Titãs Mangá.

O que diabos foi quer eu acabei de ler…?

Se você leu meu ultimo post sobre o “Americamangá”, deve lembrar que quando falei de Adam Warren e seus “mangás” publicados no Brasil, eu falei isso:

“Lamento muito não ter encontrado em banca na época as edições Titãs Mangá e Gen-13 Mangá, que podem até ter histórias ruins (não sei, estou chutando, pois nunca li,mas normalmente essas histórias alternativas dessa época o são) …”

Pois bem…assim que acabei de escrever o post fui dar uma olhada internet afora pra ver se encontrava essas edições para “importação”. E encontrei! “Importei” e resolvi começar a ler por Titãs Mangá. E, velho…as vezes eu detesto estar certo…

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Originalmente lançado nos EUA pela DC Comics em 1997 sob o título de Titans: Scissors, Paper, Stone e lançado no Brasil em 2001 pela editora Mythos sob o compacto título de Titãs Mangá, eu inicialmente julguei que Adam Warren fosse apenas adaptar umas coisinhas dos personagens tradicionais da DC pra adequá-los a linguagem mangá (leia-se “torná-lo clichês de animes dos anos 89/90 exibidos nos EUA) mudando poucos elementos e alterando mais pesadamente nos visuais, algo parecido com o que a Marvel fez na HORROROSA linha Marvel Mangáverso. Ledo engano…

A história se passa muitos anos no futuro, em uma época onde a tecnologia avançou assustadoramente,o contato com raças alienígenas se tornou algo comum e os super-heróis viraram apenas lendas e mitos sem muita credibilidade. Nesse cenário, a jovem feiticeira Jamadagni Renuka (que, apesar de ser feiticeira, não bota muita fé em feitiçaria achando que é mais uma ciência pouco estudada que qualquer outra coisa) prevê a invasão de uma criatura extra-dimensional ao nosso mundo que pode trazer o fim a todos os seres vivos. Para impedir isso, ela decide que seria uma boa ideia simular as ações de um dos super-grupos do passado por motivos de…porque sim! O grupo elegido são os Titãs, pois segundo as lendas, sua primeira aventura teria sido algo similar (que, no caso, creio ter sido Trigon, o pai da Ravena. Fãs de Titãs, me corrijam se eu estiver errado).

Para isso ela busca arquétipos similares a quatro dos membros da equipe original. Ela, a feiticeira, seria a correspondente a Ravena, Gabrielle Marin-Reyes, uma jovem que perdeu seu corpo num acidente e teve sua mente transportado para um corpo cibernético, seria a correspondente ao Cyborg, Hikarimono, o jovem oriental que é um defunto controlado por um tipo de simbionte alienígena seria o correspondente a Estelar e o ex-namorado Jamadagni, Alec Swanwic, o único ser humano normal do grupo, seria o correspondente ao Robin só que com a ajuda de um chip de memórias de um herói do passado que não era o Robin mas estava intimamente ligado a ele (e aposto que vocês nem imaginam quem seja! Brincadeira…é bem na cara, na verdade…).

A história é contada em pequenos flashbacks que ocorrem em paralelo com a invasão do bichão gigante. O plot não é lá grandes coisas, é até bobinho(e a própria Jamadagni fala isso na história) e poderia até render uma leitura divertida e descompromissada…se não fosse o roteiro ENTUPIDO DE TERMOS FUTURISTAS PSEUDO-CIENTÍFICOS INVENTADOS POR ADAM WARREN QUE TOMAM QUASE TODOS OS DIÁLOGOS, CASTRANDO O SENTIDO LÓGICO DE MUITOS DELES! É tanto “nano-isso”, “xeno-aquilo”, holo-aquilo outro” unido a termos científicos tirados do rabo em textos tão excessivamente extensos que fica mais do que claro que o Adam Warren é putinha do Massamune Shirow a ponto de tornar seu texto tão chato quanto o do criador de Ghost in the Shell, mangá CHATO PRA PORRA e que eu já resenhei AQUI.

Você lê essa página inicial esperando todo um contexto desse novo universo mas,no final…você entende menos ainda do que quando começou.

Outra influência que chega a feder de tão impregnada nas páginas de Titãs Mangá é Hyper Future Vision Gunm ou simplesmente Batlle Angel Alita, como ficou mais conhecido no resto do mundo (sobretudo após a adaptação para cinema dirigida por Robert Rodriguez e produzida por James Cameron). Essa influência fica muito clara no plot e trejeitos da personagem Gabrielle Marin-Reyes, que não apenas lembra o visual de Alita como, em uma cena de ação, se move exatamente como a personagem criada por Yukito Kishiro.

E por falar em visual, se tem uma coisa em que esse “mangá bootleg” se sai bem é na parte visual! Adam Warren pode escrever um roteiro chato mas o seu traço é MARAVILHOSO! Ele sabe empregar os elementos do mangá muito bem em sua arte, e não falo apenas do visual dos personagens, que eu ADORO, mas a sua narrativa é mangá puro! O sujeito não se limita apenas a desenhar personagens com olhos gigantes e narizes em meio triangulo e dizer “isso aqui é um mangá” como, citando mais uma vez com ônus, foi o caso na série Marvel Mangáverso. Adam Warren entende MESMO do riscado!

Essa cena é, literalmente, um “Vou usar essa filha da puta pra bater nesses outros filhos da puta”.

Agora quanto a tradução feita pelo LENDÁRIO Jotapê Martins, não há do que se reclamar.Obviamente ele adapta muita coisa pra nossa cultura mas tem um momento em especial que o sujeito teve que trabalhar um trocadilho e se saiu cretinamente bem. Em uma página, Jamagadni, após implantar o chip com a personalidade do misterioso herói na cabeça de Alec vai dizer que ela precisa de um…ao que ela é interrompida pela personalidade do herói misterioso que manda um “You need a Dick!” ,o que em inglês gera uma piada de duplo sentido, mas em português não faz sentido nenhum. Jotapê Martins, com a sutileza de um mamute troca o “You need a Dick” por um singelo “Você precisa de um pau!” e emenda um “Um pau pra toda obra…como Dick Grayson!”. A coisa é tão ignorante que é impossível não achar engraçado.

O saldo final de Titãs Mangá vai um pouquinho além do que eu esperava…negativamente falando. A trama é ruim, sem nexo e consegue ser mais chata devido ao “mambo-jambo” de ciência do futuro que Adam Warren enfia na história em grande parte de suas 47 páginas. A coisa só piora com o final súbito mas tão súbito que tenta cavar uma cena dramática mas deixa você num “Ué…é isso? Já acabou, Jéssica?” que não tem como se importar menos. Ele bem que poderia se focar na aventura e na ação, pois nisso ele se sai muito bem! Uma pena.

Nota: 5,5