Review Retrô: Ruas de Fogo.

Em um outro tempo… Em um outro lugar… Mas com o Willem Dafoe sempre feio…

Neste ultimo fim de semana resolvi que assistiria a um filme. Estava pra ver A Guerra do Amanhã com o Chris Pratt, mas vi que o filme tinha mais de duas horas e ando com preguiça de filmes longos. Então, tomei a decisão que qualquer um tomaria: Ver um filme dos anos 80 de 1:30hr estrelado pelo Michael Paré! Quem nunca parou e pensou “Hmmm…sabe o que seria bom agora? Ver um filme de 1:30hr estrelado pelo Michael Paré!” ? Sim, TODO MUNDO! É a coisa mais normal do universo! Enfim…

Ruas de Fogo foi lançado em 1984 e conta a história de como a cantora de rock, Ellen Aim (vivida pela “MARTHA” de Batman v Superman, Diane Lane) acaba sendo sequestrada pela gangue de motociclistas conhecida como Bombers, tudo porque o seu líder, Raven Shaddock (Willem Dafoe com um visual “Kwabara Masoquista”) achou a moça bela e garbosa ao vê-la se apresentando. Ao ver o sequestro e saber que a policia não dava conta dos Bombers, Reva Cody, a garçonete da lanchonete local, manda um telegrama para seu irmão, Tom Cody (Michael Paré, belo, másculo, mal vestido e tão expressivo quanto um tijolo de 8 furos), ex-namorado de Ellen e atual badass motherfucker de plantão. Os dois se separaram porque Cody resolveu ir a guerra e deixou Ellen pra trás, a qual resolveu se focar em sua carreira e acabou namorado o empresário Billy Fish (Rick Moranis em seu primeiro papel sendo o nerd “pau no cu” e não o nerd gente boa. Ou seja, o nerd de hoje em dia). Sabendo disso, Cody fica puto da vida e diz que só vai resgatar Ellen se Billy lhe pagar 10 mil dólares. Billy aceite a agora Cody vai se unir a McCoy, uma ex-soldado igual a ele e que faz questão de deixar claro que apesar de mulher é mais macho que todo o elenco masculino do filme junto, e ao próprio Billy, que vai servir de guia pro covil dos Bombers, e arrumar uma treta pesada com Raven.

Eu sempre ouvia falar de Ruas de Fogo e a única coisa que lembrava do filme era da música de abertura, Nowhere Fast, cujo a introdução eu sempre confundia com “Take on Me” do A-Ha quando era moleque. Mas, na minha cabeça, ruas de fogo era um filmaço de ação no melhor estilo Máquina Mortífera e Duro de Matar. Qual não foi minha decepção quando há uns 5 anos atrás eu comprei o DVD só pra me deparar com um filme onde a ação não era lá seu forte. O fato de ser dirigido por Walter Hill também fazia essa crença crescer em meu interior, afinal o sujeito dirigiu Warriors: Os Selvagens da Noite, um dos filmes mais frenéticos dos anos 70, e 48 Horas, um baita filme de dupla policial com Eddie Murphy e Nick Nolt. Mas a memória afetiva as vezes engana, e eu reassisti Warriors e continuei achando um filme ótimo e frenético (e antes que alguém com menos de 30 venha dizer “Ain, Hellbolha..esse filme é chato! É ruim! É tosco!”, guarde sua opinião ERRADA pra você e vá assistir os filmes do Snyder), já 48 Horas…que filme lerdo! Acho que todas as cenas de ação dele passavam nas chamadas da Sessão da Tarde de tão escassas. E algo parecido aconteceu quando vi Ruas de Fogo pela primeira vez depois de adulto. Por ser um filme com uma gangue de motociclistas como vilões, achei que teriam perseguições alucinantes, e por ter o Michael Paré segurando um rifle na capa do DVD, achei que teriam longas cenas de tiroteio. Ledo engano! Fiquei decepcionadíssimo. Aí, fui rever agora e…dessa vez eu gostei!

Seguinte, ruas de fogo se vende como “Uma Fábula de Rock and Roll”, e como toda boa fábula, temos a princesa em perigo, o cavaleiro em sua armadura reluzente, o vilão em sua armadura negra e os amigos do herói, que são guerreiros tão valentes quanto ele ou cômicos pra aliviar os momentos de tensão. E eu acho que com isso em mente pensaram “A molecada vai vir ver nossa fábula, então não podemos colocar violência no filme!” então, apesar de carregar um rifle o filme inteiro…Michael Paré NÃO ATIRA EM NINGUÉM! Ele destrói motos, destrói carros, destrói até canos de combustível, mas na hora de enfrentar os vilões, aí é só na coronhada. Acho que nas 1:30hr do filme, só um tiro é disparado contra um ser humano e é na perna. E nem é o Cody quem dispara, é a McCoy!

Eu só não digo que o filme visava as crianças com tanto empenho porque tem uma cena com uma dançarina que acaba usando apenas um fio dental em determinado momento. Mas os filmes pra molecada dos anos 80 eram bem errados também, venhamos e convenhamos…

Dessa vez, com a mente mais aberta, me diverti com o ritmo mais de aventura que de ação do filme. Mas o que ganha o expectador mesmo são os personagens. Esteriótipos levados ao extremo de um modo que transitam entre o carismático e o cômico. Tom Cody é o herói durão e com jeitão “cool” que todo moleque queria (e quer) ser, McCoy é o braço direito do herói que não arrega e até se empolga em se meter em situações arriscadas só pra provar seu valor, Billy Fish é o rico chato que acha que o fato de ter dinheiro lhe dá direito de fazer tudo mas que fica pianinho quando o confronto passa do verbal pro físico, Raven é o vilão com o jeitão debochado e que não tem medo de nada nem de ninguém pois sabe que todos tem medo dele, e a Reva e a irmã gente boa do herói. Apesar de nem todo o elenco ser um poço de talento na atuação (COFCOFMICHAELPARÉCOFCOF), os personagens funcionam. E os que não funcionam em inglês, a maravilhosa dublagem brasileira dos anos 80 com suas liberdades, salva (COFCOFMICHAELPARÉDENOVOCOFCOF).

O filme, como toda fábula, se passa em outro lugar e em outro tempo, como é deixado bem claro no inicio do filme. E isso fica ainda mais claro na mescla dos anos 50 com os anos 80. O visual da cidade e os carros gritam anos 50, mas as músicas e as roupas de alguns personagens, além dos neons, berram anos 80. A versão do filme pra cidade de Richmond, inspirou a Gotham de Tim Burton. Mas essa não foi a única inspiração que o filme causou. O jogo Final Fight da Capcom tem MUITA coisa baseada no filme. As maios óbvia são o nome e visual de um dos protagonistas, o Cody, que é baseado no…bem…no Cody! Tem também um personagem que usa um macacão idêntico ao do personagem de Willem Dafoe. isso sem falar no plot de resgate da mocinha sequestrada que precisa ser resgatada.

As músicas são um show a parte! Com os vocais originais de Laurie Sargent e Diane Lane fazendo apenas o lipsync (mas de deixar RuPaul orgulhosa), Nowhere Fast, música que abre o filme, e Tonight is What it Means to be Young, música que encerra o filme, são verdadeiras obras primas de uma ópera rock. Porém, as músicas do filme guardam uma curiosidade! Todas foram compostas por Jim Steinman, que era compositor de ninguém, ninguém menos que Meat Loaf. Não a toa, o próprio Meat Loaf lançou uma versão de Nowhere Fast.

Os planos de Walter Hill envolviam uma trilogia com Cody como protagonista chamada de “As Aventuras de Tom Cody”. Os próximos filmes se chamariam “The Far City” e “Cody’s Return”. Porém, como grande parte dos filmes dos anos 80 que se tornaram clássicos ou cuts, o filme foi um fracasso de bilheteria em sua época, custando 14,5 milhões e arrecadando pouco mais de 18 milhões ao redor do mundo. Sua recuperação veio com as vendas de home vídeo, mas isso já não animava o estúdio a apostar numa sequência, apesar dos roteiros e Walter Hill estarem prontos.

Mas eis que em 2008 o diretor Albert Pyun, de “pérolas” como Cyborg: O Dragão do Futuro, Kickboxer 2: A Vingança do Dragão e do Capitão América com orelhas de porcelana dos anos 90 resolve dirigir uma sequencia não oficial de Ruas de Fogo. Estrelado por um Michael Paré cinquentão e com o uso exagerado de chroma key nojento, claramente inspirado por Sin City de 2005, Road to Hell conta uma nova e tosquíssima aventura de Tom Cody. O filme é tão merda que ele foi finalizado em 2008 mas só foi lançado em 2012. Eu não vi, mas julgo o quão horrendo deva ser por esse trailer agressivo aos olhos!

Enfim, Ruas de Fogo é um filme divertido, cheio de aventura, personagens carismáticos, muito humor e quase nenhuma violência (nem na luta final com as marretas, que é uma baita de uma ideia). Só não digo que é pra toda a família assistir junta porque ficaria um clima chato na cena em que a dançarina (que foi dublê no filme Flashdance) fica semi-nua usando apenas um fio dental e talvez gerasse desconforto também no momento em que pra convencer Ellen de não segui-lo, Cody lhe mete um murrão na cara pra ela desmaiar. No mais, assista despretensiosamente e você vai se divertir.

Nota: 8,0