Review Sangrento: Mortal Kombat (SEM SPOILERS)

Sangue, tripas, vingança e…Cole Young.

Com uma data de estreia bem confusa no Brasil, sendo incialmente anunciado para 15 de abril depois adiada para 13 de maio e agora só Deus sabe em que pé anda, Mortal Kombat estreou no ultimo dia 8 de abril nos cinemas americanos, arrecadando 11 milhões em seu fim de semana de estreia, e chega a HBO Max dia 15 de abril. Mas como o Superamiches é um site de grande prestigio no ramo do entretenimento, a Uórner Bródis nos convidou pra ver o filme através de um arquivo russo de baixa qualidade. E eu aceitei o elegante convite da Uórner. Espero que um dia a Warner tenha a grandeza de espirito da Uórner e nos convide pra uma cabine de impressa internacional…

Mas antes de falar do filme, vamos a uma pequena sinopse:

Cole Young é um lutador amador de MMA que vive de perder lutas armadas. Certo dia, após perder uma luta, como em mais um dia de trabalho qualquer, ele é procurado por Jax Briggs que se diz surpreso por ver um sujeito que tirou o titulo de um campeão vivendo desse jeito. Jax parece ser só mais um “fã” mas ao constatar que Cole tem uma estranha marca de dragão no ombro, se despede e entra em contato com alguém dizendo que encontrou o sujeito. Mas o problema é que não apenas Jax procura Cole, mas o mortal ninja Sub-Zero aparece em perseguição ao lutador de MMA. Após ser salvo por Jax (o que custa seus braços), Cole procura Sonya Blade e acaba descobrindo que é um dos escolhidos para lutar no torneio Mortal Kombat que vai decidir o destino da Terra.

Vários dimensões lutam no torneio, e aquele que vence 10 torneios seguintes, está autorizado a invadir a dimensão derrotada. O Outworld, a dimensão representada pelo feiticeiro Shang Tsung e seus lutadores, está para vencer o décimo torneio, mas para garantir sua vitória e invadir a Terra, ele ordena que seus lutadores cacem e eliminem os lutadores da Terra escolhidos pelo deus do trovão, Lord Raiden. Agora Cole vai ter que tentar sobreviver aos assassinos mais letais que jamais conheceu e ainda tentar descobrir qual seu papel nessa trama que parece ser muito maior do que ele imagina.

Sim, a trama do novo Mortal Kombat lembra muito a trama de …Deus me perdoe…Mortal Kombat: A Aniquilação, sequencia lixo do longa original de 1995. Na trama da porcaria de 1997 Shao Kahn também ordenava que seus lutadores caçassem e matassem os melhores guerreiros das Terra. A gente não via ninguém morrer, mas eram citadas as mortes de Stryker e Kabal, por exemplo. Mas não se preocupe! O filme de 2021 guarda apenas essa pequena semelhança com o pedaço de bosta de 1997. Ele consegue se sair INFINITAMENTE MELHOR, o que não é grandes méritos…

Fato é que a trama de Mortal Kombat já foi contada e recontada um porrilhão de vezes e em várias mídias diferentes! Nos games já teve seu inicio contado no primeiro jogo (claro) e recontado em Mortal Kombat 9 numa espécie de “reboot”, mas também teve a mesma história contada de maneiras diferentes em filmes, numa série de TV, animações, quadrinhos e web séries. Então contar tudo de novo sem se repetir certamente é uma tarefa complicada e a saída para os CINCO roteiristas do longa foi trazer novos elementos pra mitologia  da franquia. Alguns funcionam, outros nem tanto…

O primeiro desses elementos e pro qual eu (e certamente MUITA GENTE) torci o nariz foi a adição de um personagem inédito e exclusivo pro filme no papel de protagonista. Muito provavelmente a intenção dos roteiristas foi o velho clichê do “esse personagem representa o expectador que vai estar descobrindo esse novo mundo junto com ele” que eu acho bem cagado. A história de Cole, um ex-astro que está em decadência e agora precisa provar seu valor no Mortal Kombat, É A MESMA FODIDA HISTÓRIA DO JOHNNY CAGE! ENTÃO ME COLOQUEM JOHNNY CAGE COMO PROTAGONISTA, CACETA!

A coisa só fica mais esquisita quando descobrimos que Cole tem uma ligação com um dos personagens e que o está “substituindo” na trama. E, não, não estou falando de Johnny Cage dessa vez.  No saldo final, o personagem até que funciona, mas de uma maneira meio frouxa e o questionamento do porque dele existir fica na mente sobretudo no ultimo frame do filme onde a frase ” POR QUE NÃO COLOCARAM O JOHNNY CAGE DE UMA VEZ!” volta a mente de novo.

Outro elemento novo meio questionável é a tal questão da “marca convite”. Isso deixa a trama com um plot de filmeco B. Não que a trama de um torneio de artes marciais seja a coisa mais genial do mundo, mas adicionar isso só deixa a coisa toda mais mambembe ainda. Apesar disso, esse novo elemento traz um drama pessoal pra um dos personagens, que não tem a marca e é meio que visto como um “forasteiro” no meio da trama, inclusive sendo diminuído muitas vezes por inimigos e aliados, o que abala sua confiança. Mas um elemento “bacaninha” da marca é que ela só aparece em pessoas que tem o potencial para serem verdadeiros defensores de seus reinos, ou seja, em lutadores fodões, pra ser curto e grosso. Mas isso não impede que alguém “ganhe” a marca por merecimento próprio. Basta matar um dos “escolhidos” pra provar que você é melhor e…pronto! Salta uma marca do dragão fresquinha e uma vaga na empresa! É outro elemento frouxo, mas que acaba funcionando também.

Agora a parte mais bacana foi que encontraram uma desculpa pra mostrar os golpes especiais dos personagens sem parece algo saído do nada. No filme de 1995 não tivemos Liu Kang soltando bolas de fogo, só dando uma “piscadinha” quando ele dá o ultimo golpe em Shang Tsung antes de jogá-lo nos espetos da morte. Apenas Scorpion, Sub-Zero, Reptile, Shang Tsung e Raiden tinham poderes porque eram tidos como seres sobrenaturais. Em Mortal Kombat: A Aniquilação tivemos o Fatality de Sonya explicado “cientificamente” quando ela sopra um pó inflamável em Cyrax remetendo ao seu “Fatality do beijo” e Liu Kang e Shao Kahn naquela luta nojenta de “animalities” que eu prefiro esquecer.

Aqui decidiram que os personagens teriam seus golpes especiais SIM, mas que eles os ganhariam pelo fato de serem os escolhidos e que esses poderes despertariam após um breve treinamento, lembrando muito a questão dos poderes mutantes em X-Men (tirando a parte do treinamento para despertá-los, claro). É uma explicação meio “Power Rangers”? É! Mas se serve pra eles usarem os golpes do jogo, EU TÔ POUCO ME FODENDO PRA EXPLICAÇÃO MERDA! EU QUERO É VER O LIU KANG SOLTANDO BOLA DE FOGO, O KUNG LAO JOGANDO O CHAPÉU E SE TELEPORTANDO E O JAX…criando super-braços mecânicos do nada…? Tá, isso foi esquisito…

O único que parece ter poderes desde sempre ( tirando o Shang Tsung e o Raiden, claro) é o Sub-Zero, que já tem o controle do gelo desde o inicio do filme. Aliás…que inicio FODA! Vou até fazer uma pausa no fluxo da resenha pra falar dele!

O filme começa mostrando o confronto entre Hasashi Hanzo e Bi-Han antes de ambos se tornarem Scorpion e Sub-Zero respectivamente. A cena em que Hanzo mata os guerreiros Lin Kuei é poesia pura e sua luta contra Bi-Han é pra se emoldurar e colocar na penteadeira! Hiroyuki Sanada chuta bundas com seu Hasashi Hanzo pai de família carinhoso e guerreiro frio e experiente e com seu Scorpion sombrio e vingativo. O indonésio Joe Taslim, que ganhou meu coração em Operação Invasão ao lado de Iko Uwais, faz um Sub-Zero frio (com o perdão do trocadilho), implacável, cruel e assustador. De longe, a melhor encarnação do ninja do gelo em uma mídia que não os games. Uma pena que vemos tão pouco de um deles durante o filme. Mas quando os dois se juntam, sai de baixo que o pau vai quebrar com gosto!

Voltando a falar dos “especiais”. Sim, temos fatalities! Todos muito bacanas e muito fieis aos jogos, um deles me deixou com um sorriso de orelha a orelha e só posso dizer que envolve um certo chapéu no chão. No entanto, teve um que foi meio broxante por ser rápido demais e meio sem graça e não ser propriamente um Fatality no jogo mas, sim, apenas um dos golpes especiais comuns do personagem. Mas, no saldo geral, temos violência a granel pra alegria de todo mundo!

Agora, quanto a trama em geral…bem…ela tem aquele clima meio “pastelão dark” do primeiro filme…e eu acho isso ótimo! Antes de mais nada, é preciso lembrar que o jogo foi idealizado pra ser uma versão gore de O Grande Dragão Branco, ou seja, uma história de filme de artes marciais B com sangue e tripas! Aliás, um dos criadores do jogo, John Tobias, além de character design de todos os personagens nos primeiros jogos também escreveu e desenhou algumas das histórias em quadrinhos que serviam de prequel pro jogos no inicio dos anos 90. E por elas é possível ver que o sujeito tinha tudo muito “produção B” e meio “Image Comics” na cabeça dele. Por incrível que pareça, sabe qual a produção mais próxima ao clima das histórias que John Tobias escrevia e desenhava ? Mortal Kombat: Os Defensores da Terra! Sim, aquele desenho PG-13 que passava na Record! Nos quadrinhos tínhamos ninjas pilotando naves, a equipe do Raiden contra a equipe do Shang Tsung se enfrentando a la G.I.Joe e NENHUMA MORTE OU CENA ULTRA VIOLENTA! Quem diria, hein?

Essa página do prequel de Mortal Kombat 2 de 1993 ilustra bem o que eu quero dizer.

Mas voltando ao filme…sim, ele tem essa pegada “pastelona” no que tange a trama, com um clima que mescla o aventuresco e o sombrio. De fato, assim como em muitas produções baseadas em Mortal Kombat, o troneio em si NEM CHEGA A ACONTECER! A trama se desenrola antes dele e tudo fica mais com a cara de “Os Aventureiros do Bairro Proibido”, o que é irônico, ótimo e faz sentido tudo ao mesmo tempo, já que esse foi um dos filmes que serviu como principal fonte de inspiração para Ed Boon e John Tobias. Por falar em tom pastelão, há uma cena GENIAL onde Liu Kang vai treinar o Kano e fica dando rasteiras nele repetidamente até que o Kano diz que não vai cair nessa…mas cai de novo! Essa cena é uma clara referência a galera que apelava pra ganhar a luta nas rasteiras! Quem nunca jogou com alguém que já usou essa estratégia safada pra ganhar as lutas em MK3? E quem nunca USOU essa estratégia safada?

Uma parte que pesa a mão e passa um pouquinho da conta do “pastelão bacana” está em uma cena onde o time do Raiden se reúne em um plano astral neutro pra decidir quem vai lutar com quem. Nessa hora o filme dá uma corridinha e fica meio apressadinho. Mas depois volta a um ritmo bacana.

As cenas de luta estão espetaculares, muito bem coreografadas e de encher os olhos, assim como o visual dos personagens, que consegue ser realista, fiel ao original e espetacular na mesma medida. O visual dos ninjas fala por si só.

Por fim, Mortal Kombat não é nenhuma perola da perfeição e tem seus defeitos, mas o filme entrega o que se espera: Ação desenfreada, lutas espetaculares, violência e alegria. Em termos de fidelidade a história, eu ainda fico com o filme de 1995, apesar de todos os seus defeitos, ainda é um de meus filmes favoritos de porradaria e uma das melhores adaptações de um jogo pra telona ( o que não é difícil, dado o histórico desse filão). Mas esse reboot não fica atrás e ainda traz o que faltou na versão de 1995, que foi o sangue e os fatalities. Termina com um gancho pra sequencia, que certamente virá, e promete melhoras em todos os aspectos (apesar de seguir com Cole Young como protagonista) . Enfim, uma boa adaptação e um filme pra lá de divertido.

Nota: 7,5

PS: É uma bobagem mas eu achei interessante. Obviamente o ator Joe Taslim não fala Japonês, já que é indonésio. Ele até arranha umas frases no inicio do filme, mas depois fala em sua língua natal. A impressão que isso dá, dentro do contexto do filme, é que o clã Lin Kuei é de um lugar distante e gelado, por isso a língua diferente e o domínio do gelo de Bi-Han. É um detalhe bobinho mas que acrescenta muito a história.