Review Requentado: Body Bags-Os Caça-Corpos! Sangue, tripas e diversão!

Direto do fundo mofado do baú.

Recentemente, mexendo em e-mails antigos, acabei encontrando alguns posts que mandava pro QUERIDÍSSIMO Ckreed quando eu ainda estava pra ser efetivado no falecido Baile dos Enxutos (quer dizer,presumo que esteja falecido, mas não vi o corpo, então…). Lembro que no primeiro post que escrevi eu queria falar de quadrinhos mas sair um pouco do que estava sendo comentado na época, que eram as mudanças dos Novos 52 e do Marvel Now, e voltei um pouco no tempo pra falar de uma HQ que eu ADORAVA mas que pouca gente conhecia, o resultado foi o post a seguir, obviamente editado pra não ficar datado. Então, vamos lá:

Bem, estou adentrando esta pocilga para abrilhantar suas deploráveis vidas com saber e conhecimento…só que não! E para começar este serviço (que executo muito bem, diga-se de passagem…) vou falar de um clássico dos quadrinhos de Toilet! Uma história que tem a profundidade de um pires e a densidade psicológica de filme do Steven Seagal, sem falar que é a melhor história sobre os Dia dos Pais que já li. Sim, jovos e jovas…em tempos de Dan Slott e reboostas DCnicas irei correr contra a maré e voltar para o longínquo ano de 1999, quando chegava as bancas brazucas o que, pra mim, é a obra suprema de Jason Pearson. Trata-se de Body Bags: Os Caça-Corpos!

“Mas tio Hellbolha…oque é isso? Como se come? Pode molhar no café?” você pergunta, ó virginal leitor! E eu vos respondo: Body Bags se passa num futuro não tão distante, na cidade de Terminus na Georgia, onde caçadores de recompensas são legalizados e tem até empresa privada.  É nesse cenário “a la Cowboy Bebop” que acompanhamos dois caçadores de recompensas bem “peculiares”, Mack, conhecido pela simpática alcunha de “Palhaço” (Clown Face no original) capaz de atirar facas como se fossem mísseis, e Iran “Vovô” Sekula, que tem uma mira tão infalível, mas tão infalível que é capaz de acertar um calango na corrida(e, acreditem,isso não é fácil)! Tudo corria as mil maravilhas, com mortes e dinheiro a granel na vida dos dois, até que um mala chamado Janus, de uma empresa de Caça-Corpos concorrente, explode o escritório de ambos, matando a noiva de Vovô e o deixando com um ferimento na cabeça o que o obriga a usar um tipo de boina de metal pelo resto da vida. Os dois, “obóviamente”, querem vingança contra o vagabundo do Janus. E a história começa exatamente daí, com uma cena de perseguição do Palhaço ao Janus com a fúria de mil siris numa lata de querosene. Aliás, é até de se causar estranheza pra quem leu as “perolas” dos anos 90, pois a cena tem uma narrativa bem detalhada e não era aquele troço preguiçoso e massavéio onde uma splash page era seguida de um monologo mental  de mil palavras do personagem, coisa tão comum nas revistas Marvel/Image/ DC na época. Enfim…

Após conseguir desfigurar Janus, Mack é surpreendido por uma explosão acidental de um carro e Janus consegue fugir. Ao voltar pra casa e ouvir as reclamações de Vovô sobre como vingança não paga as contas, Mack tem uma “surpresinha”…sua filha, Panda, veio passar uns dias com o papai! E o pior: Além de ser uma psicótica do caralho, a minazinha quer seguir os passos do papai! E daí pra frente é porradaria, violência, vingança e muita ação!

O tocante reencontro entre Mack e Panda é cheio de carinho…
…e ternura paternal.

Como eu já disse, Body Bags não é uma HQ que quebrou paradigmas e fez milhões de pessoas lambuzarem os ovos de Jason Pearson como os Watchmans e Cavaleiros das Trevas da vida (duas obras que, como todos sabem, são datadas…), mas no ano em que foi lançado lá fora (1996) , com certeza quebrou paradigmas sim! Em uma época medonha, onde o lixo imperava nas bancas e decisões editoriais burras eram tomadas como quem toma uma Coca gelada (não muito diferente de hoje em dia…) Jason Pearson mostrou que a narrativa nas HQs não precisava se resumir a uma página de um desenho só, cheio de som e fúria, mas que tinha que ser explicado nos balões de texto pra se entender o desenho. Um ótimo exemplo é a cena que citei lá em cima, onde o Palhaço desfigura a cara do Janus. Seguindo uma narrativa mais cinematográfica, Pearson distribui uma cena simples em vários quadros, o que dá uma sensação de passagem de tempo fantástica! Se fosse desenhada por um…sei lá…Jim Lee qualquer, teríamos uma Splash Page com o Palhaço dando o golpe e o nariz do Janus voando no mesmo minuto e um monologo mental do Palhaço sobre o que estava acontecendo na cena, sobre o porque dele estar ali e se ele tinha mesmo fechado a porta antes de sair de casa!

A arte de Pearson é um espetáculo a parte! Com um estio bem próprio, Pearson foge do que era cânone na época e faz um trabalho espetacular! Nada daquelas tosqueiras Marcfalenicas ou bizarrias Liefeldicas. Com um traço limpo e extremamente bem definido, Pearson faz  um Palhaço que mostra que é durão sem precisar trincar os dentes e fazer poses com mil trabucos em mãos pra isso, faz uma Panda sexy e engraçadinha ao mesmo tempo e um Vovô que passa aquela sensação de “to velho demais pra isso” e não tem um físico igual ao do Hulk, como alguns desenhistas costumavam fazer com o comissário Gordon no Batman por exemplo! Cof, cof…JIM LEE..cof,cof…

Comissário Gordon ou Leon S. Kennedy depois de deixar o bigode crescer.

Assim como narra pequenos diálogos muito bem, Pearson também capricha nas cenas de ação!. Não espere ver a Panda simplesmente dando “voaderas” de pernas abertas. Pearson coreografa a ação tão bem que você sente a fluidez no movimento dos personagens e, mais uma vez, ele não economiza quadrinhos pra isso!

Quanto a história…sim, ela é simples. Mas é divertida bagarai! Com diálogos muito bem bolados e um humor negro Tarantinesco, a história consegue te prender do inicio ao fim. Duas cenas são antológicas : a primeira é logo no inicio da história, quando Mack/Palhaço vai atrás do Janus na casa de um traficantezinho de merda chamado Tiziu e a cunhada do elemento atende a porta com toda a gentileza do mundo dizendo “Porra! Se ser humano normal precisa de sono de beleza, tu precisa dum coma!”, e após responder se o tal Tiziu tá em casa, leva uma biaba nas fuças do Palhaço que faria Sean Connery se orgulhar!

A segunda é quando panda é assediada pelo filho 04 pegador de condomínio de algum ricaço num avião que acaba mexendo nos “atributos” da moça. O resultado? Duas aeromoças procurando os dentes do moleque pelo chão da aeronave.  O único problema é a história ser tão curtinha e deixar um gostinho de quero mais no final. Esse desejo seria saciado muito brevemente em 2006 numa revista chamada Body Bags : 3 The Hard Way, com 3 histórias curtas desenhas por Pearson em estilos diferentes e Body Bags: One Shot de 2008, com Pearson já com um traço bem diferente e mais facilmente reconhecível pra quem leu X-Men em meados de 2010 e Deadpool: A Guerra de Wade Wilson.

Em 2018 foi anunciado que a HQ ganharia uma adaptação para o cinema estrelada por David Bautista no papel de Mack. Obviamente a noticia me animou e continuo torcendo pra que o projeto siga em frente, olhe para o lado, se ligue no mestiço, na ba… digo… e que seja fiel e renda um bom filme. Obviamente que com a pandemia e o atraso nas produções hollywoodianas pode ser que demore, mas se acontecer esse vai ser o segundo filme de personagens que eu gosto que nunca imaginei ver nas telonas. O primeiro foi Deadpool.

Pois é isso, meu povo e minha pova! Em  tempos de fases estranhas na Marve e DC e de a melhor opção é procurar por uma coisa mais leve, com algumas tripas e porradaria louca e alucinada descompromissada mas com coerência. E Body Bags-Os Caça-Corpos é uma ótima pedida! Ela foi lançada no Brasil em duas edições contendo os 4 volumes originais com a história chamada “Dia dos Pais” e, mais tarde, a Mythos encadernou e relançou. E ambas as verões podem ser encontradas baratinhas pela internet, com preços que variam de 3 à 10 reais (inclusive minha mão coça até hoje pra comprar o encadernado da Mythos que ganhou uma capa preta muito bonita). Então fica a dica: Body Bags-Os Caça-Corpos, HQ que diverte, engorda e faz crescer!