Review Geladinho: As Crônicas da Era do Gelo

O mangá em dois volume cujo título só faz sentido no primeiro.

A editora Pipoca e Nanquim ( advinda do canal Pipoca e Naquim ) lançou em 2021 o mangá As Crônicas da Era do Gelo de Jiro Taniguchi em 2 volumes. Jiro Taniguchi, pra mim, é aquele autor cujo nome parece familiar mas você não lembra de onde, sabe? E depois de dar uma pesquisada nas obras do sujeito, percebi que não o conhecia de lugar algum! Era só impressão mesmo.

Porém As Crônicas da Era do Gelo não é o primeiro mangá do autor publicado no Brasil. A Panini, a Conrad e a Devir já publicaram obras do autor antes, sendo está ultima a colecionar a maior quantidade de títulos do sujeito lançados. No entanto, o que ouvi de Jiro Taniguchi é que muitos dos seus mangás são obras mais “contemplativas”. Bem, muita gente diria que são CHATAS MESMO, como o HILÁRIO caso do rapaz que reclamou que O Homem Que Passeia era só sobre…UM HOMEM PASSEANDO, vejam vocês! Não é um mangá pra todo mundo e custar R$55,00 deve ter dado mais ódio ainda neste jovem. Então As Crônicas da Era do Gelo já se mostrava como uma obra diferente do estilo do autor, já que tinha aventura, ação e ficção cientifica. Fiquei curioso com as capas e com a arte que lembra DEMAIS Akira, mas só fui ler recentemente e eis minhas impressões. Bem, logo após essa pequena sinopse tirada do site do próprio Pipoca e Nanquim:

Em uma época indeterminada no futuro, o clima enlouqueceu e o planeta foi devolvido à Era do Gelo. As potências mundiais como as conhecíamos deixaram de existir. Algumas criaturas se adaptaram à nova realidade para continuarem perseverando, ao passo que os seres humanos, mais do que nunca, passam a depender da tecnologia para sobreviverem à natureza implacável. É neste cenário desolado que acompanhamos a trajetória de Takeru Yamato, funcionário da estação mineradora Talpa, incumbida pela capital Abyss de coletar recursos naturais que se encontram muito abaixo da superfície. Depois de um acidente, ele é obrigado a se tornar comandante de um bravo destacamento que precisará cruzar o deserto congelado em busca de respostas para súbitas alterações climáticas. Uma jornada que o colocará em contato com deuses gigantes vindos do espaço!

Pra começar, eu devo confessar que as capas, a sinopse e até o título do mangá me engaram MUITO! Quer dizer, o primeiro volume tava caminhando dentro do que eu esperava, com uma trama onde problemas com o frio extremo faz com que alguns problemas aconteçam com alguns dos funcionários da estação mineradora subterrânea tentem sair e um acidente força o protagonista, Takeru, e uma equipe saírem em seu resgate numa perigosa escalada. Mas passado isso e terminando o primeiro volume, a trama dá um giro e a coisa toda toma um rumo completamente clichezento e incomodamente apressado!

Vou tentar não dar spoilers sobre a trama do mangá mas vou dizer o que eu esperava baseado no título, na capa e na sinopse. Na minha cabeça, durante as escavações da estação mineradora Talpa, uma nave ou raça alienígena seria encontrada, levada pra dentro da estação, acordaria e começaria uma caçada aos funcionários do local, com Takeru tendo que revidar pra sobreviver. Nisso, seria revelado que a nave ou algum aparato desses seres seria a responsável pela antiga era do gelo e um mal funcionamento enquanto eles estavam em um tipo de hibernação, por essa nova. Seria clichê também? COM CERTEZA! Mas qualquer clichê e mãos abeis pode render tramas grandiosas! Porém, não é nada disso que acontece! A raça alienígena existe? Sim! A participação dela é grande na trama pra justificar estar nas capas do mangá? Não! Aliás, sua participação é tardia e a sua inserção é até incomoda, tendo em vista que aparece em um momento onde a trama vai de uma proposta pra outra de um jeito que, pra mim (novamente), não encaixou bem!

Ainda tentando não dar spoilers, preciso falar dessa tal mudança! O nome do mangá é As Crônicas da Era do Gelo, certo? Porém, já no fim do primeiro volume, descobrimos que o clima enlouqueceu por alguma razão e um degelo generalizado está acontecendo no mundo! Ou seja, não há mais gelo nas Crônicas da Era do Gelo! Não vou nem mencionar o fato de que, se o mundo estava coberto por gelo e ele derreteu ele deveria estar coberto por um grande oceano agora mas, ao invés disso, vira uma grande Amazônia! Mas vou mencionar o fato de que a mudança de uma aventura com toques de suspense em uma espécie de prisão num buraco congelado seria mais empolgante que uma aventura shonen comum que lembra DEMAIS um filhote que nasceu da cruza de Nausicaa e Akira. Também vou mencionar elementos jogados na trama como se fossem ter uma importância fundamental pra ela mas são completamente ignoradas até em momentos chaves, como o misterioso bracelete que pertencia a sua mãe e que Takeru recebe de seu pai, o prefeito de uma das poucas cidades ainda erguidas na superfície do gelo. Também vou mencionar personagens que pareciam ter sua introdução encurtada pra traze-los de volta em um momento chave da trama, mas que são apenas sumariamente ignorados mesmo, como os Piratas do Gelo. E também vou mencionar a quantidade de momentos claramente “inspirados” por Nausicaa e Akira que beiram o “copiados”, que são muitos e as vezes até alguns enquadramentos e cenas são incomodamente similares tanto ao mangá quanto ao anime Akira.

Cabe também mencionar o final, extremamente corrido e mal desenvolvido. Eu já não estava achando grandes coisas do mangá nesse segundo volume, mas sinto que dava pra contar bem mais. O próprio Taniguchi diz que problemas editoriais o forçaram a acelerar a trama e deixar muita coisa de lado. Isso iria acabar com a sensação incomoda de “Já vi isso em Akira”? Não! Mas poderia ser algo mais palatável, com certeza!

Ainda batendo na tecla das similaridades, Taniguchi diz que uma de suas grandes influências é Moebius. Em As Crônica da Era do Gelo eu só consegui identificar essa influência em uma nave gigante que aparece no segundo volume cujo design FEDE a Moebius e nas texturas aplicadas as florestas vistas de cima. Mas fica mais do que claro em quem bate o olho de imediato nos desenhos que Katsuhiro Otomo é uma influência GIGANTE no traço de Taniguchi. Desde o estilo de desenho, passando pela aparência de alguns personagens e chegando, finalmente, a sequencias muito similares a Akira, seja o anime ou o mangá.

A nave “estilo Moebius”.

Enfim, As Crônicas da Era do Gelo tem um bom inicio ( bem lento, diga-se de passagem), mas descamba pra uma sucessão de clichês muito rapidamente. Não é um mangá que me viria a cabeça na hora de fazer uma recomendação, mas não diria que é horrível ou mesmo ruim. Diria que ele não tem metade da grandiosidade que tentam vender quando falam nele. É um mangá mediano mas não vale pagar R$110 nos dois volumes. Caso tenha ficado curioso e queira lê-lo, espere uma promoção na Amazon, não raramente ele cai pra casa dos R$30,00 por lá. Então, pra As Crônicas da Era do Gelo, eu dou uma:

Nota: 6,0

PS: Após concluir As Crônicas da Era do Gelo no começo dos anos 90, Taniguchi começou um mangá sobre alpinismo chamado “K”, talvez empolgado pela sequencia de escalada no inicio de As Crônicas da Era do Gelo. “K” é um mangá com tom mais aventuresco mas o mais curioso é que ele gerou um LINDÍSSIMO longa animado produzido na França que joga todo o plot do mangá no lixo pra dar espaço a uma história mais realista e emocionante. O nome do filme é Viagem ao Topo da Terra, está disponível na Netflix e eu já resenhei e você pode ler essa resenha clicando AQUI.