Sexta do Facebook – Cinéfilo Humildão

cinefilo
A capacidade de transformar merda em obra de arte.

Mais uma página foda do Facebook, o Cinéfilo Humildão consegue pegar aqueles filmes de qualidade duvidosa e nos convencer de que são verdadeiras obras da 7° arte, fazendo uma análise profunda e nos mostrando coisas que não percebemos ao assistir.

Deixo aqui 2 exemplos:

Happy Gilmore com Adam Sandler
Como seria você ser o responsável por escrever a própria história?

O magnânimo Adam Sandler teve essa chance. No filme Happy Gilmore, o ator se desfiou e foi além, muito além, não apenas atuou, como compôs o fluido roteiro da obra. O filme também foi a primeiro trabalho conjunto de Sandler com o visionário diretor Dennis Dugan. Para os jovens, que talvez não estejam por dentro do melhor dos anos 90, a dupla Dugan-Sandler era o que hoje Scorsese-Di Caprio são para o cinema. Muitos atores e diretores passam por um processo de adaptação entre seus estilos de atuação e direção, Happy Gilmore não é esse caso, a dupla conseguiu atingir o estado da arte já na primeira tentativa. Magnífico.

Na obra, Gilmore aspira ser um jogador de hóquei, o auge para alguém da sua classe social suburbana nos Estados Unidos. Só que ele fracassa miseravelmente nessa tentativa. Sandler consegue passar de forma primorosa os anseios e decepções do seu personagem. Na redenção do personagem, a marca de Sandler também está lá no DNA do personagem, Happy Gilmore descobre que tem um dom, mas um dom fora do seu círculo social: jogar golfe. Nessa parte do enredo, Gilmore começa a ascender socialmente, desafiando o sistema de castas americano, mesmo não estando explicitamente escrito em forma de lei, ele está enraizado na sociedade americana. Temos um paralelo substancial a fazer, certamente Sandler, na composição do seu roteiro, bebeu da história de Bob Dylan, e sua ascensão no meio cultural dos EUA, mesmo sendo um maltrapilho que a primeira vista canta mal – Autor já confessou sua admiração pelo mestre do folk.

Gilmore tem como mestre um ex-jogador de golfe negro, Chubbs Peterson , que perdeu a mão por conta de um crocodilo. Peterson tenta ser o mentor do jovem jogador, que pela fama e status segue jogando apenas por isso, sem propriamente mensurar seu impacto no espaço-tempo do golfe. A morte do seu mentor é um dos grandes dramas do cinema contemporâneo, Sandler se doa totalmente a cena, confesso que na primeira vez que assisti uma lágrima verteu do meu olho esquerdo.

Happy Gilmore nos faz pensar, contestar e se emocionar. Depois dessa obra, muitas possibilidades foram abertas para o americano suburbano. Ainda podemos dizer que terceiros mundistas também puderam se fortalecer com a força ideológica dessa obra. Antigos espaços segregatórios não devem se manter eternamente, com a plebe apenas assistindo, basta um homem com fibra moral para quebrar a antiga ordem estabelecida.

PS: O cartaz do filme consegue plenamente expressar a ideia do filme “Ele não joga golfe, ele destrói isso”. O golfe no caso representa a velha estrutura da sociedade e como a frase completa: Gilmore destruirá isso com suas tacadas cheia de ódio reprimido.

O Grande dragão branco com o Van Damme:
O ano era 1988, ainda havia um muro de pé dividindo a Alemanha, a URSS, apesar de cambaleante, seguia tendo seu valor ideológico presente, a força da China já era uma realidade. O orgulho ocidental precisava de um ícone, de um herói contra o avanço oriental. O estúdio Globan-Globus então encomendou a obra definitiva de Newt Arnold. Assim começava a produção de O Grande Dragão Branco, que nos revelou os grandes dotes artísticos de Jean-Claude Van Damme.

Temos durante o filme a ambição de Frank Dux que quer ser o primeiro ocidental a vencer o torneio mortal Kumite. Newt Arnold, apoiado pelo roteirista Christopher Cosby, usa uma história real,de superação ocidental perante orientais para mostrar que o ocidente não apenas quer barrar o avanço dos orientais, como também conquistar territórios por lá.

O diretor aposta na forca criativa do inconsciente, pois como dizia nas cartas de Bergson à Deleuze: ‘Prefira a intuição de um esgrimista a complexas lógicas dialéticas’. Por isso os golpes principais nunca são premeditados e sim criados na hora, no momento, no Devir.

O adversário da luta final lança mão de um golpe desleal, jogando areia para Dux ficar cego. Aqui podemos fazer um paralelo com o fechamento da China, de atacar os outros em vários momentos, mas ninguém consegue realmente enxergar suas ações dentro do seu território. Dux sofre incialmente, apenas no momento que se deixa levar por outros instintos e a vontade de defender a sua honra, as suas origens, a sua psdeudosupremacia ocidental, consegue sair vencedor de tamanho duelo. A cena final é uma ode a ocidentalidade e sua capacidade de dominar qualquer forma cultural que apareça na sua frente. Fazendo um paralelo com o que ocorreu após o lançamento da obra, podemos ver isso na geopolítica, a queda do muro de Berilm massificou a cultura ocidental perante todas as outras que estavam na sua frente.
Como expectador, temos que assistir a esse filme além da primeira camada semiótica. Eu, como indivíduo, sou totalmente contra ideias nacionalistas promovidas na cena audiovisual. Só que como ser pensante que sou, devo abstrair certos preconceitos para refletir sobre o cenário. E como citado no início dessa análise, a obra serve para mostrar por onde andava o mundo lá no fim dos anos 1990, mesmo com a Guerra Fria definhando, ainda tínhamos certo temor do que viria pela frente, e as nações dominantes do jogo político não usaram apenas armas militares para vencer essa batalha, a arma cultural, de propaganda de massa, foi muito efetiva nessa época. E O Grande Dragão Branco é uma bomba atômica ideológica capaz de destruir valores antigos.

O legal da página é que a galera nos comentários também fazem avaliações profundas das películas. Não deixem de ver as outras analises, principalmente dos filmes do gênio Adam Sandler! =D