Revirando a Jukebox – American Idiot

Eu era jovem, não sabia nada sobre a vida.

O ano é 2005, meus jovens. A economia brasileira estava um sonho, a MTv encarava a sua tricentésima falência consecutiva e migrava dos canais por assinatura para a parabólica, Velozes e Furiosos já era uma piada de mal gosto (mesmo estando no segundo filme ainda) e algo acontecia na juventude estadunidense que viria afetar os jovens paga pau de gringo aqui no nosso país.

O movimento emo era uma realidade. Por todo canto se viam adolescentes usando lápis no olho, quantidades insalubres de laquê em cabelos penteados em pet shop, calças desconfortavelmente apertadas e, Deus tenha misericórdia, gravatas. Me orgulho em dizer que passei incólume por tudo isso (já era um jovem dorme sujo do metal), porém uma das minhas bandas favoritas na época resolveu aderir à estética.

Em janeiro de 2005 eu ganhei um Vale CD, coisa que a molecada de hoje não deve fazer a mínima ideia do que seja. Sem hesitar me dirigi até a loja de discos e usei o vale em American Idiot, disco do Green Day que tinha sido lançado em setembro do ano passado como uma provocação ao 11\09. Ainda tenho esse disco guardado na casa dos meus pais. Hoje, enquanto escrevo esse post, eu o reescuto pela primeira vez em uns doze ou treze anos.

O álbum abre com a faixa título, 2 minutos e 56 segundos de punk rock rápido, direto e explosivo. Letra ácida sobre a política americana atual, melodia e refrão extremamente chiclete, o clipe dessa música passava todo dia na MTv, ainda é uma excelente faixa, que todo mundo esperava que desse o tom do disco.

Aí vem Jesus of Suburbia ter dar uma surra de pau mole na bochecha esquerda. Nove minutos de música, um verdadeiro sacrilégio pra uma banda punk, mas até aí tudo bem. Ritmo baladinha adolescente, distorção no talo, e de repente a música muda de nome e de ritmo pra algo mais lento. Não é ruim, na verdade é até melhor que o início, talvez seria melhor separar e transformara numa faixa à parte, se não fosse tão curta. Outra mudança de ritmo (I don’t Care), mais rápido dessa vez, o começo é um saco mas depois fica ok, depois cais a qualidade de novo. Começou a perte chamada Dearly Beloved, mais baladinha inocente, e eu só consigo pensar em como essa faixa é um trailer de 9 minutos de músicas que não existem além daqui. Puta merda, mudou de novo, não me lembro do nome dessa parte mas foda-se, é bem qualquer coisa. Ok, final da primeira música de longa duração e sinto que foi um erro tentar ouvir esse disco de novo, pode ter sido uma boa ideia fazer algo assim na época, mas envelheceu mal.

A terceira faixa é Holiday, outra que ganhou clipe mas não fez tanso sucesso quanto American Idiot. Uma pena pois é bem gostosinha de escutar. Vocais em coro, simplicidade e punch de uma boa música punk, duração decente, é daquelas músicas pra gerar participação do público nos shows, certamente um dos pontos altos do disco.

E então chegamos à faixa de maior sucesso do disco, a balada Boulevard of Broken Dreams. Não é ruim, mas deu no saco. Sério, estamos em 2021 e eu ainda estou enjoado de escutar essa merda, tudo que é canto tocava essa caralha, não tô nem prestando atenção mais, só estou escrevendo e esperando essa porcaria passar.

Pula pra We Are The Waiting. Me recuso.

Pula pra St Jimmy, de volta pro ritmo de American Idiot, essa música segue a mesma cartilha. Letra ácida em um ritmo alucinado, a música é tão boa que quase dá pra esquecer que estamos quase na metade do álbum a sacolinha de acertos está infelizmente mais leve que a de erros. Eu gostei muito do disco na época, me pergunto se foi ele ou eu que envelheceu mal.

Give me Novacaine é outra pisada com os dois pés no freio, pelo menos no início, já que o refrão é um tapa na orelha. Provavelmente a melhor balada do disco, muito bem feita mesmo, deveria ter recebido mais destaque, mesmo com a alusão ao uso de drogas no título.

She’s a Rebel chega emendando sem espaço pra respirar. De leve assimilação e extremamente chiclete, essa música parece deslocada, o que é uma pena pois é realmente uma boa faixa. Ela não tem muita cara de Green Day, mas até agora pouca coisa aqui teve, então tudo bem.

Na sequência temos Extraordinary Girl, que é aquela música pra você respirar, ir no banheiro, pegar uma coisa pra comer e deixar o disco rolando sem o mínimo peso na consciência por não estar prestando atenção. São sete da manhã, eu estou escrevendo enquanto tomo a segunda xícara de café do dia e eu comecei a bocejar com essa música.

Depois da soneca anterior o disco continua com Letterbomb. As coisas começam a se ficar mais animadas, mas sinto que fui traído pela minha memória. Na minha cabeça essa música era uma das melhores do disco, na minha cabeça ela era bem melhor. Não me entendam mal, ela é boa, mas sei lá, acho que você precisa tem menos de duas décadas de vida pra gostar de verdade, o que fala mais de mim que da música.

E vamos nós pra maior chifrada no saco desse disco, Wake Me Up When September Ends. Na moral, foda-se, vou lavar a louça do café e volto quando essa merda acabar.

Reta final com Homecoming, outra música de nove minutos. Depois de uma introdução qualquer coisa vem a parte Death of St Jimmy, que é ok, dá pra ser encarada como um bom começo. Depois vem Nobody Cares, que é quase na mesma pegada da parte anterior. Cacete, nove minutos pra usar e as música ainda parecem coisas incompletas. Entra a outra parte que eu não ligo nem pra lembrar o nome, bem qualquer coisa com uma bateria marcial e uns sinos, no geral essa música parece um refugo do que não entrou na outra. Corta pra um rock classicão de um minuto no máximo que descamba pra outra coisa que eu também não me lembro o nome mas é até agora a melhor parte da faixa. Ok, outra parte pra se cantar em coro durante o show, só que essa é ruim. Caramba, poderiam ter usado o tempo dessa parte nas outras, dois minutos jogados no lixo.

Finalmente última faixa, Whatsername. Ninguém lembra dessa faixa, ela não tocou em lugar nenhum e é simplesmente a melhor balada de todo o disco, coloca as outras duas debaixo do braço fácil. Você chega no final do disco, escuta essa faixa e pensa “caramba, que disco bom”, mas não é bem assim, camarada! Tem mais tropeços que coisas boas, e algumas faixas são insuportáveis de se ouvir até hoje, por mais sucesso que tenham feito no passado.

Chego no final do post com uma sensação de frustação. Estou sem escrever nada novo por mais de um ano, e quando resolvo escrever sai isso aí em cima. Era necessário reescutar um disco que eu considero a derrocada de uma boa banda dos anos 90? Não, não era. Foi divertido? Talvez tenha sido um pouco. Eu vou voltar a escrever com frequência, principalmente agora que quase não bebo mais? Só o futuro nos dirá.

Enfim, é isso. Ninguém vai ler isso mesmo, já que os posts sobre música são os menos lidos aqui, então foda-se.