Review Mistico: O Divino.

Aquela HQ que você descobre MUITO por acaso.

Esse é o caso de O Divino, publicação da editora Novo Século pelo seu selo de quadrinhos Geektopia. Descobri essa HQ completamente por acidente enquanto estava colocando Dororo (o qual resenhei aqui) e Street Fighter Alpha no carrinho em um certo site de compras. A HQ apareceu entre as indicações e sua arte de capa já chamou minha atenção, bem como o valor, que ficava por menos de R$13,00. Uma rápida pesquisada sobre, uma olhada em algumas páginas e um “quem mal pode fazer?” depois, ela estava no meu carrinho. Agora só restava ler e ver se todo o potencial que tinha visto nela realmente estava lá.

Pois bem, antes de mais nada, deixe-me colar a sinopse oficial aqui, já que se eu mesmo a der vou me estender demais: Quanlom é um país obscuro do sudeste asiático atrelado a uma cruel guerra civil; Mark é um ex-militar do Texas, especialista em explosivos, com um trabalho sem perspectivas e um bebê a caminho. Quando seu velho amigo Jason propõe um contrato militar lucrativo no Quanlom, Mark acaba se comprometendo com muito mais do que esperava. Em um lugar onde minas terrestres e espíritos antigos existem em igual medida, os dois homens devem escolher os seus aliados com cuidado, a fim de sobreviver.

Agora vamos as minhas considerações. Escrito por Boaz Lavier e com arte dos irmãos Asaf e Tomer Hanuka, O Divino é uma HQ de beleza incontestável, mas de roteiro que decaí no decorrer da história. A trama de Boaz Lavier nos apresenta muito bem seus personagens. Conseguimos nos apegar com facilidade a Mark, um personagem inseguro e com medo de não conseguir prover uma vida melhor para sua mulher e seu vindouro filho. Conseguimos nos apegar também a Jason, o militar fanfarrão e filho da puta clichê mas que nunca perde a graça. A amizade de ambos é crível e a história segue extremamente interessante…até eles irem para Quanlom, que é onde a história deveria deslanchar de vez, mas acaba por não acontecer.

Não entendam mal, a história segue com mais alguns bons personagens e boas propostas, mas parece não explora-las pelo “pouco” espaço contido nas 160 páginas disponíveis. Quando os irmãos gêmeos Luke e Thomas de 12 anos aparecem como chefes de uma milicia de crianças guerrilheiras, eles ainda te cativam, mas a história precisa correr e isso afeta demais seu apego a eles. Isso não é um spoiler, já que é uma das primeiras coisas estabelecidas assim que os gêmeos aparecem, mas Thomas tem poderes paranormais e isso gera uma série de perguntas sobre eles que jamais são respondidas. Além disso, dada a velocidade da história da metade para o final, muitas possibilidades que esse fato poderiam desencadear são desperdiçadas.

O final da trama é previsível e um elemento (não tão) surpresa só é revelado nos momentos finais da trama, mas o ritmo corrido tira todo o impacto da revelação. As lamentações quanto ao potencial desperdiçado só aumentam em uma das páginas finais da HQ que é um tipo de mini-extra, onde nos é revelado que a inspiração para a história veio de uma foto tirada em 2000, onde aparecem dois garotos de 12 anos, Johnny e Luther Htoo, que eram irmãos gêmeos e, junto ao exército tailandês, tomaram um hospital e mantiveram 800 pessoas como reféns. Ao redor desses garotos giravam várias lendas, como serem a prova de balas e terem poderes místicos. Talvez se a história se focasse um pouco mais em suas contrapartes, Luke e Thomas,  intercalando capítulos com Mark e Jason, quem sabe todo o potencial poderia ter sido explorado e até sobrepujado o final clichê.

Os gêmeos Johnny e Luther Htoo e um retrato do que a guerra é capaz de fazer. Crianças de 12 anos parecendo 50 anos mais velhas.

A infância destruída representada pela belíssima arte de Tomer Hanuka.

A HQ, lançada em 2016, mostra que a Novo Século parece ter usado a Mythos como referência, já que o preço de capa original era de R$59,90 (no Guia dos Quadrinhos, por alguma razão, está erroneamente marcado como R$37,00) em uma história quase que totalmente desconhecida, criada por autores quase que totalmente desconhecidos dos leitores de quadrinhos habituais e com apenas 160 páginas. Não é de se estranhar, então, encontrá-la tão barata hoje em dia em sites especializados em vendas de livros e quadrinhos, já que o encalhe deve ter sido violento. No mais, o material é de boa qualidade, graficamente falando. Ah, e tem capa dura pra quem não pode ver dois pedaços de papelão recobrindo páginas de quadrinhos que já quer comprar!

Se eu recomendo? Sim! Se você achar uma promoção legal, como achei, pegue sem medo! Apesar de ter uma história corrida e com momentos finais pra lá de clichê, a arte dos irmãos Hanuka é de encher os olhos e a história não chega a ser uma tragédia. É apenas uma leitura rápida e divertida. Mas, lembre-se: SÓ SE FOR EM PROMOÇÃO! Ela não vale os R$59,90 originalmente cobrados! NUNCA!

Nota: 7,0