Review Submerso: Underwater

Ou “Ameaça Profunda” se preferir.

Ultimamente tenho tido muita preguiça de assistir filmes (séries então…não, obrigado! Não tenho saco pra assistir 40 horas de gente conversando). Mas recentemente recebi a indicação do Marcel pra ver um filme que eu havia ignorado porque tinha a Kristen Stewart como protagonista. Não gosto do trabalho da atriz, acho que ela só tem uma expressão pra cada tipo de filme, se ela fizer uma personagem tensa, ela vai ter a cara tensa o filme inteiro, se fizer uma comédia, vai estar sorrindo o filme inteiro, se estiver num filme onde não precise fazer expressões faciais, ela vai se sentir em casa porque tensa ou sorrindo ela está com a mesma cara de tijolo.

E eu achava que era só um suspense desses do tipo “deu problema na base sub-aquática, temos que escapar com vida” e só! Mas eis que o Marcel profere a frase “bem Lovecraftiano” e meu sensor de “EITA, PORRA, TEM MONSTROS NO FUNDO DO MAR! PRECISO VER ISSO!” foi ativado. Bem, vi o filme, e eis minhas impressões…depois de uma breve sinopse, claro!

Uma empresa inicia um ousado projeto de fazer escavações na Fossa das Marianas e consegue alcançar mais de 10 quilômetros de profundidade. Aparentemente tudo vai bem até que certo dia a base sub-aquática colapsa misteriosamente matando boa parte dos 300 pesquisadores que a abitavam e um pequeno grupo terá que sair e caminhar na área mais profunda do mar já alcançada pelo homem se quiser sobreviver. Mas o que não sabem é que não estão sozinhos…

O filme já começa com a terceira marcha engatada. Não há apresentação dos personagens antes da tragédia, como é comum nesse tipo de filme. Apenas vemos a personagem Noah, interpretada pelo tijolo Stewart, fazendo um pequeno monologo sobre escuridão, e de repente a base começa a ir pro saco e vamos conhecendo os personagens a medida que a história vai andando, e eu achei isso um baita de um acerto. Gosto quando a história vai sendo contada em meio a ação, mas é preciso saber fazer ou a coisa toda vira uma bagunça, e o diretor William Eubank soube fazer com sucesso.

Outro ponto que merece destaque é o design de maquinário e uniformes, entupidos de referências. Os trajes de mergulho são LINDOS, lembrando muito as armaduras do jogos da série Gears of War com uma leve pitada de Warhammer 40,000. E é impossível também não notar a semelhança das capsulas de fuga com as “naves bolinhas” dos Saiyajins em Dragon Ball Z. Mas a referência mais escancarada está nas instalações da base submarina, a qual tem corredores e portas que em muitos momentos lembram DEMAIS a Nostromo, a nave onde se desenrola o clássico Alien: O Oitavo Passageiro, fonte de onde Ameaça Profunda bebe muito.

Armaduras do filme.
Armaduras do jogo Gears of war.

Aliás, eis uma coisa que me desagrada um pouco, o título nacional do filme. Underwater é mais misterioso e deixa você sem saber exatamente o que esperar, caso você não tenha visto trailer nem nada sobre o filme, como foi meu caso. Já Ameaça Profunda entrega um pouquinho demais e tira um pouco do impacto da coisa toda com essa cara de Cine Espetacular do SBT. Se eu pudesse escolher um título nacional, colocaria algo como…sei lá…Submersos, que acabo de pesquisar pra ver se já havia um filme com esse título merda mas melhor que Ameaça Profunda, e descobri que esse foi o título que o filme ganhou em Portugal (e que tem outros 3 filmes e uma série de TV com esse nome…).

Mas voltando ao filme…meu medo é que ele caísse nos velhos clichês. E ele cai, de fato, mas alguns funcionam e outros são tão previsíveis que acabam tornado algumas partes chatinhas. Mas o filme também traz alguns elementos que podem não ser novos, mas renderam cenas bem bacanas como, por exemplo, o que aconteceria se alguém morresse sob a pressão da alta profundidade do mar. A resposta a essa questão rende duas cenas, uma assustadora, não pela questão de dar susto mas porque você fica com a boca aberta pensando “Eita, porra…então seria assim que aconteceria…” e outra visualmente bonita apesar de tragicamente clichê. O final do filme reserva o clichê maior e foi a parte que mais me desagradou pela obviedade do que aconteceria.

E por falar em desagradar, o filme seguiu por uma vertente beeeem diferente do que eu esperava até metade dele, e olha que ele me encheu de promessas só pra quebrá-las todas em prol do cinema pipocão! Acontece que quando o Marcel falou em algo Lovecraftiano e eu fui procurar na internet mais informações sobre o filme e todo mundo repetia isso, eu comecei a acreditar que o filme teria pitadas de terror psicológico com a insanidade tomando conta dos personagens em alguns momentos graças a influência de algo oculto na região mais oculta e profunda do oceano. E o filme até dá a entender que isso vai acontecer algumas vezes, como por exemplo no comportamento errático do capitão, vivido pelo francês capoeirista e James Bond do Porta dos Fundos, Vicent Cassel. Ou em outro momento em que a personagem de Jessica Henwick (a Colleen Wing naquela BOSTA de série do Punho de Ferro) parece estar falando sozinha enquanto arrasta o corpo de um colega de equipe no meio da escuridão do mar, mas você descobre que o cara estava vivo e ela estava conversando com ele pra mantê-lo acordado. E até a personagem de Kristen Stewart parece que vai surtar em alguns momentos mas fica só na promessa.

Até aqui eu tentei evitar falar das criaturas, mas é preciso! Quando a primeira aparece, ainda no começo do filme, dá a impressão de que serão umas lulas esquisitas e sem graça mas…não! O conceito dos bichos é bem bacana, apesar do visual base não ser lá muito inovador em uma primeira vista. Quando apenas nadando, eles parece pessoas, são humanoides e até explicariam o conceito de sereias dentro desse universo. Mas quando estão perto e atacam, aí os bichos se deformam de um jeito grotesco, inclusive gerando uma das cenas mais bizarras, nojentas e angustiantes do filme quando é mostrado como eles se “alimentam” de algo grande demais. Quando estão inertes, seus corpos parecem algas e eles soltam um tipo de secreção que deixa tudo turvo ao seu redor tornando difícil distingui-los. E quando você descobre que eles não são exatamente o problema e percebe o que eles realmente são, aí é que a coisa fica bacana. Uma pena as criaturas não serem mais exploradas e não ter uma história de alguém que saberia da existência delas. Quer dizer, em uma cena rápida onde a personagem de tijolo Stewart encontra o armário do personagem de Vicent Cassel, pra quem conhece Lovecraft e o mito de Cthul…Cthul..O MITO DE CLEYTON, percebemos várias anotações nas paredes que indicam que, sim, de algum modo ele sabia o que estava lá e que, sim, ele estava mesmo enlouquecendo, apesar do filme meio que desistir de mostrar isso, o que é uma baita de uma pena! Inclusive é possível ver a ilustração da famosa estátua que dá inicio a trama do conto O Despertar de Cleyton nessa cena.

Enfim, Underwater/ Ameaça Profunda não me entregou exatamente o que eu esperava mas me divertiu. Me lembrou em muitos momentos a primeira metade da HQ The Wake ( O Despertar, como ficou no Brasil) da dupla Scott Snyder e Sean Murphy, a qual também renderia um baita filme de terror sob a água. Então assista Underwater sem grandes expectativas e divirta-se! Vale a pena e é curtinho, tendo apenas 1:30hr nesse mundo louco de filmes de 2:30hr.

Nota: 7,5