Review Sombrio- Batman: Gotham by Gaslight.

Roteiro sombrio, animação colorida.

Pois é, negadinha, mais um longa animado DC chegando para fazer a alegria dos fãs. Desta vez trata-se da adaptação de uma one-shot escrita por Brian Augustyn e desenhada pelo lendário Mike Mignola, a famosa história que leva Batman a Era Vitoriana, estou falando, claro, de Batman: Gotham by Gaslight ou, como é mais conhecida no Brasil, Batman: Gotham City 1889.

Na trama, passada em…bem…1889, uma misteriosa figura anda assassinando prostitutas pelas ruas de Gotham  e acaba recebendo a alcunha de Jack, O Estripador. No entanto, outra misteriosa figura está em seu encalço, sombrio e tido como uma lenda urbana por muitos, todos o conhecem apenas como o Batman.

Sim , a história original de pouco mais de 50 páginas tem uma trama simples e um vilão já usado a exaustão em tantas outras mídias. No entanto, o clima da Era Vitoriana caí como uma luva na mitologia do Batman. E isso, unido ao traço sombrio de um Mignola se preparando para se tornar o mestre do uso da luz e sombra em Hellboy, acaba por resultar em uma história imersiva e de visual arrebatador.  Mas vamos parar de rasgar seda falando sobre a HQ e nos focar no que realmente interessa aqui, a adaptação para o longa animado.

Bem, se a HQ prima e acerta pelo visual sombrio…o mesmo não pode ser dito da animação! Com traços que, muito erroneamente, não seguem o visual proposto por Mignola, a animação ganha um ar infantil visualmente falando. É como se tivessem tirado o charme dos traços de Mignola e trocado pelo pastelão genérico de um Jeff Matsuda, ex-desenhista da Marvel nos anos 90 e character design das séries animadas As Aventuras de Jackie Chan e The Batman (aquela série onde o coringa tinha cabelo de super saiyajin e lutava capoeira). Muita gente pode defender a mudança com argumentos como “Mas Hellbolha, o traço do Mignola não casa com animação, é muito complexo e aquelas sombras são impossíveis de transpor” ao que eu respondo “Então assistam The Amazing Screw-on Head e voltem aqui pra repetir isso”. A questão é que talvez desse muito mais trabalho fazer as sombras chapadas em cada frame, apesar de que The Amazing Screw-on Head não apenas conseguiu como nos entregou uma animação BELÍSSIMA, mas o fato é que a DC tem colocado a qualidade técnica de suas animações em um nível pífio desde Liga da Justiça: Guerra, ultimo longa com uma qualidade de animação realmente bonita, com cenas de ação dinâmicas e uma movimentação fluída dos personagens. Depois disso a qualidade DESPENCOU! E hoje temos animações duras, travadas, com personagens deslizando nos cenários ao invés de andar neles, personagens correndo colocando braço e perna direitos na frente ao mesmo tempo (esse dois erros estão em Liga da Justiça Sombria, assista e procure por eles, caso não ache, não se preocupe, eles PULAM na sua cara) , e muitos outros erros grotescos dos animadores que parecem estar se tornando mais e mais comuns atualmente. Talvez tudo isso se deva ao fato da DC estar sempre lançando longas animados do Batman (ou melhor, DO DAMIAN)  em paralelo aos seus longas principais, o que pode levar a dividir equipes e reduzir a qualidade pra ganhar tempo de produção… ou talvez só estejam querendo economizar mesmo, já que grande parte dos fãs da DC andam aceitando qualquer coisa. Eu aposto na segunda opção!

O traço cartunesco demais e a falta de um visual mais sombrio não ajudam a deixar o Batman ameaçador.

Ainda falando em visual, apesar da diferença gritante com relação ao visual original das HQs, Batman: Gotham by Gaslight tem pelo menos um ponto a favor: ele não está com o character design que virou padrão nas animações DC a partir das adaptações dos Novos 52. TODAS as animações tem o mesmo character design de lá pra cá, o que as deixa sem identidade, como falei no post sobre o novo longa animado do Esquadrão Suicida, Hell to Pay. Ponto a favor mesmo no ponto contra.

Até o Superman com cara de Nicolas Cage em Superman Unbound tinha uma identidade mais marcante que os traços genéricos das animações atuais.

Agora falemos da trama. Como eu já disse, a HQ original tem pouco mais de 50 páginas, o que, se adaptado ao pé da letra, resultaria em um filme de uns 40 minutos no máximo. Assim sendo, afim de esticar a trama, foram feitas MUITAS adaptações e inserções no roteiro. Quando vi o trailer fiquei completamente cismado e esperando o pior, já que essas encheções de linguiça resultaram na PÉSSIMA e totalmente injustificada ( na minha opinião) primeira parte da adaptação de Batman: A Piada Mortal. No entanto, em Batman: GbG, as adaptações não apenas mudaram a trama em quase sua totalidade, como..surpreendentemente FUNCIONARAM!

A história segue alguns pontos chaves da obra original, mas nos introduz a tantos outros novos plots interessantes que acaba ganhando vida própria e ampliando aquele universo que era contido pelo limite de 50 páginas da HQ. Outro ponto pra o qual eu torcia o nariz quando vi o trailer eram as inserções de personagens da mitologia do Morcegão dando as caras na HQ em suas “versões vitorianas”. Achei cretino inicialmente, mas acabei por morder a língua, já que eles não aparecem com seus poderes e características fantasiosas comuns na linha tradicional. Como Batman:GbG tem um pé mais firme no “realismo”, Era Venenosa aparece como uma dançarina exótica que se veste com uma lingerie feita de folhas, Harvey Dent ainda é advogado mas o seu Duas-Caras só aparece em seu comportamento enciumado quando o assunto é o affair entre Bruce Wayne e Selina Kyle, e os 3 Robins aparecem como uma pequena gangue de trombadinhas, mas com as características de cada um bem marcantes os tornando facilmente reconhecíveis com Dick sendo o líder mais velho e sábio, Jason sendo o mais esquentadinho e malandrão e o pequeno Tim sendo o mais reservado.

Agora, se tem algo que merece ser mencionado e aplaudido de pé, esse algo é o final! Na HQ a revelação da identidade de Jack, O Estripador é algo não muito impactante. Não vou dar spoilers para que quiser ler antes de assistir ao longa, mas basta dizer que é algo digno de novela mexicana. Já no longa, a identidade do assassino é mudada e a revelação é algo notavelmente corajoso por parte do roteirista. Você pode até desconfiar durante todo o longa mas vai ficar repetindo “não…não pode ser…eles não fariam isso! É LOUCURA!”. Sem falar que o fim do sujeito resulta em uma cena sensacional! Claro que vai ter mita gente torcendo o nariz e achando uma merda e até uma “heresia”…

Ah, e antes de terminar vale citar outro aspecto que muito me agradou: As lutas! Não, elas não estão com uma animação impecável, ainda estão travadas e com movimentos de câmera pobres e estáticos em muitos momentos. No entanto, um cuidado com o estilo usado na época foi tomado e resultou em um ponto extremamente positivo. Pra que você entenda melhor o que quero dizer, basta lembrarmos que o Batman é mestre em alguns estilos de arte marciais e os usa com maestria. No entanto, em 1889 o contato com a cultura oriental era quase nulo por parte dos americanos e até do ocidente em geral. Assim sendo, qual o estilo de luta mais famoso na época? O boxe, claro! E todas as lutas são calcadas no boxe, com apenas um ou dois chutes e joelhadas sendo disparados e menos ainda quando se trata de movimentos acrobáticos. Ponto mais que a favor!

Enfim, Batman: Gotham by Gaslight é um filme que peca no visual cartunesco demais, colorido demais (apesar dos cenários sempre em tons pasteis escuros) mas que compensa todas essas falhas com uma  trama bem trabalhada que prende do inicio ao fim e não desagrada ao modificar certos pontos da obra original. É a DC começando bem o ano no campo dos longas animados…só pra cagar tudo com Suicid Squad: Hell to Pay. Porque esse sim está carregado com todas as falhas que já citei acima e promete ser complicado de se ver…

Nota: 8,0