, não sei. Fato é que nessa mini-série sua arte não tem o mesmo esmero, por vezes parece simplificada e básica demais. O meu desgosto só ganhou força quando, na quarta edição, Silvestri é substituído por Keith Pollard, que não é ruim, mas é beeeem genérico.

Mas quem dera o problema maior fosse na arte. O principal entrave nessa história está no roteiro truncado de Roger Stern, responsável por uma das mais celebradas fases do Capitão América ao lado do John Byrne e que, coincidência ou não, eu também achei chata pra porra…

Tenho esse encadernado a SÉCULOS! Nunca consegui terminar.

A história começa com uma chuva de meteoros caindo sobre uma cidadezinha de Ohio e os Vingadores aparecem para salvar o dia. Ao mesmo tempo, na União Soviética, uma pane elétrica faz com que alguns trens se choquem e o grupo de super-heróis soviéticos, chamados Soldados Soviéticos (que original…) impede uma tragédia maior. Eis que surge o Dínamo Escarlate e diz saber a causa do acidente. Segundo ele, uma chuva de meteoros havia causado um pulso eletro-magnético e dado pane nos sistemas ferroviários. Porém,essa não era uma chuva de meteoros qualquer. Os fragmentos do meteoro pertenciam ao Asteroide M, antiga base de operações espacial de Magneto destruída pelos X-Men. Pra piorar, tempos atrás Magneto afundou um submarino soviético, matando vários oficiais. Agora os Soldados Soviéticos vão espumando de raiva em busca de Magneto.

O que os soviéticos não sabiam era que Magneto agora liderava os X-Men na ausência de Charles Xavier (que não lembro se estava morto ou não a essa altura, já que esse sujeito morre e volta mais que a Jean Grey). O sujeito haviam entrando numa onda “good vibes” e num PÉSSIMO gosto pra roupas, usando o que acredito ser o seu PIOR uniforme em toda saga dos X-Men, pois ele parece uma cruza do Dr. Stranho, Sidney Magal, Prince e Steve Martin.

Enquanto os X-Men estão se divertindo em um lago, Magneto ouve pelo rádio que um meteoro caiu e emana ondas eletro-magnéticas incomuns. Ele junta dois mais dois e conclui se tratar do Asteroide M e decide ir em busca dos fragmentos já que existe algo valioso lá dentro que pode mudar o rumo da treta entre humanos e mutantes. Claro que os Vingadores acabam se deparando com Magneto mexendo nos fragmentos do Asteroide M e é claro que o cabaré começa assim que Vingadores, X-Men e Soldados Soviéticos começam a se peitar.

O grande problema do roteiro de Roger Stern é que ele escreve aos moldes de Stan Lee e Chris Claremont. Ou seja, os personagens não calam a boca POR UM ÚNICO PAINÉL, tudo é desnecessariamente explicado MAIS DE UMA VEZ, o sujeito preenche a caixas de narração com informações COMPLETAMENTE IRRELEVANTES como data e hora (que não fazem diferença nenhuma pra história, como se faz crer de inicio) além de tentar florear o texto e soar mais como se estivesse enchendo linguiça.

Unido a isso temos os combates pouco inspirados dos 3 super-grupos que acaba virando quase que uma aventura ao redor do mundo, já que eles se batem por duas páginas e os X-Men fogem, se batem por mais duas páginas e os X-Men FOGEM DE NOVO! Isso sem falar que a Capitã Marvel, que na época era a Monica Rambeau, poderia resolver a quizumba toda, já que se move na velocidade da luz. Mas se ele o fizesse…não teria como estender a história por QUATRO TORTUOSAS EDIÇÕES!

O motivo pelo qual Magneto quer ir até o Asteroide M também é bem forçado, já que segundo ele, estava trabalhando em mecanismos em seu capacete afim de acabar com todo o tipo de preconceito do mundo através de ondas mentais. Além de idiota, a ideia só piora quando a oportunidade de acabar com os preconceitos raciais, de gênero, de crença e qualquer outro tipo de torna um questionamento moral. Digo…velho…que mal acabar com o preconceito no mundo faria? Segundo o Capitão América, todo mundo tem o direito de odiar quem quiser! Olha, pode me chamar de simplório,mas eu simplesmente não consegui enxergar o mal no que Magneto queria fazer…

Ah, una a tudo isso um plot sobre as verdadeiras intenções do Dínamo Escarlate ( um dos anti-mutantes que Magneto quer combater) que é meio que esquecida na trama e temos mais um ponto frouxo no roteiro.

Honestamente, essa foi uma baita decepção pra mim. Uma história truncada, arrastada, com um questionamento moral bem questionável e que acabou me causando mais a sensação de “obrigação de terminar de ler” do que “vontade de terminar de ler”.

Nota: 4,0

X-Men vs Quarterto Fantástico

Eu não estava muito interessado nessa história e achava que ela seria a chatinha do encadernado. Errei feio, errei feio, errei rude…

Escrita por Chris Claremont e com os ótimos desenhos de Jon Bogdanove, a história se passa logo após o Massacre de Mutantes. Como consequência do ataque dos Carrascos aos tuneis Morlocks, Noturno ficou em coma,Colossus ficou imóvel preso em sua forma blindada e Kitty Pride começou a perder coesão física, se tornando intangível até se tornar perigosamente etérea e estar perdendo seu corpo físico permanentemente, consequentemente, morrendo aos poucos no processo. Afim de ajudá-la os X-Men procuram Reed Richards, do Quarteto Fantástico, pois ele tem uma máquina que pode ser a salvação de Kitty.

Os problemas começam quando Franklin Richards, filho de Reed e Sue Richards, tem um sonho premonitório que mostra que seu pai vai matar os X-Men graças a um antigo diário dos tempos de faculdade que ele encontrou. Sue acaba encontrando esse diário e descobre que em uma passagem Reed pode ter confessado que o acidente que concedeu poderes ao Quarteto pode ter sido premeditado. Reed não lembra de ter escrito essa passagem mas fica em crise porque sua decisão, segundo o que está escrito, pode ter custado a normalidade da vida de sua família, sobretudo de Ben Grimm, o Coisa, quem mais sofreu por causa de sua aparência. Graças a essa incerteza plantada em seu coração, Reed desiste de ajudar Kitty e o quebra pau começa entre os X-Men e o Quarteto.

Após perceber que não conseguiriam nada com Reed Richards os X-Men resolvem tentar a sorte com o Dr. Destino, que diz possuir uma versão aperfeiçoada do equipamento do Senhor Fantástico e diz que não quer nada em troca de ajudar Kitty, mas todos sabem que Destino não faz boas ações a troco de nada. Ainda, assim, os X-Men aceitam a ajuda e mais conflitos com o Quarteto vão surgir a partir dessa decisão.

Como eu disse, eu achava que essa história seria a menos interessante do encadernado…e não é! Mas também não quer dizer que seja uma maravilha completa! Bem longe disso, aliás. Quem acompanhou a passagem de Chris Claremont pelos X-Men sabe que ele tem uma pegada meio novelesca, e as vezes acaba parecendo uma novela merda da Record, com uma trama fraca, conflitos idiotas e personagens agindo como completos imbecis. E é bem o caso aqui, sobretudo quando se trata de um cara que deveria ser um dos maiores, se não O MAIOR, gênio da Marvel, Reed Richards. Pra um cara capaz de abrir portais pra outras dimensões, criar maquinários fantásticos do zero e assimilar tecnologias desconhecidas com facilidade, não lembrar se escreveu ou não algo em um diário que vai contra tudo em que ele acredita é, no minimo, beirar o retardo!

Aqui também temos os conflitos éticos sem nexo que também permearam a história anterior. No caso, com Kitty Pride morrendo, a galera toma um tempo danado discutindo moralidade, sobretudo em uma cena onde Vampira diz “Se ele não quer usar a máquina pra salvar a Kitty por estar com medo, me deixa absorver os poderes e memórias dele que eu mesma faço!” ao que , se eu fosse o líder do X-Men, só diria “ENFIA O DEDO NO CU BORRACHUDO DESSE CORNO E ABSORVE ATÉ AS HEMORROIDAS DELE! EU QUERO É SALVAR MINHA AMIGA!”, mas Tempestade, líder do grupo na época, manda um “Não, Vampira! É feio e papai do céu briga! Se ele não quer ajudar, deixa ele ir e levar a única chance de salvar nossa amiga com ele!”. A porra do questionamento moral só se mostra ainda mais sem nexo com a negativa sem sentido de Reed Richards. Ele se nega a tentar salvar Kitty com medo de falhar e ela morrer e decide…deixar ela morrer sem nem tentar salvá-la! Sáporra não tem sentido NENHUM!

Outro problema da trama é a falta de adversários pra criar cenas de ação. Com o Quarteto em Nova Iorque remoendo a suposta decisão de Reed Richards de expô-los ao acidente que lhes deu poderes como está descrito no diário, os X-Men estão na Latvéria sem ter em quem bater. Mas, pra história não ficar parada , eles vão treinar umas 3 vezes e bater em Destinobôs mais um par de vezes em momentos pra lá de forçados. Mas agora vamos falar da PIOR COISA da história inteira. Franklin Richards, o anão retardado.

Sério, se tem uma coisa que Chris Claremont NÃO SABE ESCREVER, essa coisa são crianças, e isso fica mais que provado sempre que Franklin Richards está em cena. Se não me engano o moleque tem uns 4 ou 5 anos na história, mas era um senhor de uns 40 anos (na época) quem o estava escrevendo e o moleque soa como se tivesse retardo. Expressões como “sonho especial” pra descrever um pesadelo, ou “lugar mal” pra descrever um lugar perigoso ou ainda “livro malvado” pra descrever o diário de Reed Richards só pioram essa sensação.

Outro grande problema ainda com relação ao Franklin Richards, está na total e completa incapacidade do desenhista Jon Bogdanove de manter o menino com uma altura fixa por dois quadros seguidos! Sério, se o moleque aparecer em dois painéis em uma mesma página, pode ter certeza de que ele vai estar com dois tamanhos diferentes. Tem horas em que ele, de fato, parece uma criança de quatro anos e, de repente, se transforma em um anão de 32.

A história acaba ficando chata tanto pela falta de lógica dos personagens quanto pela punhetação “Não vou salvar a Kitty mas não quero que Destino a salve”. É melhor que a Vingadores vs X-Men, mas isso não quer dizer muito também.

Nota:6,0

O encadernado ainda fecha com duas histórias escritas por Stan Lee e desenhadas por Jack Kirby que mostravam o primeiro encontro dos X-Men originais com os Vingadores e com o Quarteto Fantástico. Mas aí eu devo confessar que…eu não consegui! Todos os problemas que relatei sobre a escrita do Stan Lee quando resenhei os dois encadernados da Salvat do Quarteto Fantástico ( que você pode ler clicando AQUI e AQUI) aqui são elevados a enésima potência. Texto desnecessário e redundante pra cacete permeando as páginas, ninguém cala a boca por um único quadrinho que seja, situações forçadas pra mostrar os poderes dos personagens, o conflito entre as equipes de heróis que acontecem porque ninguém tira uma frase de seus monólogos gigantes pra se explicar e resoluções simplórias demais dão a tônica de ambas as histórias.

Aqui vale citar duas cenas imbecis ao extremo. Em uma delas, Jean Grey está correndo no meio da floresta quando Ciclope a alerta de um buraco do tamanho de uma bola de vôlei a sua frente. Jean diz que não dá tempo pulá-lo e, com seus poderes, move um pedaço de lenha que estava convenientemente cortado ali do lado, pra fazer uma mini-ponte sobre o mini-foço. O problema é que a palestra que ela faz pra dizer que não dava tempo de pular o buraco dura o tempo que alguém levaria pra cavar 4 buracos do mesmo tamanho.

A outra cena é Xavier falando telepaticamente pros X-Men se prepararem para a batalha e dizendo que não tem tempo para explicar o detalhes. Mais uma vez, o tempo que ele leva pra dizer que não tem tempo pra explicar os detalhes daria pra preparar uma apresentação em power point com planilhas detalhadas, escrever e editar um cronograma com planos de ação, tirar xerox e distribuir entre cada membro dos X-Men.

Sério, se você é fã da escrita do Stan Lee, está tudo bem! Pode continuar achando bacana! Se você defende que é a escrita da época e era preciso ler com isso em mente, ok, você não está errado! Mas eu simplesmente não consigo gostar dos roteiros do Stan Lee! Pra mim, só teve uma coisa que ele escreveu que eu consigo ler mais de uma vez com tranquilidade, que é Surfista Prateado: Parábola. Ali ele deixou muito dos seus vícios de lado, sendo que ainda ameaça escorregar neles uma hora o outra, mas desconfio que foi o Moebius quem segurou as rédeas do sujeito.

Enfim, eis um encadernado que eu não indico a menos que você o ache MUUUUITO barato e esteja muito curioso, mas acho que nem a curiosidade faz valer muito a pena. Então guarde seu rico e suado dinheirinho pra coisas muito melhores.

Nota Geral: 5,0