Thundercats Roar! e o aparvalhamento geral

Thundercats…NOOOOO!!

Chegou ao meu conhecimento o trailer da mais nova criação do Cartoon Network.

Vejão.

Após ver o video, fui para fora de casa, sentei na varanda e fiquei matutando.

Quem teve essa ideia? Como a animação americana pode mudar tanto? Onde está o motoboy com minha pizza?

Uma resposta ao menos tive, bem quentinha, uns quinze minutos depois. Para as outras perguntas, as coisas não são tão simples.

A animação é uma criatura em constante mudança, não evolução vejam bem, mudança. Claro, acompanhando a cultura onde é gerada. Isso é natural e dificilmente seria diferente.

Mas me surpreende, nesse caso em particular, a mudança brusca da natureza dessa mudança.

Vejamos o caso de Teen Titans e Teen Titans Go!.


Quando Teen Titans foi anunciado, e principalmente depois da estreia, teve uma grande rejeição e criticas por causa do estilo de animação, cheio de gags visuais e alguns elementos de anime. A escolha da dupla Puffy AmiYumi para a musica tema meio que refletia isso.

As criticas diminuíram com o tempo, principalmente por causa da qualidade de algumas historias. Assim seguiu até o cancelamento do desenho, após 5 temporadas. E uma das razões para o cancelamento foi uma questão envolvendo a Mattel e a Bandai, ou seja, os bonecos. Isso vai ser importante.

Depois seguiu o excelente Justiça Jovem e depois Teen Titans Go!, e é aqui que a porca torceu o rabo.

 

Não vou discutir meritos ou qualidades de Teen Titans Go! (em geral eu até gosto, é algo como os Looney Tunes, mas menos constante na qualidade). O fato é que o desenho é absurdamente popular com a faixa etária mais jovem, e o publico principal esperado pelos executivos. Esse é o publico que enche o saco dos pais para comprar tranqueiras.

Teen Titans Go! teve, e tem ainda, que encarar uma tremenda rejeição, por dois fatores principais. Os fãs de Justiça Jovem, cujo desenho teria sido cancelado para favorecer Teen Titans Go!, e os fãs do Teen Titans original, incomodados com a tremenda mudança no tom do desenho. E esse é um argumento com uma certa validade aqui.

Teen Titans tinha momentos de comédia e mais leves, Teen Titans Go! é tiração de sarro o tempo todo, principalmente por exagerar traços das personalidades dos Titãs à niveis Bob Espongisticos. Esse é o segundo ponto importante aqui.

Thundercats surgiu nos anos 80 e sendo fruto dessa época, parecia com isso:

Era o estilo da época e poucos cartoons saiam dele: corpos fisicamente atleticos e historias relativamente sérias com momentos de comedia, em geral com alguma implicação de moral para as crianças. Nesse ponto nada tão escancarado quanto He-man e Gi-Joe, mas ainda assim tinha, em particular no começo. Era um desenho de ação.

Em 2011 surgiu o remake de Thundercats, e também emulava seu tempo. Ou seja, traço um tanto animesco e historia um tanto séria, momentos de humor e arcos de historia, seguindo uma formula parecida, e de sucesso, de Avatar: a Lenda de Aang.

Foi cancelada com apenas uma temporada.

A razão foram principalmente os bonequinhos. O fato do Cartoon Network americano ficar jogando o desenho de um lado para o outro na programação também não ajudou.

Agora temos Thundercats Roar!

É claramente calcada na série original, mas também adaptada para o que os executivos entendem que seja a “cara” da animação atual. Humor escrachado e bonecos de macarrão molhado, nos moldes de Steven Universo, OK Ko e Adventure Time. Segundo o criador, ele assistia Thundercats por influencia do irmão mais velho e a inspiração para essa série seriam os elementos humorísticos e absurdos da original.

E fico pensando se ele viu o desenho correto. Porque realmente haviam algumas coisas absurdas, mas em geral o clima era mais sério.

Um argumento é que seria para crianças, não para adultos, mas é um argumento que não cola por dois motivos, um mais convincente, outro ainda passível de argumentação.

O primeiro é o simples fato de que, quando foi lançado, Thundercats também era considerado infantil. Ok, crianças criadas com mertiolate que ardia e shampoo que cegava, mas ainda assim.

E o outro é a escolha de uma IP antiga. Usar algo assim, em especial esse tipo de IP que tem uma carga de nostalgia atrelada, é justamente para marcar em cima do mercado da nostalgia. Esse tipo de jogada pode dar muito certo, como Transformers, gostando ou não dos filmes eles realmente fizeram um porrilhão de grana, ou muito errado, como Caça Fantasmas 2016.

Funcionou extraordinariamente bem.

É dificil prever de antemão. Depois, nem tanto. A reação tem sido absurdamente negativa. Pelo que vi nada daquele “destruiu minha infancia”, que geralmente vem dos babacas ou dos caras que querem calar as criticas. O que tenho mais visto é insatisfação com a extrema alteração na essência da franquia.

Não se ouve muitas reclamações de cada vez que Scooby-Doo ou Tartarugas Ninjas é rebootado. Tem, algumas, mas não o asco generalizado que se vê por aqui. É só ver o quanto Scooby Apocalypse ou aquele Corrida Maluca Mad Max são adorados.

Novamente, é possivel fazer mesmo isso direito. Mas não parece ser o caso aqui.

Tenho lá minhas teorias do porque dessas mudanças, tanto nesse caso quanto na animação americana em geral, mas não cabem aqui, talvez futuramente, talvez nunca, já que é muito especulativo.

Curiosamente ou não, foi divuldado o poster da futura animação do Netflix, She-ra.

Porque não tinha ninguém para apostar comigo que a mini saia e os ombros de fora iam sumir?

She-ra em geral tinha tramas básicas mais interessantes que He-man, ainda que tivesse um elenco muito mais desinteressante, com excessão de Hordak e da Sombria.

O poster não diz quase nada, sequer dá para saber se é um reboot ou uma continuação, mas pelo menos as proporções da She-ra parecem corretas. O que é curioso.

She-ra se prestaria muito melhor para uma comédia, justamente por ter um elenco com mais personagens “engraçados”, como aqueles anões amigos dela, a bruxa atrapalhada, a coruja, entre outros. Quer dizer, é como se tivessem pego o Gorpo e dividido em seis ou sete personagens. Mas Thundercats era muito mais sério mesmo.


Tenho a impressão até que pode ser exagero, não pela reação do publico, essa parece adequada, mas leva jeito se serem uns episodios curtos, de alguns minutos. Por algum motivo, não me parece um conceito que consiga gerar um episodio de 25, ou mesmo 10 minutos.

Posso estar errado. Mas duvido.