Spice and Wolf

Sobre lobos e maças.

 

Vamos a premissa, em um continente que parece vagamente a Europa durante a Renascença, um mascate (um vendedor viajante) chamado Craft Laurence vai para uma aldeia onde ele já fez negócios antes. É um local produtor de um excelente trigo e ele vai se abastecer disso por lá.

A aldeia tem alguns costumes  antigos, vindos de tempos pagãos, um tipo de festival em homenagem à uma antiga deusa lobo, que favorecia as colheitas. Eles já não acreditam na deusa, e a natureza do festival mudou.

Lawrence negocia seu trigo e vai embora. Durante a noite, quando ele tirou sua carroça da estrada para passar a noite, ele nota algo estranho no meio de sua carga, trigo e peles de marta. Ele remove as peles e tem uma mulher nua dormindo ali. Ele nota, além da nudez, que ela tem orelhas peludas no topo da cabeça e uma longa cauda felpuda. Depois de um longo uivo de lobo, ela se apresenta como Horo, A Sábia, a deusa lobo da aldeia.

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Ela diz que o povo da aldeia parece não precisar mais dela e a substituiu pela nova religião. Horo tem realmente poderes sobre as colheitas e no acordo original que fez, séculos atrás, ela garantiria à aldeia colheitas boas. Mas, sendo sábia, Horo não permitia colheitas abundantes o tempo todo, pois empobrecia o solo. Então os aldeões interpretavam isso como caprichos e ficavam com raiva dela. No festival atual, Horo é representada como uma tirana e uma ladra. Por esse e outros motivos ela quer voltar para as terras do norte onde nasceu, séculos atrás e a oportunidade veio com essa passagem de Lawrence.

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Ela prova, de forma apavorante, para Lawrence que ela é mesmo a gigantesca deusa lobo e afirma que pode usar sua grande sabedoria para ajuda-lo a fazer bons negócios. A parceria é relutante a principio e com alguns percalços, mas eles vão se acertando e demonstrando algum interesse romântico um pelo outro. E eles vão seguindo, buscando negócios, com todos os altos e baixos que isso significa e, naturalmente, escondendo a verdadeira natureza de Horo.

A dinâmica do relacionamento entre eles é interessante. Eles estão sempre flertando e provocando um ao outro e parecem notar que são atraídos, mas não buscam a iniciativa, lá pelas suas razões. Mas felizmente não vira aquele clichê típico de animes. Horo em particular, deixa claro que gostaria que Lawrence fosse “um macho mais adequado, mas está bom como está”.  Lawrence é um pouco antagônico, mas de certa forma, realista. Ele é um cara ambicioso e com planos de criar uma loja. A presença de Horo é as vezes um empecilho a isso e ele age mais com o bolso em mente do que com o coração.

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Em questão de negócios a coisa também é levada de forma competente. Horo é antiga e conhece muito as pessoas e seus sentidos aguçados (que lhe permitem saber se uma pessoa está mentindo por exemplo) são muito uteis, mas as habilidades de Lawrence como negociante não ficam em segundo plano e mesmo a sábia Horo aprende com ele.

Falando de negócios, a historia era originalmente publicada em Light Novel e o autor realmente mostra que manja da parada economica (ele ganhou até um prêmio sobre isso), pois, embora os fatores sobrenaturais tenham um papel importante, a historia gira ao redor dos negócios. As relações de preços, oferta e procura, diferentes moedas, desvalorização das mesmas, muitos detalhes que mostram que o autor estudou bem a economia do período medieval/renascentista. E ele consegue manter a historia interessante e não precisa apelar para falar em economês.

A religião não é mencionada por nome, mas fica claro que é o cristianismo, dado sua influencia politica, econômica e sua forma de lidar com paganismo e heresia. Mas é interessante que a igreja não é todo poderosa, pois ainda existem cidades “pagãs” e os pagãos, embora vistos com desconfiança, não são atacados apenas por existirem.

Há algum fanservice, mas é mantido no nível mínimo, tanto pelo fato de não desenharem os mamilos de Horo por exemplo, quanto por que normalmente não é levado para o lado malicioso, embora, às vezes, Lawrence fique envergonhado.

Horo é fascinante. Ela mostra muita segurança e sabedoria normalmente, mas também se magoa e cede facilmente à desejos infantis (como doces e maças, sua comida favorita) e sempre que estão sozinhos está preocupada em pentear sua cauda e receber elogios por isso.

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A animação é bastante competente e tem ótimos momentos, assim como a trilha sonora.

A trilha sonora também é muito boa, simples e adequada, com destaque para a simpática música de encerramento.  A cantora está claramente se esforçando para conter o sotaque, pois a letra é toda em inglês. Mas a forma dela pronunciar as palavras, claramente, mas com pouca familiaridade, é um charme muito grande.


Fora a série de lights novels, Spice and Wolf teve uma adaptação para mangá e o anime teve duas temporadas. A segunda temporada tem arcos de historias mais longos e por isso parece ter um ritmo mais  “arrastado” que a primeira, mas não é um demérito no caso. O mangá difere um pouco do anime e felizmente continua a historia, já que, por não ter ninjas vestidos de gari, acabou sem uma terceira temporada. A historia não acaba com um gancho, felizmente.

É realmente uma boa série para se ver como é possível ter alguma coisa educativa sem didatismos pedantisticos e imagéticos.

 

Zweist
28/09/2015