Semana do Saldão – Bumblebee

Como uma parcela significativa de gente, assisti esperando ver um desastre de carros. E foi quase isso mesmo. Mas não do jeito tradicional.

À cada novo filme de Transformers anunciado, a expectativa era mais baixa e o produto entregue, digamos assim, mais baixo ainda. O novo filme seria um um solo do Bumblebee, então ninguém esperava mais nada.

Mas então as noticias começaram a mudar. Não seria dirigido por Michael Bay. Que legal. Mas é escrito por uma autora que só fez dois trabalhos antes, e nenhum deles exatamente um primor. E dirigido por um cara que só fez um trampo antes. E as imagens dos Transformers apareceram. E eles eram reconhecíveis.

 

Starscream não pareceria mais um doritos de papel alumínio

 

Vamos ver então essa porra.

 

O filme se passa em 1987, e mostra os autobots sendo acossados pelas forças dos decepticons. Optimus Prime envia então seu melhor batedor, B – 127, para a Terra, com a missão de preparar uma base onde os Autobots possam se reagrupar e eventualmente retomar Cybertron.

B-127 chega na mencionada Terra, e é recebido com fogos e festividade por uma unidade militar comandada por John Cena. Eles até tentam dialogar, mas isso é interrompido pelo decepticon Blitzwing, que acaba danificando o autobot e o obrigando a se esconder enquanto seus bancos de memória e sua voz vão para o saco.

Lembrem-se crianças: Blitzwing não é um otorrinolaringologista registrado.

 

Algum tempo depois vemos a jovem Charlie (Hailee Steinfeld ), que aparentemente está passando pela fase rebelde da  adolescência. Normalmente isso seria motivo para levar uma surra de vara de marmelo, mas o fato é que ela ainda não superou a morte do pai, ao qual era muito apegada. Independente disso, ela está tentando arranjar um carro com a mãe e o padrasto. A oportunidade surge quando Charlie encontra um fusca abandonado numa oficina de barcos onde ela costuma arranjar peças para concertar um carro em sua garagem.

Charlie leva o fusca para casa e ao tentar dar um talento nele, descobre que o carro se transforma num robô, que ela batiza de Bumblebee (zangão). E segue o disco.

 

Se Meu Fusca Não Falasse

 

Os dois pontos principais que diferem esse filme são os transformers em si, ou seja, o fato que muitos deles sejam reconhecíveis como suas aparências mais famosas, da G1. A cena de Cybertron é clara nisso. Brawn, Arcee, Soundwave, Ravage… é possível saber quem são só de bater o olho. Claro, Blitzwing acabou ficando parecido com o Starscream, o que gerou certa confusão.

E principalmente, uma das razões pela qual o resto da franquia é tão absurdamente ruim. Os humanos.

Já expressei que é plenamente possível fazer um filme dos transformers com uma presença minima de humanos, ou até sem eles. Isso seria difícil aqui, considerando é um filme solo e que Bumblebee não fala. Mas os humanos aqui são muito bem feitos, em sua maioria. O agente Burns (não muito bem interpretado por John Cena), não é o tipico militar-que-explode-tudo, já que está disposto à principio a ouvir Bumblebee. Claro que não dá certo, mas ele tentou. Diabos, o cara é até inteligente o bastante ara desconfiar quando Dropkick e Shatter se apresentam à eles: “Eles chamam si mesmos Decepticons. Isso não parece uma bandeira vermelha?”. Deception, traduzindo, truque, enganação.

 

É quase como dizer “Somos os Massacradores. Pode confiar em nós.”

 

E a melhor humana que me recordo de ver em uma produção dos Transformers, Charlie. É possível notar algumas sutilezas nela que constroem uma excelente personagem. Por exemplo. Charlie é sarcastica ao responder à mãe, e a adultos em geral. Mas fica estranhamente amuada e retraída quando confrontada pela uber escrota Tina e suas amigas. Talvez por que seus problemas com Tina sejam muito anteriores à sua mudança de personalidade causada pela morte do pai.

Ela se demonstra mais feliz na oficina do seu tio do que em casa. Até suas roupas refletem as camadas da personagem, com as camisetas pretas e de bandas de metal contrastando com as roupas de bichinhos que ela usa para dormir.

De um modo geral, Charlie é uma melhora completa em relação principalmente à Shia laBuff e Megan Fox. Ela é a protagonista, apesar do filme ser chamado Bumblebee.

 

Se o filme se chamsse “Charlie”, pouca gente saberia do que se trata.

 

A ação do filme não é aquela maçaroca de alumínio incompreensível feita por Michael Bay. Quando os robôs saem na porrada é possível percebem quem está batendo em quem com o que. E embora o humor, como sempre, não funcione o tempo todo, é muito melhor.

É meio que um reboot, mas não é. A cronologia dos filmes dos Transformers é muito confusa, mas aqui se estabelece que a historia se passa antes do primeiro filme, ainda que uma ou outra coisa divirja disso. O ideal é entender que os outros filmes nunca existiram. É como a vida deve ser vivida.

Tem uma coisa esquisita no fato dos transformers já saberem falar inglês e terem sus HUDs internos mostrando informações nessa língua, sendo que nos filmes anteriores houve o cuidado de mostrar a estranha linguagem deles. Mas como estamos partindo do principio que nunca houveram filmes anteriores, está tudo bem.

 

“Michael Bay inferior, Travis Knight superior.”

 

Em conclusão, Bumblebee não é um puta filmaço. É um filme legal. A historia já foi de certa forma contada centenas de vezes, o visitante alienígena fazendo amizade com um humano e talecoisa. Mas é bem feito. Um filme bom, o que é muito mais do que poderia ser dito de todos os outros anteriores.

Que nunca existiram afinal.